encontra-se sobre a cadeira. De lá, eu o retiro para incorporá-lo ao movimento do
brocado sendo levado ao céu e para transformá-lo em dois objetos que integram a
fala da velhinha. Um deles serve para auxiliar a composição desta personagem, que
resolvi trazer com fala em primeira pessoa, voz e postura alteradas, de modo teatral.
Ao incorporar a velhinha, coloco o lenço sobre a cabeça e o seguro abaixo do
queixo. No final de sua fala, quando se refere à possibilidade de o moço não aceitar
o desafio, o lenço sai da cabeça e forma um saco, que seguro com uma das mãos e
balanço, para sugerir a presença de moedas de ouro em seu interior.
O gesto nessa história fica abundante quando narro a levada do brocado aos
ares, por duas vezes, e quando ele desce pairando no final. Também no primeiro
episódio, quando o tecido é soprado pelo vento, uso os braços para recriar a noção
de distância, o olhar fixo ao longe e reproduzo vocalmente o som sibilante. A
interrupção dessas ações (corpo estático e silêncio) conduz à conclusão do que
ocorreu, ou seja, que o brocado desapareceu.
Da versão pesquisada para base do texto criei descrições mais detalhadas
para a paisagem do quadro, com o intuito de que, ao trazê-las novamente no final,
pudesse reforçar a transformação da paisagem pelo momento mágico.
Esse conto tem ainda o atributo da repetição, por isso, para que cada
orientação da velhinha não ficasse exatamente igual, dando mais potência à
performance e não sendo totalmente previsível, optei por apresentá-las em formatos
distintos. A primeira fala da velhinha tem a finalidade de informar com clareza
sobre os procedimentos que deverão ser realizados para resgatar o brocado. Nela,
tudo é novidade, por isso há necessidade de precisão no discurso e tempo para a
plateia absorver os estranhamentos. Na segunda vez em que ela diz sobre as etapas
a serem seguidas, o intuito é reiterá-las, reforçá-las para o ouvinte, por isso acontece
o resgate das mesmas locuções e gestos. Já no terceiro momento, sabendo que mais
adiante quando o personagem vai cumprir as direções dadas e em que elas
novamente serão narradas, escolhi usar a terceira pessoa em vez de mais uma vez
interpretar a velhinha. Somente na frase final, quando ela oferece o saco com
moedas ao filho mais novo, exibo-a mais uma vez por meio de sua voz e gesto.
O lenço é usado nessa contação como objeto-símbolo ao estar sobre a
cabeça, identificando a personagem. Em sua terceira fala, como é feita em forma de
narração e não discurso direto, uso o lenço sobre a mão, reproduzindo a figura da
velhinha, pois nesse momento, a plateia já compreendeu do que se trata.
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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