Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

Cícero nasceu em Arpino, cidade do Lácio, a 3 de janeiro do ano 647 da fun­
dação de Roma e 106 a.C. Pertencia à gens plebeia Cláudia, elevada à pequena
nobreza como ordem equestre ou ordem dos cavaleiros. Aos dezesseis anos, fo i
iniciado pelos dois Cévolas (o áugure e o pontífice) ao estudo do Direito e do ritual.
Aos vinte anos, cumprindo a obrigação legal do serviço militar, tomou parte da
campanha de Sila contra os confederados italianos; de regresso a Roma, iniciou-se
na filosofia com o acadêmico Filo de Larissa, o estoico Diodoro (com quem estu­
dou a obra de Panécio) e o retor Molão de Rodes.
Aos vinte e seis anos, começou a carreira pública como advogado, adqui­
rindo fa ma ao ganhar uma causa na defesa de Róscio, acusado de parricídio por
Sila, que era, na realidade, o responsável pelo assassinato. Com a fama veio
também o ressentimento de Sila. Temeroso de alguma vingança por parte do
ditador, Cícero deixou Roma e viajou à Grécia, onde ouviu Antíoco, que se
afastara da Nova Academia e se aproximara do Pórtico; esteve em Rodes, onde
ouviu Posidônio (a quem se ligou por laços de amizade), e em Magnésia, onde
frequentou as aulas de retórica de Xénocles, Dionísio e Adramita. Com a morte
de Sila, retornou a Roma.
Em 75 a.c., fo i nomeado questor, na Sicília, recebendo a incumbência de
aumentar a quantidade de trigo enviada a Roma pela província. Segundo Plutar­
co, agiu com justiça e equidade, conseguindo não só o exigido, mas também
granjeando a simpatia e o respeito dos sicilianos. Data dessa época a ação que
moveu contra Ve rres, ex-pretor da Sicília, que espoliara a região e era apoiado
pelo patriciado. Cícero ganhou a causa ao proferir os discursos conhecidos como
Verrínias, celebrizando a exclamação O tempora, o mores, "que tempos, que costu­
mes!", com que ataca a corrupção reinante na república. Sua fa ma cresceu, mas
também aumentou o número de seus inimigos.
Apoiado pelo patriciado, candidatou-se a cônsul e venceu Catilina, que tam­
bém se candidatara e sobre quem corriam rumores de fratricídio, incesto e cons­
piração contra a república. Cícero fe z abortar a conspiração e propôs a condena­
ção de Catilina, conseguindo o apoio de todos os senadores, com exceção de Caio
Júlio César. Datam dessa ocasião as célebres Catlinárias, a primeira das quais
imortalizada com o Quosque tandem abutere, Catlina, patientia nostra -'l\té quan­
do, enfim, ó Catilina, abusarás de nossa paciência?". Por ter desbaratado a conspi­
ração, o Senado e a plebe lhe conferiram o título de pater patriae, pai da pátria,
"libertador e novo fu ndador de Roma".


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