levaram Cícero e o filósofo estoico Sêneca à imagem da virtude como qualidade
moral própria do bom governante e à elaboração da teoria do Bom Governo ou
do Príncipe (o primeiro dos cidadãos) Virtuoso, as virtudes principescas sendo a
justiça, a coragem, a fo rtaleza, a clemência, a liberalidade, a honra, a fa ma e a
glória. A república romana criava homens virtuosos e estes perpetuavam a repú
blica; era causa e efeito da romanitas.
A ideologia do Bom Governante12 descreve o dirigente perfeito como
aquele movido pelo desinteresse pessoal e pela dedicação à coisa pública, ho
mem racional e sereno -nem astuto como a raposa, nem fe roz como o leão,
escreve Cícero -, capaz de promover o bem maior da república, isto é, a união
e a concórdia, vencendo o perigo maior que ronda a cidade, a sedição causada
por fa cções. Em outras palavras, diante da realidade conflituosa das lutas sociais
e econômicas romanas - a plebe contra o patriciado, o campo contra a cidade,
o senado contra cônsules e imperadores, o exército contra o senado -, a ideo
logia romana produz a imagem da boa sociedade, "sem tensão e sem fa cção",
como a "Oração fúnebre" de Péricles produzira a imagem da boa cidade, har
moniosa e concorde consigo mesma.
É essa ideologia que encontraremos nos escritores do período imperial,
como Plutarco e Tito Lívio. O primeiro, grego de origem, escreve biografias de
homens ilustres, insistindo que sua grandeza encontra-se na articulação que sem
pre souberam estabelecer entre virtude e fo rtuna. Tito Lívio narra a história de
Roma como a fe liz conjunção entre a virtude dos governantes e a Fortuna, enfati
zando que o perigo maior da república encontrava-se naqueles sem virtude, isto
é, na plebe, assim descrita por ele: irracional e arrogante quando domina, animal
humilde e serva abjeta quando dominada. A plebe é temível quando não teme,
dizem os latinos, depois de Lívio. A grandeza da república teria estado na capaci
dade contínua dos governantes para reter a fúria da plebe e a ganância da nobreza.
Paz, segurança, concórdia e liberdade: eis as marcas da romanitas política.
d) a cidade eterna
A síntese dessas ideias encontra-se em três poemas, Bucólicas, Geórgicas e
Eneida, do poeta de Augusto, Virgílio. O primeiro é o elogio da aristocracia agrária
e dos costumes frugais dos corajosos antepassados de Roma em sua Idade de
Ouro. O segundo é um manual de agricultura, redigido por Virgílio no momento
em que Augusto está distribuindo terras e encorajando a fixação dos homens li-
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