e a razão, e estas só consideradas em si mesmas, sem
alteração, e no seu primeiro estado de inocência, e de
pureza; nas leis nunca viu mais nem menos do que
aquilo, que elas têm, nem as soube acomodar a algum
sentido esquisito, e raro, por onde viesse a ter lugar a
inveja, a ambição, e a vingança. Fi-nalmente aquêle
julgador é verdadeiro só por amor da verdade; é justo
só por amor da justiça; êle conhece os seus próprios
movimentos, e entre êstes segue unicamente aquêles,
que têm por princípio a justiça, e a verdade. Não se
desvanece das virtudes, que conhece em si; o aplauso
só quer, que seja da virtude, e não seu; o louvor quer,
que se dê à razão, e não a êle; parece-lhe, que em obrar
como deve, não merece nada; não se admira da justiça,
que exercita por fôrça da obrigação das ações memo-
ráveis, em que tem parte, êle se supõe um instrumento
necessário; sendo assim, não o pode vencer a vaidade.
Esta, que em todos os homens é como um afeto, ou
paixão inevitável, só naquele julgador fica sendo como
afeto sem vigor, desconhecido, e estranho; mas por
isso mesmo, e sem cuidado, conseguiu, e tem um
nome venerável, e com circunstâncias tão feliz, que
êsse mesmo nome, que conserva, contém em si uma
ilustre, e saudosa recordação.
A vaidade da origem, é uma seita, que se fundou na
Europa da decadência de outras da mesma (138) espécie, ou
semelhantes: aquela parte por onde o mundo se começou a
polir, foi o donde os homens descobriram a invenção
maravilhosa da nobreza. A sucessão dos séculos tinha feito
perder a inteligência, e uso de muitos artifícios úteis, e
admiráveis ; mas em recompensa fêz achar no sangue muitas
diferenças, que ainda se não tinham advertido.