Linhas e Tramas

(Casulo21 Produções) #1

A costura só é interrompida quando cito o panô que está no fundo do
cenário, pois me viro para admirá-lo e, consequentemente, conduzo o olhar da
plateia para ele.
Ao final desse texto, relato sobre os trabalhos feitos com retalhos, o que leva
ao assunto do próximo conto. Essa relação é exposta, como uma lembrança surgida
naquele instante.


Khaim morava numa casa muito simples e velha, com frestas nas
paredes e furos no teto. Vivia ali com sua esposa e dois filhos. Eram tempos
difíceis e Khaim não conseguia trabalho em lugar nenhum. Já tinha se
oferecido para fazer de tudo, mas ninguém lhe dava emprego. O único sustento
da família vinha de uns bicos que a esposa fazia, lavando roupas para fora.
Cansado de ver sua família passar necessidades, Khaim tomou uma
decisão: iria sair mundo afora a pedir esmolas. Vestiu o único casaco que tinha,
já bem surrado, para se proteger do frio que chegaria. Calçou o único par de
botas que possuía e levou consigo apenas um violino, que havia ganhado de seu
pai quando criança, para lhe fazer companhia.
Khaim partiu, caminhou muito, atravessou cidades. Dormia ao relento,
comia o que encontrava. Chegou então numa pequena cidade. Sentou-se no
banco de uma praça e começou a tocar seu violino. Era uma melodia triste e
melancólica, afinal era assim que se sentia, longe de sua família. Logo uma
senhora que por ali passava, ao ouvir a música parou para escutar. Ela
lembrou-se se sua infância, e sorriu. Deu a Khaim alguns trocados como
agradecimento. Minutos depois um velhinho de bengala, parou para apreciar
a melodia que saía do violino de Khaim. E lhe deu algumas moedas. O tempo
foi passando, horas e dias, e Khaim ia ganhando moedas e algumas notas de
dinheiro com a música que tocava.
Khaim se dirigiu para outra cidade, e depois outra, e outra. Sempre tocando
seu violino e ganhando alguns trocados.
Muitos meses haviam se passado. Khaim estava com seus bolsos cheios
de dinheiro. Com medo de perdê-lo, já que dormia ao relento, teve uma ideia
ao passar em frente a uma alfaiataria. Viu uma caixa na calçada com vários
restos de tecido. Pediu ao alfaiate agulha e linha. Assim, costurou no seu velho
casaco vários retalhos. Ele costurava um lado, depois outro e outro, formando

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