ações alheias. O heroísmo, e a nobreza, eram quali-
dades pessoais, e não hereditárias; uma, e outra de-
pendiam de ações heróicas, e em ambas era necessário
o requisito do poder; se êste cessava, extiguia-se a
nobreza. Dêste modo é, que antigamente haviam
nobres, porque em todo o tempo houveram poderosos;
êstes ficavam distintos por grandeza, e não por
natureza; passava a nobreza de uns a outros, quando o
poder também passava; de uma, e outra coisa se
formava uma herança indivisível. Acabada a nobreza
por falta do luzimento, se êste depois tornava, não fazia
ressuscitar a nobreza já perdida; compunha-se outra
nova, e esta não era de menos entidade, ou menos
nobre que a primeira. O tempo não é o que enobrece.
Os séculos que envelhecem tudo, só a nobreza não
haviam de fazer caduca? Os anos tudo diminuem, e só
a nobreza haviam de fazer maior? Uma flor moderna
não tem menos graça do que uma flor antiga. A verdura
com que a primave se reveste, já no outono fica
prostrada, e macilenta. As estrelas começaram com o
mundo, e nem por isso brilham mais; aquilo que
depende de mais, ou menos tempo é frágil. A vaidade
até se quer aproveitar das horas, e dos dias, que pas-
saram. Por aquêle modo de entender, cresce a vaidade,
a nobreza não. Que pouco o cuidam os homens em que
há uma eternidade, e que a duração do mundo, não é
mais do que um instante!
Se há nos homens diferença, esta só se acha nos (163)
cetros, e coroas; os que dominam a terra, têm a semelhança
dos humanos, mas não sei que têm de mais: têm o mesmo ser
para serem homens, mas não para serem como os mais
homens: quem os fêz