CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

Espalhou-se na cidade que Bernadete estava fazendo uma coisa muito
diferente com a filha dela, que virava a menina do avesso, que ia matá-la, que
estava perdendo as faculdades mentais, que enlouquecera porque nha a
pretensão de dizer que a filha ia andar.
O trabalho de rastejar era feito diariamente em casa. Eram 900 metros que
a menina precisava percorrer, quase sempre a contragosto. Perto dali, a
superintendente do Sesi (Serviço Social da Indústria), ciente dos acontecimentos,
resolveu ir até a mulher que tantos comentários provocava. Poucos minutos de
caminhada e foi barrada por um bilhete no portão: Por favor, não me
interrompam. Estou fazendo um trabalho no cérebro da minha filha. Não posso
parar. Muito obrigada.
A procura repeu-se até o dia em que não encontrou mais o curioso recado.
Bernadete abriu as portas de sua casa e, após uma explicava conversa, deixou a
visita completamente encantada com o trabalho que vinha fazendo. Na semana
seguinte, a superintendente mandou uma equipe de quinze profissionais ao Rio
de Janeiro fazer o curso de reorganização neurológica para que entendessem a
importância do chão para as crianças.
Com novos aliados Bernadete teve mãos sobrando para ajudá-la nos
exercícios com Charloe. Todas as manhãs um grupo de cinco funcionários ia até
sua casa. O Sesi colocou não só essas pessoas como também um espaço sico a
sua disposição. Bernadete ganhou uma sala.
O chão estava sempre limpo às sete da manhã, pronto para receber as
lágrimas de Charloe, o suor de Bernadete, as lágrimas de Bernadete. Uma
estante guardava o material usado na esmulação da visão, da audição e do tato.

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