Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

Cícero era vaidoso, irônico e fe rino. Esses traços, combinados à sua retidão
pública, granjearam-lhe inimigos por toda parte. Os amigos de Catilina passaram
a acusá-lo de ter fe ito executar seus partidários sem o devido processo. Disso se
valerá Clódio. Jovem patricio descoberto ao penetrar às escondidas na casa de Jú­
lio César durante a realização dos rituais secretos dos mistérios fe mininos, Clódio
fo i denunciado por Cícero, que o acusou de sacrilégio perante o Senado. Clódio,
porém, fo i absolvido.' Fez-se então adotar por uma fa mília plebeia para poder
ocupar o cargo de tribuno da plebe e participar do Senado. Com essa posição,
conseguiu que fo sse aprovada uma lei que considerava culpado todo aquele que
houvesse enviado ao suplício um cidadão sem o consentimento expresso da plebe.
Cícero compreendeu, em vista das acusações dos amigos de Catilina, que a lei se
destinava expressamente a ele: vestiu-se de luto, deixou crescer a barba e pediu
aos amigos que o defendessem. O Senado e dois mil cavaleiros se enlutaram e
montaram guarda à sua casa. Uns o incentivavam a bater-se; César o convidou a
partir com ele para a Gália; Pompeu o abandonou. Cícero decidiu exilar-se, diri­
gindo-se para a Ásia Menor. Clódio conseguiu que se promulgasse um decreto de
desterro, que lhe derrubassem a casa e confiscassem todos os bens. Evidentemen­
te, depois de certo tempo, César e Pompeu se deram conta de que Clódio era um
perigo para seus próprios planos e conseguiram que fo sse levado aos tribunais,
julgado e condenado. Pompeu reuniu o povo em assembleia e pediu o sufrágio
para a volta de Cícero, que fo i aprovada por aclamação unânime. Em setembro de
57 a.c. fo i recebido com honras pelo Senado. Julgou, então, que a república preci­
sava reencontrar os princípios de sua fu ndação e para isso escreveu Sobre a repúbli­
ca e Sobre as leis. No primeiro, declara que" conservamos a república só de nome,
na realidade, porém há muito a perdemos"; e no segundo, cunha a expressão fa­
mosa "seja lei suprema a salvação do povo".
Durante a guerra civil entre César e Pompeu, Cícero tomou o partido do
último, cuja derrota o levou a refugiar-se em sua propriedade de campo, em Tús­
culo. Logo depois, acompanhou Pompeu, que conduziu o Senado para fo ra da
Itália, para a Farsália, onde teve lugar um pseudogoverno republicano. Atacado e
derrotado pelos exércitos de César, teve fim o governo de Pompeu e Cícero re­
gressou a Roma. Ali governava Marco Antônio, investido no poder por César.
Cícero retirou-se outra vez em Túsculo. Nessa época, sofreu talvez sua maior
perda: a morte de sua filha Túlia, que o levou a escrever a Consolação.
Com a morte dos grandes inimigos de César (Pompeu, Catão e Cipião), Cí-


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