O Estado de São Paulo (2020-05-12)

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A8 Internacional TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


A falsa escolha que a Casa Branca quer impor


l]
JOE
BIDEN
THE WASHINGTON POST

Os americanos exigem
uma liderança constante,
empática e unificadora, diz
candidato democrata à
presidência dos EUA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


A


té o momento, o coronaví-
rus matou mais de 79 mil
americanos. Um em cada
cinco trabalhadores entrou com pe-
dido de seguro-desemprego – a ta-
xa de desocupação agora é a mais
alta desde a Grande Depressão. É
um momento extraordinário – do
tipo que exige uma liderança cons-
tante, empática e unificadora.
Mas, em vez de unificar o país pa-
ra acelerar nossa resposta à crise de

saúde pública e obter alívio econômico
para quem precisa, o presidente Do-
nald Trump recorre a uma estratégia
familiar de desviar a culpa e dividir os
americanos. Seu objetivo é tão óbvio
quanto covarde: ele espera apartar o
país em um duelo, classificando os de-
mocratas como mercadores do pessi-
mismo, que querem manter os EUA na
lona, e os republicanos como comba-
tentes da liberdade, tentando alavan-
car a economia.
É uma tática infantil – e uma falsa
escolha na qual nenhum de nós deve
cair. Todo mundo quer que os EUA re-
tomem suas atividades o mais rápido
possível – alegar o contrário é completa-
mente absurdo. Governadores de am-
bos os partidos estão fazendo o possí-
vel para que isso aconteça, mas seus
esforços foram reduzidos e dificulta-
dos porque não receberam do governo
federal as ferramentas, os recursos e as
orientações que precisam para reabrir
com segurança e sustentabilidade. Es-
sa responsabilidade recai sobre os om-
bros de Trump, mas ele não está prepa-

rado para a tarefa.
Faz mais de dois meses desde que
Trump afirmou que “qualquer pessoa
que queira fazer um teste poderá fazê-
lo”. Foi uma mentira e ainda não é nem
remotamente uma verdade. Se quiser-
mos ter locais de trabalho, restauran-
tes, lojas e parques seguros, precisa-
mos de testes em massa. Parece que
Trump não pode fornecê-los – para
não falar de protocolos de segurança
do trabalhador, diretrizes de saúde
consistentes ou liderança clara para
coordenar uma reabertura responsá-
vel.
Além de abandonar os testes, ele pa-
rece ter esquecido que a nossa econo-
mia é orientada pela demanda – você
pode gritar bem alto que estamos aber-
tos para negócios, mas a atividade não
voltará à força total se o número de
novos os casos ainda estiver subindo
ou atingindo o platô e as pessoas não
acreditarem que seja seguro voltar a
trabalhar. Sem medidas para impedir
a propagação do vírus, muitos america-
nos não vão querer fazer compras, co-

mer em restaurantes ou viajar.
O governador da Geórgia, Brian
Kemp, começou a “reabrir” os restau-
rantes de seu Estado. Segundo dados
do serviço de reservas OpenTable,
mesmo assim, havia 92% menos clien-
tes do que no mesmo dia um ano atrás.
Estados e cidades que tentaram reto-
mar as atividades estão descobrindo
que a economia não é um interruptor
de luz que você pode simplesmente
ligar – as pessoas precisam de confian-
ça para fazê-la funcionar.
Mais uma vez, a solução não é um
mistério. O governo Trump poderia
se concentrar na produção e distribui-
ção de testes e protocolos adequados,
em conformidade com a orientação
de especialistas em saúde pública. Is-
so acelera consideravelmente o pro-
cesso de reabertura e o torna muito
mais eficaz.
O governo está plenamente cons-
ciente de que este é o caminho certo
também – afinal, o presidente e sua
equipe estão agora recebendo testes
diários. Eles sabiam exatamente co-

mo tornar o Salão Oval da Casa
Branca um local seguro e operacio-
nal, e empenharam-se em fazê-lo.
Mas, com relação ao restante do
país, eles simplesmente não tive-
ram o mesmo trabalho.
Se Trump e sua equipe entendem
o quão crítico são os testes para sua
segurança – e parecem que sabem
disso, dado o comportamento da
Casa Branca –, por que insistem que
eles são desnecessários para o povo
americano? E por que o presidente
tenta transformar isso em outra for-
ma de divisão, colocando america-
nos em uma falsa batalha entre “saú-
de” e “economia”?
Todo mundo sabe que não pode-
mos reviver a economia a menos
que salvaguardemos a saúde. Em
vez de mais uma vez tentar nos divi-
dir, Trump deveria trabalhar para
darr aos americanos as mesmas pro-
teções necessárias que ele obteve
para si mesmo. É a coisa certa a fa-
zer e o único caminho para realmen-
te colocar a economia de volta nos
trilhos.

]
FOI VICE-PRESIDENTE DOS EUA E É
CANDIDATO DEMOCRATA À PRESIDÊNCIA

WASHINGTON


Os republicanos estão cada vez
mais preocupados com a possi-
bilidade de o partido perder a
maioria no Senado nas eleições
de novembro. O comportamen-
to errático do presidente Do-
nald Trump durante a pande-
mia, o colapso da economia e o
crescimento do entusiasmo de-
mocrata, refletido nas últimas


pesquisas, colocam em perigo a
candidatura de alguns senado-
res.
“O cenário é muito ruim”, dis-
se ao Washington Post um estra-
tegista republicano que traba-
lha na campanha e pediu para
não ser identificado. “Estamos
preocupados”, confirmou on-
tem um congressista do partido
ao jornal The Hill. Um sinal nega-
tivo, segundo ele, é que a popula-

ridade de quase todos os líderes
mundiais subiu durante a pande-
mia – a de Trump caiu. No dia 1.º
de abril, ela chegou a 47,4%, na
média de sondagens do site Real
Clear Politics. Hoje, está em
44,5%.
Em novembro, os america-
nos renovarão 35 dos 100 sena-
dores. Os republicanos têm ho-
je uma maioria de 53 a 47, mas
terão de defender 23 cadeiras,

enquanto os democratas ape-
nas 12 – precisariam eleger 4 se-
nadores a mais. Até pouco tem-
po atrás, era uma tarefa impro-
vável.
O problema é que a populari-
dade de Trump vem arrastando
alguns nomes do Partido Repu-
blicano, que antes eram favori-
tos. Candidatos democratas
vêm liderando as pesquisas nos
Estados do Colorado, Carolina

do Norte, Arizona e Maine, e a
disputa está acirrada em ou-
tros, como Iowa e Flórida. “Ho-
je, a possibilidade de maioria no
Senado é igual para os dois parti-
dos”, disse a analista Jessica
Taylor. Segundo ela, um dos fa-
tores que ajudou os candidatos
democratas foi a escolha do mo-
derado Joe Biden, e não do radi-
cal Bernie Sanders, como candi-
dato à presidência. / WP

lDisputa

Artigo


35
cadeiras no Senado estão em
jogo em novembro. Hoje, os
republicanos têm maioria de 53
senadores – de um total de 100.
Os democratas precisam eleger
4 senadores a mais e, segundo
pesquisas, a chance é real.

Ações de Trump põem em risco maioria no Senado


Estrategistas e aliados do presidente temem que pandemia esteja por trás do desempenho ruim de candidatos do partido nas pesquisas

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