Valor Econômico (2020-04-23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 5 da edição"23/04/20201a CADA" ---- Impressa por ccassianoàs 22/04/2020@21:26:0 8


Quinta-feira, 23 de abrilde 2020
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Valor
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A

Brasil


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


InfraestruturaParecerreconhecedireitoaajusteemcontratosderodovias,portoseaeroportosporpandemia


AGU dá aval a reequilíbrio de concessões

Daniel Rittnere MurilloCamarotto


De Brasília


As concessionárias de rodovias


edeaeroportosleiloadospelogo-


verno federal têm direito a ree-


quilíbrio econômico-financeiro


dos contratos paracompensar


perdas decorrentes da pandemia


de coronavírus, conforme aponta


parecerjurídico da Advocacia-


Geral da União (AGU) obtido pe-


loValor.Odireitoseestendetam-


bém para empresas ou consór-


cios que administram terminais


arrendadosemportospúblicos.


O documento foi elaborado


medianteconsultada Secretaria


de Fomento, Planejamento e Par-


cerias do Ministério da Infraes-


truturae ficouprontona semana


passada.Ele reconhece, pela pri-


meira vez, que apandemiaconfi-


gura um caso tradicional de “for-


ça maior”ou “caso fortuito” nas


concessões. Ou seja, oprejuízo


não faz partedos riscosassumi-


dos pela iniciativa privadae deve


ser compensado pelo governo—


por meiode alternativascomo


reduçãodovalordevidodeou-


torga,acréscimo nas tarifas co-


bradasouextensãodocontrato.


Comaadoção de umamalha


aéreaessencial,em decorrência


da pandemia,on úmerode voos


semanais previstosaté 30 de


abril passou de 14.781 para


1.241. Isso se refletediretamente


nofaturamentodosaeroportos.


OÍndiceABCRde março,que


refletea atividade nas rodovias


privatizadas, registrouqueda de


18,4% na comparação com o mês


imediatamenteanterioresupe-


rou inclusive os impactos da gre-


vedoscaminhoneirosem2018.


Em comunicado ao mercado na


sexta-feira, por exemplo, a CCR in-


formou que já acumularedução


de 6,3%no ano em suas estradas


pedagiadas. No casodas conces-


sõesdemobilidadeurbanadogru-


po,que sãoestaduais ou munici-


pais,houvedeclíniode97%damo-


vimentaçãode passageiros na se-


mana de 10 a 16 de abril (sobre


igualperíododoanopassado).


“A pandemia do novocorona-


vírus(Sars-Cov-2)podeserclassi-


ficada como evento de ‘força


maior’ou ‘caso fortuito’, caracte-


rizando ‘áleaextraordinária’pa-


ra fins de aplicaçãoda teoriada


imprevisãoa justificaroreequilí-


briode contratos de concessão


de infraestrutura de transpor-


tes”,dizoparecerdaAGU,assina-


do pelo consultorjurídicoFelipe


Fernandese aprovadopela pro-


curadorafederalNatáliaÁvila.


O documentoafirma que não


há necessidade de tipificarexata-


mentequalargumentoteóricopo-


deria ser usado pelas concessioná-


rias—forçamaior,casofortuitoou


fato do príncipe. “O que importa


[...] é reconhecer que o elemento


causador do distúrbio econômico,


ainda que indiretamente, consis-


tiu claramente numevento da na-


tureza (mutação erápidadissemi-


nação de um vírus com taxa de le-


talidade relativamentealta), sen-


do que esse eventoou pelo menos


osseusefeitosnãopoderiamtersi-


do previstos ou antecipadospelos


concessionáriosquando da apre-


sentação de suas propostas nos


respectivosleilões”,dizumtrecho.


No entanto,oparecerpondera


que essa aplicação não é automá-


tica eopoder concedente deve


avaliar se a quedade demandae


as perdas financeiras das conces-


sionárias são, de fato, associadas


ao coronavírus.“É importante


ressalvar que esse reconhecimen-


to em tese não significa necessa-


riamente que os contratos de


concessão devem ser reequilibra-


dos. Primeiro, porque é possível


que algumcontrato tenha esta-


belecido alocaçãode riscosdife-


rente da divisão tradicional entre


riscos ordinários eextraordiná-


rios. Segundo, porque é necessá-


rioavaliarseapandemiateveefe-


tivoimpactosobreasreceitas.”


