surgiu da insatisfação pelo faleci-
mento de Flora Rodrigues, sua
filha, que morreu em decorrência
de um câncer no cérebro.
Somado ao luto, Deus Ainda É
Brasileiro nasce em meio a um dos
momentos políticos mais compli-
cados que o Brasil já enfrentou
até então. Nos quatro anos de go-
verno do, agora, ex-presidente da
República, Jair Bolsonaro, a in-
dústria cinematográfica teve que
enfrentar uma barra pesada em
meio aos cortes de investimentos
- como os 43% de redução do
Fundo Setorial do Audiovisual,
em 2019.
"Por pouco, se as eleições não
tivessem tomado o rumo que to-
maram, eu teria que mudar o tí-
tulo, pois o "ainda" perderia o
sentido, uma vez que essa palavra
simboliza nossa resistência, ao si-
gnificar um 'apesar de tudo, se-
guimos'. Mas a gente saiu do su-
foco. Agora, no cinema, não nos
cabe inventar um Brasil novo e,
sim, descobrir que país ele é ou
pode ser", desabafou Diegues, em
uma coletiva de imprensa realiza-
da na Associação Comercial de
Maceió.
Imbuído desse senso crítico,
Antônio Fagundes complementa
e diz que a nova produção, que
volta à mitologia de Cacá para
uma nova aventura envolvendo
Deus, abre espaço para a reflexão,
após o conturbado momento que
o país passou.
"Nos últimos quatro anos, a
gente percebeu que não conhe-
cia o Brasil tão bem quanto a-
creditava. Tanto é que vivemos
divididos, gerando uma massa
desconhecida. É hora de refle-
tir", disse o intérprete do Senhor.
Conhecido pela mistura de
gêneros em suas produções, o
diretor alagoano voltou a pri-
orizar majoritariamente a comé-
dia - assim como o antecessor,
em 2003 - para retratar o Brasil
atual, onde Deus retorna ao país
para tentar recuperar a esperan-
ça na humanidade. Além do hu-
mor, o script - que também é
assinado por Cacá - aproveita a
inspiração das locações nas terras
de Alagoas para lembrar da
inteligência do povo nordestino
para sobreviver às dificuldades
enfrentadas no dia-a-dia.
Não é só das belezas naturais
alagoanas que Deus Ainda É
Brasileiro vive. Com o avanço
da tecnologia ao longo desses
20 anos, o diretor adotou a uti-
lização de computação gráfica
para aprimorar a experiência do
público. “Vai ter efeitos visuais
- com os poderes de Deus, com
fogo, com a vinda do meteoro”
diz Cacá, que convidou seus
amigos Luiz e Lucy Barreto,
que formam a produtora cine-
matográfica LC Barreto, para a
produção do longa.
O cineasta e os Barretos fir-
maram uma parceria de longa
data. Após o sucesso Xica Da
Silva - que levou mais de três
milhões de pessoas aos cinemas
em 1976 -, Cacá procurou a
ATOR ÂNTONIO FAGUNDES EM CENA.
Foto: Gabriel Moreira
Parceria de longa data