matias

(Zelinux#) #1

compõe o encanto mágico, que atrai a si um favor
prudente; mas se foram fingidas as virtudes, e se os
merecimentos não foram verdadeiros, irrita-se aquele
mesmo favor, à proporção que tem pejo da sua
preocupação, e crueldade: nenhum engano é mais
sensível, que aquêle que se dirige a roubar o afeto; a
alma, que amou, não só sente o ter amado
injustamente, mas sente também o não dever amar
mais, porque a impressão, que o amor fêz, não se pode
tirar sem estrago, e dor da parte a donde está o que foi
gravado profundamente, não se desfaz sem ruína,
perda: para aniquilar-se a forma de uma estampa, é
necessário perder-se a estampa tôda; não só a figura,
que ela representa, mas também o corpo, em que a
representação está. Aquêles pois, que devem às letras a
sua exaltação, e que entendem, que feitos árbitros do
mundo não dependem dêle, são os que na verdade
estão mais dependentes, porque a fama da ciência, que
os conserva, também é mudável, e inconstante, e o
mesmo favor que os fêz subir como sábios, pode fazê-
los descer como ignorantes. A ciência não é qualidade
tão certa, e permanente que não possa sofrer alteração.
Tudo em nós tem decadência, e só a ciência a não há
de ter? Nem é preciso, que concorra alguma coisa na-
tural ; as paixões bastam para perverterem as ciências;
não tomadas universalmente como elas são em si, mas
tomadas como são em cada um de nós. Uma pequena
nuvem basta para escurecer a luz do sol; as paixões são
como muitas nuvens juntas. Aquêle, em quem a ira não
pode encobrir a luz do entendimento, e da ciência, a
ambição há de encobri-la, e se o não fêz, poderá fazê-
lo a grandeza do respeito, e na falta dêste, lá vem o
amor, não só armado de setas, mas de lágrimas; não só
fiado no seu império, mas também na sua submissão;
não só com

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