Aeroportos terão desconto


em pagamento de outorga


DeBrasília


O secretáriode AviaçãoCivil


do Ministério da Infraestrutura,


RoneiGlanzmann,disseaoValor


que ogoverno deverá aceitar


umareduçãodovalordeoutorga


aser pagopelasoperadaspriva-


dasdeaeroportosemdezembro.


Atendência épermitir um des-


contonaparcelaanualdevidape-


lasconcessionárias comoforma


de reequilíbrio econômico-fi-


nanceiros dos contratos. O secre-


tárioinformouqueaAgênciaNa-


cional de Aviação Civil (Anac) de-


veráelaboraruma“metodologia”


de cálculopara aaplicação dos


descontos. De acordo com ele, a


ideia éreconhecernão apenas


perdas tarifárias(com vooscan-


celadospor causa da pandemia


de coronavírus), mas perdas de


receitas comerciais (já que mui-


tas lojase serviçosnos terminais


tambémdeixaramdefuncionar).


Glanzmann afirmaque a Anac


poderá fazerumaidentificação


da “fr ustração” de receitas,com


base no faturamento pré-pande-


mia ena estimativade caixasem


a covid-19.Maisde 90% das ope-


rações domésticasequase atota-


lidade dos voosinternacionais


foraminterrompidasa partirde


meadosde março. Ele considera


que MP 925,publicada no mês


passado, permitiu ao governo


“ganharum tempo”para pensar


numasaídaparaasoperadoras.


Amedida provisória adiou,


paradezembro,orecolhimento


da parcelaanualde outorgape-


las concessionárias de aeropor-


tos. Opagamento variaconfor-


me o mês de aniversáriode cada


contrato, mashá concentração


das cobrançasentre maioejulho


—casos de Guarulhos(SP), Con-


fins (MG)e Brasília.Para outras


quatro operadoras—de Salva-


dor, Fortaleza, Porto Alegree Flo-


rianópolis—, o pagamentoda


parcela variável (percentual das


receitasbrutas)estava previsto


para15 de maio. Ao todo, o go-


vernoesperava receberneste ano


quaseR$2bilhõesemoutorgas.


Os contratos, que têm duração


de 20 a 30 anosdependendodo


aeroporto,possibilitam umaex-


tensãodeatécincoanosparafins


de reequilíbrio. Em vez de esticar


esse prazo,Glanzmann acredita


que amelhoralternativaseria


corrigir o problema imediata-


mente,reduzindo ovalor da ou-


torgareferentea 2020.Aprorro-


gação das concessões poderia


atacar o desequilíbrio econômi-


co de longoprazo, segundoo se-


cretário, mas não odesarranjofi-


nanceiro (fluxode caixadas em-


presas).Eainda criariauma con-


fusãomais adiante,deixandoca-


da contrato expirandoem uma


data esem maisobedeceràlógi-


cacriadaderodadasdeleilões.


Outroponto de atuação do Mi-


nistério da Infraestrutura éjusta-


mente a próxima rodada de con-


cessões. Vinte e dois aeroportos


foram divididos em trêsblocos


diferentes: Norte (tendo Manaus


como carro-chefe), Central (com


Goiânia à frente) e Sul (liderado


por Curitiba). A perspectivado


governoera leiloaresses lotes no


últimotrimestre, mas oministro


Tarcísio Freitas já admitiu a hipó-


tese de adisputa “escorregar”pa-


raoprimeirotrimestrede2021.


Glanzmann diz que asecreta-


ria pretendeenviar orientação à


Anac, responsável pela licitação,


com umamudançaimportante:


diferentemente de todasconces-


sões no setor, até agora, não seria


maisnecessárioter umaopera-


doraestrangeira no capitalacio-


nário (equity)dos consórcios. Es-


se era um requisitoobrigatório


dos leilõesanteriores—pelo me-


nos 15% de participação societá-


ria —eoobjetivo era trazergru-


posinternacionaiscomexpertise


naadministraçãoaeroportuária.


O secretáriogaranteque a pre-


sençade operadorasinternacio-


naisestarágarantidanopróximo


leilão, mas de outraforma:elas


poderão ser contratadas, de for-


ma terceirizada,pelasempresas


ou consórciosvencedores—sem


necessariamenteintegrar o capi-


tal. “Quem tem dinheiro no


mundo hoje são os fundosde in-


vestimento, os fundosde pensão,


osfundossoberanos”,avalia.


