localização exata para os acontecimentos da história. Pensei que ao mencionar os
nomes dos locais, sendo estes incomuns no repertório e conhecimento geral das
pessoas, principalmente das crianças, causaria certa dispersão do conto para a
elucidação ou assimilação da informação.
Levando-se em conta que o texto dito ocorre num tempo breve e que não
permite ser retomado pelo receptor, acabo optando por ocultar dados que possam
gerar desvio de atenção e que não sejam substanciais à narrativa central. No caso
de informações essenciais e que possam gerar dúvidas ou estranhamento pelo seu
significado, geralmente abro uma brecha na história, como um adendo, para
esclarecer. Desta forma, a contação flui e exerce também função instrutiva.
Este conto, por sua repetição de tragédias, tende a antever a reação da
plateia. Em algumas apresentações que realizei, principalmente na passagem que
indica o segundo naufrágio, alguns ouvintes se manifestaram com pesar, indignação
e até impaciência frente ao que viria a ser narrado. Acredito que cabe ao narrador
se apropriar dessas exteriorizações e usá-las como integrantes de um novo texto ou
mesmo um gesto, uma expressão no rosto. Quando alguém exclama “não acredito”,
por exemplo, podemos concordar e emendar com “Fátima também mal podia
acreditar”.
Das histórias selecionadas verifiquei que esta tinha o tom mais melancólico
e o ritmo mais lento, por isso optei por ser a primeira do roteiro. Gosto de trabalhar
de forma decrescente com relação à duração, pulsação e interatividade, em oposição
à disposição e energia da plateia.
Outro fator que elegeu este como o primeiro conto do espetáculo foi um
encadeamento de subtemas presentes em todos os que foram selecionados: o fio que
gera o tecido, que gera a vestimenta. Assim, como representação dessa série, temos
neste o ofício da fiação e a figura da fiandeira, que dá título à narrativa. Adiante o
tear também é citado no enredo e será evocado no primeiro texto de “costura”, que
conduzirá ao conto da tecelã de brocados.
Linhas tramadas formam tecidos. Para se fazer um tecido é necessário
um instrumento muito grande chamado tear. Hoje em dia as fábricas de tecido
utilizam teares mecânicos, movidos por um botão ou programa de computador.
Mas até bem pouco tempo e por muitos séculos, os teares eram manuais.