O Estado de São Paulo (2020-04-05)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 5 DE ABRIL DE 2020 Economia B3


O “efeito psicológico” do novo
coronavírus deverá contami-
nar o setor de restaurantes até o
fim deste ano, de acordo com
Paulo Solmucci, presidente da
Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel). O fator
medo, na visão de Solmucci, vai
ter um peso no comportamen-
to do consumidor em 2020. “O
‘novo normal’ não será o do mo-
vimento de antigamente. Acre-
dito que só teremos uma recu-
peração mais forte no fim do se-
gundo semestre.”
A aposta de que o movimento
do comércio e dos serviços vol-
tará aos poucos não é baseada
só em previsões, mas também
no comportamento da clientela
na semana anterior à determina-
ção da quarentena horizontal.
Houve um “sumiço” gradual
dos consumidores à medida
que a notícia do confinamento
se espalhou. “Na segunda-feira
da semana anterior, a queda do
movimento foi de 10%. Na quin-
ta-feira, os restaurantes já per-
ceberam uma baixa de 70%”,
diz Solmucci. A Abrasel, portan-
to, não espera que a liberação
do funcionamento acarrete
uma “corrida” a restaurantes.

Piores cenários. Se o cenário
já é ruim para os restaurantes, a
Abrasel diz acreditar que a situa-
ção de bares e casas de shows –
onde a aglomeração de pessoas
costuma ser ainda maior – será
mais delicada.
Outra atividade comum no
Brasil que precisará se reinven-
tar, pelo menos por algum tem-
po, são os restaurantes de comi-
da a quilo. Isso porque, como os
clientes circulam as bandejas
de comida, a chance de contami-
nação dos alimentos aumenta
bastante. “Dessa forma, acredi-
to que os restaurantes a quilo
terão de se reinventar nos próxi-
mos tempos, talvez com uma
oferta de atendimento a la car-
te ”, diz Solmucci.

Mônica Scaramuzzo
Fernando Scheller


Em um cenário em que ainda
não está claro quando será o
melhor momento para a reto-
mada do contato social – e de
atividades paralisadas em
meio ao combate ao novo co-
ronavírus –, estudo da Bain &
Company mostra que a recu-
peração entre diferentes seto-
res estará longe de ser unifor-
me. Com a pandemia, as prio-
ridades da população muda-
ram, colocando pesados desa-
fios para as companhias de
bens de consumo. Compras
de “pânico”, como desinfetan-
tes, máscaras, refeições pron-
tas e medicamentos, ganha-
ram espaço, enquanto laticí-
nios, bebidas alcoólicas e pro-
dutos de luxo tiveram recuo.

Nas últimas semanas, a de-
manda por atividades como co-
mida fora de casa, passagens aé-
reas, turismo e eventos pratica-
mente se extinguiu. Em um ce-
nário em que o medo deve pre-
dominar, a tendência é que seg-
mentos que dependam de con-
centração de pessoas enfren-
tem desafios de longo prazo, en-
quanto atividades virtuais pode-
rão preservar parte do “boom”
que registraram na crise.
Os restaurantes hoje só ope-
ram com delivery e, no Brasil, as
companhias aéreas reduziram
o tráfego em cerca de 90%. No
sentido contrário, ferramentas


de trabalho e ensino a distância
viram a demanda explodir. A fer-
ramenta de videoconferência
Zoom, por exemplo, viu sua mé-
dia de usuários subir 340% des-
de o início do isolamento.
Para Luciana Batista, sócia da
Bain & Company, esses dois gru-
pos se posicionam em polos
opostos. Enquanto as ferramen-
tas online – grupo que também
inclui cursos e streaming de ví-
deo e games – ganharam força e
devem se fortalecer no médio e
longo prazos, atividades que de-
pendem da reunião de pessoas –
grupo que também inclui restau-
rantes, eventos e turismo – vão
demorar mais para ganhar fôle-
go. Quanto maior a necessidade
de aglomerações, provavelmen-
te mais difícil a recuperação.
“Para essas atividades vai ser di-
fícil voltar ao antigo normal.”

Estoques. A venda de gêneros
alimentícios e de produtos de
limpeza nos supermercados te-
ve forte alta à medida que, ame-
drontadas, as pessoas viram ne-
cessidade de fazer estoques pa-
ra a crise. Para esses itens de pri-

meira necessidade, a tendência
é que haja um retorno das ven-
das aos patamares anteriores
após a crise, diz a especialista.
Já produtos de consumo não
essenciais – como eletrodo-
mésticos, produtos de beleza,
roupas e calçados –, que sofre-
ram neste primeiro momento,
poderão ter um período de bo-
nança. “Esses bens podem se be-
neficiar do ‘consumo de vingan-
ça’”, diz o estudo da Bain, refe-
rindo-se à necessidade de os
clientes “compensarem” o con-
sumo represado na crise.
Professora de uma escola par-
ticular de São Paulo, Luciana Vi-
dal, de 44 anos, passou a com-
prar mais carnes congeladas e
produtos de limpeza para higie-
nização da casa. “Mas não corri
para fazer grandes estoques.
Passamos a ir a supermercados
do bairro, comprando verduras
e legumes para cozinhar em ca-
sa.” Ela e seu marido, o empresá-
rio de marketing de incentivo
Fábio Goulart Ambrózio, de 40
anos, estão trabalhando em ho-
me office. Mas as prioridades da
família mudaram. “Roupas e sa-
patos estão fora da minha lista.”
A família sente a falta da roti-
na, mas entende que o isolamen-
to social é a melhor estratégia
para evitar a contaminação. “É
óbvio que a gente tem vontade
de sair, dar uma volta no shop-
ping. A Páscoa está logo aí e não
podemos ir a uma loja comprar
chocolate.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Restaurantes


só veem retorno


no fim do ano


http://www.sodresantoro.com.br


Em cumprimento à legislação vigente e preocupados com a

saúde de todos, os leilões estão sendo realizados somente online,

sem visitação pública, a fim de evitar aglomerações.