Por outro lado,acrescenta Glan-


zmann, as operadoras de aeropor-


tos estãocom dificuldadesfinan-


ceirasem seus próprios países de


origem ou onde já atuamdevido à


queda generalizada da aviação co-


mercial. “É um problema mun-


dial”,ressalta.Seogovernoinsistis-


se no modelo anterior, arriscaria


atémesmoosucessodosleilões.


Os estudosde demandaede


viabilidadeeconômica dos 22 ae-


roportos já foramdiscutidos em


audiência pública, pelaAnac, e


agora estão em processo de revi-


são. O secretário reconhece a


complexidade, neste momento,


de fazer estimativas diante das in-


certezas na economia global pós-


coronavírus. Por isso, é um leilão


em que as ofertas do setor priva-


do serãomais importantes do que


nunca para corrigireventuais dis-


torçõesnas premissasutilizadas


pelo poder concedente.(DR)


Ronei Glanzmann,secretáriode AviaçãoCivil:reduçãolevará em contaperdas tarifáriase comreceitacomercial


TANIARÊGO/AGÊNCIA BRASIL

Fonte:Ministérioda Saúde

EpidemianoBrasil

Paráentrana listados dez Estados commaiscasos










10º

SP

RJ

CE

PE

AM

BA

MA

ES

MG

PA

15.

5.

3.

3.

2.

1.

1.

1.

1.

1.

Totalde casos
acumulados

Posição Estado Totalde mortesacumuladas

Os Estadoscommaiscasosda doença

0

10.

20.

30.

40.

50.

1/Abr 9/Abr 22/Abr

Número de casos acumulados
da covid-19 no país

Número de mortes
acumuladas

45.

2.
241

6.

941

17.

1.

490

233

282

207

50

66

34

47

43

Para 97% dosexecutivos,pandemia afetaráleilões


De Brasília


A esmagadora maioria dos


executivos na área de infraestru-


tura acreditaque acrise econô-


micaesanitária,em virtudedo


novocoronavírus,poderá preju-


dicarocronogramadas conces-


sões prometidas pela Uniãoe pe-


los Estadosem 2020.Essa é a per-


cepçãode 97,4% dos entrevista-


dos pela AssociaçãoBrasileira da


Infraestruturae Indústriasde Ba-


se (Abdib),em pesquisa ainda


inédita, que ouviu154 executi-


vos responsáveis por liderarin-


vestimentosecontratosnosetor.


ParaopresidentedaAbdib,Ve-


nilton Tadini, a pandemia de co-


ronavírustem impactosobre po-


Venilton Tadini:“A liquidez extrema no mercadointernacional foi afetada” tenciais interessados. “A liquidez


LEONARDORODRIGUES/VALOR

Teichdizteresboço para flexibilizar isolamento


Rafael Bitencourt,Fabio


Murakawa, MatheusSchuche


AndreaJubé


De Brasília


Cinco dia apósassumiroco-


mando do MinistériodaSaúde,


NelsonTeichafirmouteroesboço


do planopara flexibilizaroisola-


mentosocial recomendado aos


Estadosemunicípios por seu an-


tecessor, LuizHenrique Mandet-


ta. Ontem,on ovoministro infor-


mou, durante entrevista no Palá-


cio do Planalto, queomodelo de


relaxamento responderáà reali-


dadedecadaEstadoemunicípio.


Teich se comprometeu a apre-


sentaradiretriz paraos gestores


locais no prazo de umasemana.


Com ela, as atividadesecirculação


de pessoas poderão ser liberadas


gradativamente. Ele ressaltou que


oBrasil é“gigante eheterogêneo”


e, por isso, as medidas devem ser


“customizadas”paracadacaso.


extrema no mercado internacio-


nal foi afetada e há insegurança


na aplicação de capital.Émuito


provávelque, durante um bom


tempo, os investidores procurem


o porto seguro das nações mais


desenvolvidas,principalmentetí-


tulosdogovernoamericano,para


conservarsuariqueza”, observa.


Na avaliaçãodele,outroponto


que levantadúvidaé o nívelde


demanda e de retornodas con-


cessõesno imediatopós-pande-


mia. Porisso,Tadini acreditaque,


enquantoseresolvemeventuais


reequilíbrioseconômicos neces-


sáriosnos contratosatuaisese


estruturammelhoros próximos


leilões, a saídaéacelerar ogasto


públicona retomadade obras


paralisadas.“Precisamos ter cla-


reza de que, dadasas condições


de incerteza,os primeirosproje-


tos para movimentaro setorpri-


vadodevemdecorrerde investi-


mentosdoEstado”, acrescenta.


