Você SA - Edição 252 (2019-05)

(Antfer) #1
A

s mudanças que estão ocorrendo em nossa
sociedade e no mundo do trabalho estão
provocando perplexidade. Por isso, é co-
mum ouvir pessoas dizendo que se sentem
“desorientadas”. O significado dessa pala-
vra é interessante. No século 17, o termo
designava aqueles
que não sabiam o
que acontecia no Oriente, de
onde vinham as grandes inven-
ções (como a bússola e a pólvora),
as grandes embarcações maríti-
mas e os mapas náuticos.
Com a evolução do mundo oci-
dental, a palavra mudou, principal-
mente depois da Segunda Guerra
Mundial, e as pessoas deixaram de
ficar “desorientadas” para se sentir
“desnorteadas”, já que toda a mo-
dernidade vinha do Norte, mais es-
pecificamente dos Estados Unidos.
Mas talvez isso esteja mudando.
Lendo uma entrevista do so-
ciólogo francês Alain Tourraine,
no esplendor de seus 93 anos, no
jornal Valor Econômico, vejo que,
novamente, quem não acompanha
a modernização do mundo será chamado de desorientado.
Isso porque, segundo o estudioso, “a China vai superar os
Estados Unidos no avanço tecnológico”.
Não é exatamente uma surpresa que isso aconteça. Os
maciços investimentos em educação e simultaneamente
em desenvolvimento da tecnologia aceleraram o passo da
China nessa corrida pela supremacia mundial.
A diferença é que os chineses se sentem bem nesse pa-
pel por já terem experiência prévia em serem os líderes
mundiais na economia e na tecnologia. Eles dizem que
sabem como se comportar e se manter nessa posição,

Se você está se sentindo perdido com as grandes transformações do mundo, deve
prestar atenção no Oriente, mais especificamente no que ocorre em terras chinesas

Desorientado?


pois no passado tiveram esse papel durante a dinastia
Ming (1368-1644). Nessa época, sob o reinado do impe-
rador Zhu Yunzhang, também conhecido como Hongwu,
a China tinha a maior produção de ferro (100 000 tone-
ladas) e a maior frota marinha de navios que visitaram
todos os continentes — bem antes dos portugueses e
espanhóis. Eram também gran-
des produtores de prata, ouro e
da tão ambicionada seda.
Agora, 650 anos mais tarde,
a China tem a maior população
mundial (com cerca de 1,4 bilhão
de pessoas) e um PIB de 13,2
trilhões de dólares, que ainda é
menor do que o americano, mas
que, nos próximos anos, tende a
superá-lo. Em breve, o país vai
se apresentar como o líder da
transformação digital, pois está
usando a modernidade tecnológi-
ca como instrumento de inclusão
social, criando milhões de consu-
midores mensalmente.
Quem estiver desorientado
vai ter de ficar esperto e olhar
com muito cuidado, humildade
e respeito para o que está sendo
feito na China. Que tal começar a estudar mandarim?
Pode ser um bom começo para se reorientar e entrar
no mundo dos novos líderes planetários.

“Quem estiver


desorientado vai


ter de ficar esperto


e olhar com muito


cuidado, humildade


e respeito para o


que está sendo


feito na China”


VOCÊ S/A wMAIO DE 2019 w 81

LUIZ CARLOS CABRERA
ESCREVE SOBRE
CARREIRA, É PROFESSOR
NA EAESP-FGV E DIRETOR
NA PMC-PANELLI MOTTA
CABRERA & ASSOCIADOS
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