Sabe-se que para se tornar contador de histórias é preciso contar. E, parte do
que forma o ser humano, a narrativa é inerente a todos. Porém, é discutível essa
livre apropriação do termo quando se parte para a análise da atuação do que se
chama “contador profissional”. Desta forma, não basta apenas contar
intuitivamente, e esperar que tudo encontre seu lugar no contato com o ouvinte. É
preciso saber o que se está fazendo, com responsabilidade e treino.
Colocar a linha na agulha e dar pontos para coser é atividade que pede certa
habilidade, uso dos sentidos, atributos aprendidos em casa. Usa-se a técnica para
remendar uma meia furada e, assim, dar conta de sua função. Mas, alguns
aprendizes desenvolvem constantemente essa habilidade, repetem sua prática,
aprimoram e criam novas costuras. Também há os que não receberam esse
aprendizado no convívio familiar e, por algum impulso e identificação com aquele
ofício, adquirem conhecimento, técnicas e se aventuram a explorar seus métodos.
Ambos, cientes do que estão fazendo, costurarão novos pontos, criarão novas
padronagens, irão além da função de juntar uma parte de tecido à outra por meio da
costura.
O contador de histórias contemporâneo é um artista e, como tal, estuda,
recria, pesquisa e faz uso do que caracteriza qualquer arte: um conjunto de técnicas.
Realiza seu trabalho por meio de espetáculos de narração, com repertório
selecionado e aprimoramento de técnicas cênicas. O cuidado com a arte é tamanho
que chega a se misturar com o teatro e, muitas vezes, torna-se impossível e
irrelevante dissociá-los.
Nem mesmo técnicas primordiais da contação como a troca de olhares com
a plateia distinguem uma arte da outra, pois o teatro também pode romper o que se
chama de “quarta parede”. A voz dada por personagens, em primeira pessoa, tão
própria do teatro, é usada como recurso estilístico na contação. Há casos em que o
narrador se utiliza totalmente de um personagem para contar a história. Incorpora
gestos, voz e corpo deste, e também vestido dele, interage com os ouvintes. Muitas
vezes, no conto escolhido está o personagem-narrador ou algo que se relacione a
ele. Em outras, o contador assume uma personificação que lhe acompanhará em
todas as suas narrativas.
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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