E COM DELIVERY DOS ARREMATES, EM CIDADES NUM RAIO DE ATÉ 100 KM DO

PÁTIO ONDE O VEÍCULO ESTIVER, AO CUSTO OBRIGATÓRIO DE R$ 500,00.

Para distâncias maiores, consulte-nos sobre a disponibilidade.

O susto provocado pelo corona-
vírus fez o comportamento do
consumidor brasileiro mudar.
Com o isolamento social, a preo-
cupação com higiene pessoal e
da casa fez explodir a busca por
produtos de limpeza e também
o uso de redes de internet, para
garantir a comunicação mesmo
à distância. Empresas que con-
seguiram se beneficiar neste
movimento esperam manter a
demanda em alta mesmo após a
pandemia.
Para Cesar Augusto Centro-
ne Nicolau, diretor de marke-
ting do grupo de limpeza e higie-
ne Ypê, ainda é cedo para falar
em mudanças definitivas nos
hábitos do consumidor. “Mas
vejo mudanças de comporta-
mento de agora que podem con-
tinuar mais para frente. As pes-
soas devem aumentar o consu-
mo de produtos de limpeza e hi-
giene, uma vez que se viram des-
preparadas nesta crise.”
A Ypê teve de fazer readequa-
ção em suas linhas de produção
por conta do coronavírus. A em-
presa observou maior demanda
por desinfetantes, sabão e sabo-
netes nas redes de atacado e va-


rejo. “Já tínhamos estoque des-
ses produtos e não tivemos pro-
blemas logísticos”, afirma o exe-
cutivo.
Isoladas em casa, as pessoas
também passaram a consumir
mais rede de dados Wi-Fi. “Esta-
mos experimentando o extre-
mo do isolamento social. O con-
sumo de internet da rede fixa
aumentou e deve continuar”,
diz Marcio Fabbris, vice-presi-
dente da Telefônica Vivo. “Não
é só para serviço de streaming
( que as pessoas vão usar mais a
banda larga ). O home office
veio para ficar.”

Alimentos. Alguns produtos
alimentícios também registra-
ram alta de demanda nos super-
mercados. Segundo Lorival
Luz, presidente da BRF, uma
das maiores companhias de ali-
mentos do Brasil, os consumi-
dores compraram mais embuti-
dos, carnes e produtos pré-pre-
parados.
No entanto, não dá para dizer
que as vendas do grupo cresce-
ram como um todo porque as
compras do “food service ” – ali-
mentação fora de casa – caíram
muito, segundo o executivo. Os
fatiados, por exemplo, sofre-
ram duplamente, pois são mui-
to usados não só por lanchone-
tes, mas também em lanches pa-
ra levar à escola. O confinamen-
to, portanto, prejudicou a ven-
da desses produtos. / M.S.

l Normalização
Venda de gêneros alimentícios e
de produtos de limpeza nos su-
permercados teve forte alta. Pa-
ra esses itens, tendência é que
haja um retorno aos patamares
anteriores após a crise.

Estudo mostra que, enquanto segmentos como ensino a distância podem se beneficiar da crise, eventos e turismo devem sofrer no longo prazo


Temos governos que não acreditam em ciência, diz Joseph Stiglitz. Pág. B4}


Na avaliação das


empresas, brasileiro vai


manter novos hábitos de


consumo mesmo com o


fim do isolamento social


Áreas beneficiadas


pela crise esperam


manter alta demanda


FONTE: BAIN & COMPANY INFOGRÁFICO/ESTADÃO

● Retomada do consumo após
crise do coronavírus vai ter
comportamentos distintos
em diferentes setores

UM LONGO CAMINHO

Demanda explodiu na
crise e deve se manter
em alta no longo prazo

Demanda explodiu
na crise, mas deve
se estabilizar no
longo prazo

Demanda tem forte
queda na crise,
mas pode ter ‘pico’
em seguida

Demanda tem forte
queda na crise, com
recuperação lenta

Plano de saúde
e seguro de vida

Alimentação

Produtos que ajudam a prevenir
epidemia (álcool gel, máscaras)

Eletrodomésticos

Serviços de beleza
(cabeleireiro)

Restaurantes

Internet banda
larga e telefonia

Roupas, sapatos e acessórios

Hotéis

Viagem e turismo

Eventos

Cinema e teatro

Academias de ginástica

Ferramentas para
trabalho remoto

Entretenimento online

Produtos de beleza

Telemedicina

Nutrição e saúde

Produtos de limpeza

En

Ensino a distância

FELIPE RAU/ESTADÃO

Setores terão recuperação desigual


Família unida. Fábio (E), Luciana e Miguel mudaram as prioridades de consumo na crise


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