mudando de si mesmas: elas são o sangue da terra,
assim como o sangue são as águas do corpo: tôdas se
mudam, e sucessivamente se renovam; as que vêm
depois são outras, sem impressão alguma das pri-
meiras, nem se pode imaginar que cada porção de
sangue vá deixando, (como em memória e penhor de
si) alguma porção, ainda que pequena infinitamente; as
partes não são extensíveis ou divisíveis em infinito;
assim que chegam a uma tal tenuidade, acaba-se a
divisão. A subsistência tem fim no sangue, porque êste
transpira por uma imensidade de caminhos; nem é
compreensível, que na massa de um fluido sutil, haja
alguma parte que tenha o privilégio de ser
intranspirável, e que isento das leis universais, vá
ficando só para servir de germe qualificador. Quanto
mais um licor se move, mais se diminui: naqueles que
têm um movimento perpétuo, regular, e próprio, a
matéria se dissipa, à proporção que se sutiliza, nem
ainda em um tubo de cristal se pode algum licor
conservar inteiro; a apenas se faz crível a quantidade
de humor, que o corpo exala em poucas horas.
Concluamos pois, que o sangue não é donde a nobreza
assiste: é um líquido incerto, e vago para ser o assento
de uma vaidade tão constante. Haja embora no mundo
uma nobreza, contanto que não imaginemos, que ela
tem dentro dos homens uma parte distinta donde
habita: seja um ídolo, mas ídolo sem templo: basta
supor, que o simulacro é certo, sem entrar no empenho
sôbre o lugar da dedicação: seja a nobreza como a
sombra; esta, bem se vê, mas não se pega; sempre está
fora do corpo, dentro nunca: tenha a vaidade um culto
exterior, contanto que ela seja exterior também.
Deixemos finalmente o sangue em paz; êle não des-
cansa, e todo o seu trabalho é para ser sangue, e não
para ser êste, ou aquêle sangue: de que serve
zelinux#
(Zelinux#)
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