matias

(Zelinux#) #1
REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS

acertos menos à vontade, do que à nossa fraqueza;
devemos a nossa moderação menos ao discurso, do
que à nossa própria debilidade. Deixamos o sentimento
por cansados de padecer. A duração do mal, que nos
abate, nos cura.


Há ocasiões, em que contraímos a obrigação (18)
conosco, de não admitirmos alívio nas nossas mágoas, e nos
armamos de rigor, e de aspereza contra tudo o que pode
consolar-nos, como querendo, que a constância na pena nos
justifique, e sirva de mostrar a injustiça da fortuna: parece-
nos, que o ser firme a nossa dôr, é prova de ser justa: esta
idéia nos inspira a vaidade menos cuidadosa no sossego do
nosso ânimo, do que atenta em procurar a estimação dos
homens. Uma grande pena admira-se, e respeita-se: é o que
basta para que a vaidade nos faça persistir no sentimento.


Os retiros, e as solidões nem sempre são efeitos (19) do
desengano, as mais das vêzes são delírios de um sentimento
vão, ou furores, em que brota a vaidade: então nos move o fim
oculto de querermos, que a demonstração da dôr nos faça
recomendáveis: fazemos vaidade de tudo quanto é grande: a
mesma pena quando é excessiva, nos lisonjeia; porque nos
promete a admiração do mundo.


Buscamos a Deus quando o mundo nos não (20) busca;
se alguma ofensa nos irrita, deixamos a

Free download pdf