ser é anterior à ação, comandando-a como um fim, e nas quais a causa eficiente se
subordina à causa final.
Os estoicos comparam o sábio ao dançarino e ao ator, cuja ação é seu próprio
ser e cuja finalidade se esgota no próprio ato de dançar ou representar, que expri
me em cada instante a totalidade da ação, que tem seu fim em si mesma. Essa
metáfora é própria de uma filosofia que identifica ser e agir e na qual a causa efi
ciente é, em última instância, a única causa real. A metáfora do dançarino e a do
ator estão em conformidade e em harmonia com a lógica e a fisica: a primeira,
como vimos, concebe a proposição como acontecimento e não como inerência
de predicados num sujeito; a segunda concebe o universo como simpatia e har
monia de causas, isto é, como ordem e conexão de acontecimentos.
Além disso, tais metáforas indicam a relação entre o ato e o tempo. Este,
como vimos anteriormente, só em aparência se divide em presente, passado e
futuro - é assim que o experimentamos enquanto seres limitados e ignoran
tes -, pois o cosmo é um presente pleno para o deus, que vê de uma só vez a
rede completa dos acontecimentos. Ora, assim como a divinatio é o meio hu
mano para cooperar com o destino, alargando o presente, assim também o
ato moral se realiza na plenitude do instante. Por isso os estoicos dão especial
atenção ao agora ou ao instante como kairós, o momento oportuno, a ocasião
favorável, o instante preciso em que a iniciativa concorda perfeitamente com
o acontecimento. A felicidade é este instante em que um homem está inteira
mente de acordo com o acontecimento, isto é, com o destino, isto é, com a
natureza.
- o sábio
A virtude é ciência, a virtude é una, não há intermediário entre virtude e ví
cio, não há meio termo entre ciência e ignorância. Essas declarações estoicas pa
recem ser de extrema intransigência. Mais do que isso. Como explicar que se
possa passar da paixão à virtude, da ignorância à ciência, como fazer um percurso
ou uma passagem, se não há meio-termo? A solução consiste em situar a passa
gem naquilo que não é bom nem mau, mas é preferível e distinguir entre a prudên
cia e a sabedoria: a primeira, possível para o homem comum que escolhe correta
mente os preferíveis; a segunda, própria do sábio, que conhece absolutamente os
preferíveis.
Vivendo segundo a razão, o sábio vive segundo a natureza. Por isso está isen-