sentença contra um julgador ímpio, êle mesmo a
pronuncia; e por mais que a vaidade (depois que o fêz
errar) o ponha em um perpétuo esquecimento do seu
êrro, contudo lá vem alguma tempo em que parece,
descansa a vaidade, e desperta a consciência; esta nem
sempre vive em um letargo, às vêzes se levanta como
estremecida, e assombrada; então a ouvimos suspirar
dentro de nós, à maneira de um gemido queixoso, ou
eco triste, que sai do fundo interior de um êrmo
solitário; o coração, se sobressalta, e enternece; um
horror gelado, e frio, parece que o cobre, e lhe
suspende o movimento; só então podemos ver aquela
luz serena, e pura, luz da justiça, e da razão; então se
vê, que a vaidade é de todas as ciências, e que ainda
aquela, que tem a justiça, e a razão por instituto, nessa
mesma se introduz a vaidade. Quem dissera, que a
escuridade das trevas pode ter lugar na mesma parte
em que a luz preside! Que à vista da formosura, pode
ter veneração a fealdade! Que uma voz irracional, e
rouca, pode entrar sem desordem no concerto da
harmonia! Que entre as pedras preciosas, pode ter valor
a pedra tôsca! Que o metal grosseiro tem um prêço
igual ao metal brilhante! E finalmente quem dissera,
que no templo da divindade pode ter algum culto, o
ídolo! Entre extremos tais, a distância que há, é
infinita; e com efeito entre o vício, e a virtude; entre o
engano, e a verdade; e entre a injustiça, e a justiça, não
há caminho certo, nem proporção, que se conheça; o
mesmo meio parece que é injusto, e vicioso. Mas que
importa: a vaidade faz, que não seja excessiva a
distância dos extremos, porque quando os não pode
chegar, e unir, faz com que ao menos se possam ver de
longe; é o que basta para de algum modo os concordar,
e tudo sem mais força,
zelinux#
(Zelinux#)
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