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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 Metrópole A
André Borges / BRASÍLIA
A extração ilegal de madeira
corre em ritmo acelerado na
Amazônia, fazendo com que
o volume do desmatamento
acumulado de agosto de 2019
a março deste ano já chegue
ao dobro do verificado no
mesmo intervalo anterior,
quando a derrubada recorde
da floresta virou alerta glo-
bal. Uma área superior a três
vezes a cidade de São Paulo já
foi abaixo neste período.
Os números são do próprio
governo federal. O Estado le-
vantou os dados no Sistema de
Detecção do Desmatamento na
Amazônia Legal em Tempo
Real (Deter), ferramenta do Ins-
tituto Nacional de Pesquisas Es-
paciais (Inpe) que serve para
orientar ações de fiscalização
contra o desmatamento. Fo-
ram checados os cortes feitos
de agosto (mês em que começa
a medição oficial) até 26 de mar-
ço, data mais atual disponível.
Os dados mostram que o des-
matamento nesses últimos oito
meses atingiu uma área de nada
menos que 5.076 km² da Amazô-
nia, mais de três vezes o tama-
nho da capital paulista, com
seus 1.521 km². Esse volume de
corte é quase o dobro do que foi
verificado no mesmo intervalo
anterior, de agosto de 2018 a
março de 2019, quando 2.
km² de floresta foram devasta-
dos. Se observado o intervalode agosto de 2017 a março de
2018, o número era ainda me-
nor, de 2.433 km².
Uma das situações mais críti-
cas é a do Pará, que concentrou
44% do desmatamento. Os sa-
télites do Deter mostram que,
de 1.º de fevereiro a 26 de mar-
ço, 65 quilômetros quadrados
de mata foram devastados no
Pará, ante 62 km² verificados
nos dois meses completos do
ano passado. Em Rondônia, ou-
tro Estado que lidera os índices
de desmatamento, o corte ile-
gal também já supera o de feve-
reiro e março de 2019 e chega a
43 km² neste ano.
O ministro do Meio Ambien-
te, Ricardo Salles, sustenta que
os alertas do desmatamento
são apenas uma referência da si-
tuação e têm inconsistências,
por causa da incidência de nu-
vens no período. Ocorre que os
dados consolidados e usados pe-
lo governo como a informaçãomais precisa sobre o desmata-
mento – o sistema Prodes – sem-
pre resulta em um volume mui-
to maior de área devastada. Em
média, o volume confirmado fi-
ca 33% acima do verificado pelo
Deter.
No período de agosto de 2018
a julho de 2019, por exemplo,
quando o Deter captou 6.
km² de área devastada, o Prodes
detalhou a situação e concluiu
que o desmatamento total na re-
gião amazônica havia atingido
10,1 mil km², maior volume dos
últimos 11 anos.Medida. Ao Estado , o governa-
dor do Pará, Helder Barbalho
(MDB) disse que pediu apoio fe-
deral imediato. “É um volume
assustador de desmatamento.
Se não houver uma medida
drástica e imediata de fiscaliza-
ção, não haverá mais tempo. Va-
mos ter um ano de 2020 pior
que o ano passado”, disse.
Questionado, o Ibama infor-
ma que tem mantido as opera-
ções em campo na região, mas
prioriza algumas ações conside-
radas prioritárias. No Pará, diz
Helder Barbalho, o Ibama con-ta com apenas 48 servidores pa-
ra cuidar de todo o Estado. “É
uma presença absolutamente
rarefeita”, diz. “Se continuar
desse jeito, quando acabar o co-
ronavírus o nível de derrubada
da floresta será estratosférico.”
Na segunda, começa a operar
no Pará a Força Estadual de
combate ao desmatamento,
criada em janeiro. Cem agentes
ambientais serão remunerados
para entrar na floresta. Eles vão
ser pagos com recursos repatria-
dos pela operação Lava Jato,
por meio da Petrobrás.Desmate já é recorde
na região amazônica
Entre índios, 6
casos e 2 mortes
por covid-
l PreocupaçãoPANDEMIA DO
CORONAVÍRUSVICTOR MORIYAMA/THE NEW YORK TIMES“Estamos no período
chuvoso e, portanto, é
retirada de madeira, não é
queimada. Quando esse
período acabar, pode ter um
crescimento absurdo.”
Helder Barbalho
GOVERNADOR DO PARÁVolume de agosto de 2019 a março já chega ao dobro do verificado
no mesmo intervalo anterior, quando virou um alerta global
Devastação. Segundo Deter, uma área superior a 3 vezes a cidade de São Paulo foi cortadaO coronavírus já entrou nas ter-
ras indígenas. Atualmente, há
seis casos confirmados de con-
taminação por covid-19 entre in-
dígenas e dois óbitos, segundo
informações da Secretaria Espe-
cial de Saúde Indígena (Sesai).
A Funai informou que impe-
diu a entrada de qualquer não
índio em todas as terras indíge-
nas do País. A fiscalização, no
entanto, é mínima.
Especialistas lembram que
os índios são, naturalmente,
mais vulneráveis a epidemias
por causa de condições precá-
rias sociais e de saúde.
Nesta quarta-feira, as organi-
zações Greenpeace, Conselho
Indigenista Missionário (Cimi)
e Apoika emitiram uma nota pa-
ra alertar sobre o risco de imi-
nente invasão da terra indígena
Karipuna, em Rondônia. Na se-
mana passada, 115 instituições
da Amazônia e demais regiões
do Brasil emitiram um manifes-to de alerta ao governo, para co-
brar ações emergenciais contra
a covid-19 nas tribos.
Um estudante indígena de 15
anos está em estado grave na
Unidade de Tratamento Inten-
sivo do Hospital Geral de Rorai-
ma com coronavírus. Ele deu en-
trada no hospital com quadro
de Síndrome Respiratória Agu-
da Grave (SRAG) e seu primei-
ro teste para coronavírus deu
negativo. O segundo, no entan-
to, confirmou a contaminação.
O estudante Alvanei Yanoma-
mi mora na aldeia Rehebe às
margens do Rio Urariquera e es-
tudava na cidade. / A.B. e CYNEIDA
CORREIA.