Gustavo Gusmão,diretor-exe-


cutivoparao setorpúblicoe in-


fraestruturadaEY, opina:“Caute-


laéapalavradeordemdosinves-


tidores.Omercadonão está to-


talmente parado, masolhando


commuitaatençãotudoo que


está acontecendo. No caso espe-


cíficodo Brasil,vemosque se


mantémointeressedosinvesti-


doreadesvalorizaçãodocâmbio


podeaté constituir um atrativo,


porqueo dinheirodos estrangei-


rospassaavalermaisporaqui”.


ParaGusmão,deumladoosin-


vestidoresveemcompreocupa-


ção a instabilidade política no


Brasil. De outro, encarama atua-


ção doMinistério daInfraestrutu-


racomoserenaeequilibrada,sem


interromperaestruturação das


novas concessões por causadas


respostas mais imediatas parali-


darcomacrisedocoronavírus.


Em uma escalade zero a dez, os


executivos responderamaindase


acreditamnas chances de aprova-


ção, ainda em 2020, de projetos de


leiquetramitamnoCongressoNa-


cional e estavam no topo da agen-


da antesda pandemia. O maior


otimismoé quantoao novo marco


legaldo saneamento básico(5,6),


seguido pela novalei geral das


concessões ePPPs (5,1), areforma


do setor elétrico (4,8) e areforma


dosetorferroviário(3,9).(DR)


O ministroaproveitou aapari-


ção públicaparaoficializar a es-


colhado general EduardoPa-


zuellocomonovosecretário-exe-


cutivo, o segundoposto maisim-


portantena hierarquiado órgão.


“Eleéexperienteemlogística.Vai


trabalhar não só em relaçãoà co-


vid, mas comrelaçãoacomoo


paísvaificar”, explicou.


Na visão de Teich,oBrasilnão


deve vivenciar umaexplosão de


casos da doença em vários Esta-


dos ao mesmo tempo.Ele avalia


que modelos comprojeções no


longoprazoerrammuito.“Temos


que projetar no curto prazo e ser-


mos rápidos para tomar as medi-


dasnecessárias”,argumentou.


Ontem, diferentemente do


que afirmouao chegarao cargo,


Teich disseque atestagemampla


da populaçãonão ésuficiente


paradefinirumaestratégia efi-


caz de enfrentamentodo vírus.


Agora, destacouque,maisim-


portante do que realizarteste em


massaparaoenfrentamento da


pandemia,é “desenhara forma


idealdedistribuirostestes”.


Teich afirmouque não existe


“fórmula mágicanemsoluções


boasou ruins”paraconteraco-


vid-19.“Elassão mal usadasou


bemusadas”,resumiu.


Para ele, algumas medidas po-


demter sidoimportantes para


conter a explosão de casos no iní-


cio,mas pondera que o país não


podepermanecer parado por


muito tempo, comas pessoas


morrendopor receio de buscar


atendimentonoshospitais.


“A gente sabe hoje que doentes


de outras doenças comocâncer


não estão chegando[aos hospi-


tais],pessoas não estão procuran-


do laboratórios, têmpessoas mor-


rendoem casa porque não vãoem


tempoparaopronto-socorro.”


Ontem,o ConselhoNacional


de Saúde(CNS),recomendouao


ministério e às secretariasmuni-


cipaise estaduais de Saúdeque


atendamao princípioda “fila


única”. Isso visa favorecera con-


trataçãode leitosprivadosde te-


rapiaintensivapara uso do Siste-


ma Únicode Saúde(SUS),de


acordocomas necessidades de


cadaterritório.EmManauseFor-


taleza,por exemplo, 100%dos


leitosjáestãoocupados.


Ontem,o Brasilcontabilizou


2.906mortespor covid-19. O Mi-


nistérioda Saúdeindicouque


houveuma acréscimode 165 no-


vos óbitos,uma alta de 6,01%em


relaçãoaodiaanterior.


Já os casosconfirmadosalcan-


çaram45.757em todo país. Hou-


ve oacréscimo de 2.678 (ou


6,21%).A taxa de letalidade, afe-


ridapelosnúmerosdeinfectados


e de mortes,se manteveem 6,4%.


Por outrolado, 25.318pacientes


se recuperam,oque representa


55,3%docasosconfirmados.


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