National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1
Após muitos anos a trabalhar sobre este tema, interrogo-me: porque não ha-
vemos de tomar as duas opções? Podemos ter uma espécie de “quintas verticais”
urbanas em arranha-céus que funcionem com energias renováveis. Podemos ter
também explorações agrícolas ao ar livre, de elevado rendimento e com tecnolo-
gias avançadas, ecológicas e que armazenem activamente o carbono no solo.
O remanescente das nossas emissões de carbono provém da indústria, dos
transportes e dos edifícios. São estas que não deixam Jonathan Foley dormir de
noite. Como iremos remodelar milhares de milhões de edifícios, substituindo os
fornos a gás e as fornalhas a óleo? Como iremos empurrar para fora das estradas
cerca de 1.500 milhões de veículos sorvedores de combustível?
A única alternativa real reside numa promoção governamental da mudança
através de incentivos fiscais e regulamentação. Na Noruega, metade dos novos
carros registados são agora eléctricos, em boa medida porque o governo os isenta
de imposto sobre vendas, tornando-os tão baratos como os automóveis a gasolina.
A venda destes será proibida em 2025. Na cidade de Nova Iorque, foi implemen-
tada, na Primavera passada, uma lei que obriga os edifícios de grande e média
dimensão a reduzir as suas emissões de carbono em mais de um quarto até 2030.
A conversão de edifícios, transportes públicos e automóveis de um país inteiro
como os EUA não será barata, mas vamos encarar esta despesa com racionalida-
de. “O dinheiro de que estamos a falar não é mais do que o que gastámos para
sanear financeiramente os nossos bancos”, afirma Joanthan Foley, referindo-se à
reacção da administração federal perante a crise financeira de 2008.
Sabemos como fazê-lo: eis a mensagem essencial do Projecto Drawdown. Uma
das soluções financeiramente eficientes para as alterações climáticas, segundo
esta concepção, consiste em garantir que as raparigas e as mulheres tenham aces-
so ao ensino e ao controlo da natalidade. Por exemplo, as mulheres do Quénia pas-
saram de 8,1 filhos, em média, na década de 1970 para apenas 3,7 em 2015. Quando
esse declínio foi brevemente interrompido na década de 2000, isso relacionou-se
com uma interrupção do acesso das raparigas ao ensino. Esse esforço contribuirá
para estabilizar a população global e limitar a procura de alimentos e energia.
Para enfrentar as alterações climáticas, mesmo depois de reduzirmos as emissões
globais quase a zero, teremos de investir em métodos capazes de eliminar alguns
gases com efeito de estufa já existentes na atmosfera. As tecnologias necessárias
para o fazermos são promissoras, mas ainda se encontram numa fase incipiente,
excepto no que se refere às árvores, as quais, pelo menos a curto prazo, são boas
para absorver o carbono. As árvores têm outra vantagem: criam florestas, onde os
líquenes crescem, os lagartos dormitam e os macacos gritam uns comos outros, en-
quanto vão devorando figos selvagens. Já passei algum tempo em florestas assim
e a secura da palavra “biodiversidade” nunca será capaz de transmitir o seu valor.

TALVEZ OS LEITORES tenham ouvido dizer que, neste preciso instante, está a acon-
tecer a sexta extinção em massa. Esta afirmação baseia-se na elevada taxa de extin-
ções verificada até à data. Há registos de menos de novecentas extinções desde o
século XVI – o que é excessivo, em termos absolutos, mas é provavelmente um valor
subestimado. No entanto, considerando que os cientistas determinaram o diagnós-
tico para mais de cem mil espécies, dificilmente se pode afirmar que se trate já de
uma extinção “em massa”, definida pelos paleontólogos como um período durante
o qual pelo menos três quartos de todas as espécies se extinguem. Se mantivermos
as taxas actuais durante alguns milhões de anos, então poderemos ser confrontados
por uma extinção em massa. Mas ainda não chegámos a esse ponto e, se não nos
deixarmos paralisar pelo desespero, ainda vamos a tempo de mudar de rumo.
Segundo investigações recentes, a maior parte das espécies pode ser salva
e o número de animais selvagens pode voltar a ser abundante caso se combi-

GUIA DO OPTIMISTA | ONDE ESTAREMOS EM 2070?

Free download pdf