LIVRO DIGITAL ENCONTRO SHAKESPEARE 2.1 - 2023

(Shakespeare 2.1EU1AMn) #1

de constante tensão e metamorfose. Dito isso, não é objetivo desse trabalho abordar tais
questões. Nosso objetivo é apresentar de forma sucinta as três subcategorias intermidiáticas
propostas por Irina Rajewsky e, a partir dessa delimitação, explorar o objeto escolhido para
nosso estudo, delimitando brevemente sua relação com as categorias transposição midiática
e combinação de mídias, para, posteriormente, focar nos desdobramentos da terceira
categoria: referências intermidiáticas.
De acordo com Rajewsky, não é incomum encontrar duas ou até as três categorias de
análise em um só produto:
Em relação a essa divisão tripartida, é importante notar que uma única
configuração midiática pode preencher os critérios de dois ou até de todas as três
das categorias intermidiáticas apresentadas acima. Como filmes, por exemplo, as
adaptações cinematográficas podem ser classificadas na categoria de combinação
de mídias; como adaptações de obras literárias, elas podem ser classificadas na
categoria de transposições midiáticas; e, se fizerem referências específicas e
concretas a um texto literário anterior, essas estratégias podem ser classificadas
como referências intermidiáticas. (26)


Assim, por ser uma adaptação do texto shakespeariano, o filme de Whedon, Muito barulho
por nada
, pode ser classificado dentro da categoria de transposição midiática, que é
relacionado ao “modo de criação de um produto, isto é, com a transformação de um
determinado produto de mídia (um texto, um filme, etc.) ou de seu substrato em outra mídia”
(24). Se considerarmos uma análise mais detalhada da constituição do texto shakespeariano,
perceberemos que ele nos chega através de várias transposições intermidiáticas desde sua
primeira concepção. Contudo, esse não é o foco de nossa análise.
Em uma segunda instância, podemos ver o filme de como um produto resultante da
combinação de mídias, visto que a “qualidade intermidiática dessa categoria é determinada
pela constelação midiática que constitui um determinado produto de mídia”, e ainda que,
“[c]ada uma dessas formas midiáticas de articulação está presente em sua própria
materialidade e contribui, em sua própria maneira específica, para a constituição e significado
do produto” (24). Dentre diversos elementos constituintes da mídia fílmica, um bom exemplo
é a presença da música na adaptação. O próprio texto shakespeareano faz referências ao uso
da música em cena. Shakespeare apresenta a poesia e indica que ela deve ser musicada. No
final do terceiro ato, temos o seguinte poema e a indicação de que ele deve ser cantado por
Baltasar, um dos músicos da companhia de Don Pedro:

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