matias

(Zelinux#) #1
MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA

(53)Nos príncipes é virtude, uma vaidade bem entendida; e
discorre santamente um rei, quando se desvanece da qualidade
de ser justo: há vícios necessários em certos homens, assim
como há virtudes impróprias em outros. Os soberanos sendo a
fonte da justiça, são os que mais injustamente são julgados: os
mais homens são ouvidos, os príncipes não; todos os julgam, e
ninguém os ouve; como se a preeminência da dignidade os
fizesse incapazes, ou indignos da defesa: o julgar por êste
modo aos reis, é sacrilégio, porque a traição é maior aquela
que se dirige à fama, que a que conspira contra a vida; esta
nos monarcas é-lhes menos importante, que a memória; a
existência deve ser-lhes menos precisa do que a fama: com a
vida se acaba o respeito, a grandeza, e o poder, mas não acaba
a reputação; o túmulo não encobre, nem a ignomínia do nome,
nem o esclarecido, porque nos príncipes nunca acaba, a glória,
nem a infâmia: o breve espaço de uma urna basta para
esconder as cinzas de muitos reis; porém por mais que as
confunda a morte, a história as separa, e as divide: a tradição
anima essas mesmas cinzas; umas para honra da natureza,
outras para horror da posteridade.


(54)A maior parte das ações dos homens consiste no modo
delas; o modo com que se propõe, com que se diz, com que se
fala, com que se ouve, com que se olha, com que se vê, com
que se anda, e enfim todos os mais modos, que são
inseparáveis de qualquer ação, nos dão a conhecer o que
devemos pensar delas: quase sempre o modo, ou nos obriga,
ou nos ofende, e ordinàriamente o modo das coisas nos ocupa
mais do que as coisas mesmas. Umas vêzes nos engana o
modo, porém também outras o mesmo modo nos desengana: a
imaginação verda-

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