Aero Magazine - Edição 311 (2020-04)

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m vírus nada mais
é que um pequeno
software. Sozinho,
não tem vida, é inca-
paz de se multiplicar,
como acontece com
bactérias e fungos. A
maioria absoluta deles
tem “vida” curta fora do hospedei-
ro enquanto inúmeras bactérias
sobrevivem meses, anos e até
séculos sem um organismo que
as acolha. É grande o número de
cientistas que não considera um
vírus sequer um ser vivo. Ele é um
“comando”, um código genético
(RNA ou DNA), para fazer cópias
de si próprio – e nada mais.
Uma célula tem todo um
aparato para produzir proteínas
cuja receita está no seu próprio
DNA. Cada célula tem dezenas de
organelas, pequenos órgãos que
obedecem ao comando do DNA
que está no núcleo. De modo bem
simplificado, assim como uma cé-
lula do pâncreas produz insulina,
outras se regeneram, algumas se
multiplicam quando necessário,

e há as que produzem proteínas
para controlar sua membrana ou
reparar uma lesão. Quando invade
uma célula, um vírus faz com que
as organelas parem de obede-
cer às ordens do DNA nuclear
e coloquem todo o maquinário
celular para produzir cópias suas,
liberando na corrente sanguínea
milhões de novos vírus, que irão
infectar outras células, e assim
sucessivamente.

WUHAN
Provavelmente em dezembro
de 2019, na cidade de Wuhan,
médicos chineses diagnosticaram
os primeiros casos de uma nova
“virose”. É possível que a China
tenha demorado um pouco para
alertar a comunidade interna-
cional, uma vez que o local é um
importante hub para diversos
centros econômicos daquele
país, além de Estados Unidos e
Inglaterra. A cidade tem cerca de
10 milhões de habitantes e sua
província acomoda 60 milhões
de pessoas. Assim, cidadãos
do mundo todo continuaram
a viajar de Wuhan para outros
destinos e vice-versa.
De qualquer modo, a resposta
foi mais rápida do que em 2002,
quando a China tentou esconder
do mundo a SARS, também uma
síndrome respiratória aguda grave
causada por um vírus. Desta vez,
o governo agiu com relativa rapi-
dez, informando às autoridades
sanitárias internacionais sobre a
existência do novo vírus em 31 de
dezembro de 2019 para, em segui-
da, isolar a região. Porém, dado o
período médio de incubação do
vírus de cinco dias (podendo che-
gar a 15 dias), milhares de pessoas
já haviam embarcado para diversos
destinos, transportando o vírus
antes do início do isolamento.

O vírus foi batizado de SARS-
-CoV-2 (Severe Acute Respiratory
Syndrome Coronavirus). Essa
nomenclatura se deve à grande
semelhança com o SARS-CoV, que
causou a epidemia de SARS em


  1. Até o presente momento, a
    letalidade desse novo coronavírus
    aparenta ser inferior à da SARS,
    provavelmente da ordem de 1% a
    2% ao passo que aquela tinha letali-
    dade bem maior. A doença causada
    pelo vírus foi denominada covid-
    (Coronavirus Disease 2019).
    Foge ao escopo do artigo
    detalhar a família dos coronavírus,
    mas, apenas por curiosidade, vale
    lembrar que alguns causaram epi-
    demias graves, como ocorreu com
    a MERS (Síndrome Respiratória
    do Oriente Médio) e a própria
    SARS. Os outros quatro membros
    da família capazes de infectar
    humanos causam quadros leves e
    é provável que milhões de pessoas
    já tenham tido contato com esses
    outros coronavírus sem maiores
    consequências. Mesmo a covid-
    não terá consequência significa-
    tivas para a absoluta maioria dos
    contaminados.


DISSEMINAÇÃO
Na primeira semana de fevereiro,
foram diagnosticados três casos
na Itália, todos de pacientes
vindos da China. Três semanas
depois, os italianos já registravam
casos de contaminação comuni-
tária, ou seja, de pessoas que não
tiveram qualquer contato com
quem havia estado na China.
Qual fogo em gasolina, em mais
duas semanas, já havia casos em
80 países. Enfim, no dia 11 de
março de 2020, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) decla-
rou a covid-19 uma pandemia.
Como sabido, o vírus é mais
perigoso para os idosos, princi-
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