tural. Quais são aquêles de quem se possa dizer
exatamente, que não têm interêsse, inclinação, ou
dependência? Qualquer destas circunstâncias serve de
impedir o exercício, e ciência da justiça. Só os reis
relevam imediatamente de Deus, e só de Deus
dependem; os mais homens todos dependem uns dos
outros, porque há mil modos de depender: aquêles
mesmos, a quem a altura do lugar faz parecer total-
mente independentes, são os que muitas vêzes de-
pendem mais: aquêles a quem o merecimento, ou a
fortuna, pôs em um certo grau de autoridade, ne-
cessitam de adquirir nome, e reputação; necessitam da
opinião, e aprovação dos outros homens. Que maior
necessidade de dependência! A opinião, e aprovação
comum, não se forma do parecer de um só, nem ainda
do parecer de muitos, mas do parecer de todos; e desta
sorte os mesmos de quem todos dependem, são
também os que dependem de todos. A opinião das
gentes não é coisa tão pouca, que dela não dependa a
conservação do lugar, e da autoridade: o receio de que
o poder se perca, ou o respeito diminua, é o que ocupa
cruelmente aos que estão em lugares eminentes, nestes
ninguém esta seguro, nem ainda os mais felices;
porque se uma mão poderosa os sustém como elevados
no ar, pode largá-los, e quando crêem que estão em
assento firme, não estão senão suspensos: as asas de
uma boa fama são as que os sustentam, se elas faltam,
o mesmo braço, que os suspende, os precipita: o favor
supremo, raramente é indiscreto, e se acaso se inclina
sem razão, isto é, se alguém por engenho, e arte, se fêz
injustamente amar de um soberano, êste no dia do seu
furor castiga aquela usurpação, e sub-repção de amor;
castiga o crime de quem se fêz amar por artifício. A
inclinação dos reis costuma fundar-se em
merecimento, e virtudes; destas se
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(Zelinux#)
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