National Geographic - Portugal – Edição 217 (2019-04)

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28 NATIONAL GEOGRAPHIC


ADIS ABEBA, ETIÓPIA
Uma das primeiras linhas
de metropolitano de
superfície da África
subsaariana, financiada e
maioritariamente
construída pela China,
foi inaugurada em 2015.
Transportando mais de
cem mil passageiros por
dia em carruagens
cheias, começou a
transformar a capital,
permitindo que os
trabalhadores tivessem
emprego longe de casa.
Nas cidades em rápido
crescimento de África, a
expansão da área urbana
é um enorme desafio.
LAURENCE DUTTON

Quando ele aqui chegou como aluno, em 1979,
o trânsito já era horrível devido à “malha urbana
muito fina”, a rede densa de ruas estreitas. Na-
quele tempo, Pan poderia demorar duas horas da
baixa à universidade, a cerca de seis quilómetros.
“Não seria mais rápido ir a pé?”, perguntei.
“Nessa época, não comíamos o suficiente.
Se fôssemos a pé, ficávamos cansados. Andáva-
mos sempre com fome no meu tempo de estu-
dante”, respondeu.
Nos 40 anos decorridos desde que Deng
Xiaoping decretou a “reforma e abertura” da
China, ao mesmo tempo que a sua população
disparava para 1.400 milhões, o país retirou da
pobreza centenas de milhões de pessoas. E, no
essencial, conseguiu-o deslocando-as das zo-
nas rurais para postos de trabalho fabris nas
cidades. A urbanização estonteante da China é
ainda mais fabulosa por ter sido precedida da
Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, que en-
viara milhões no sentido contrário – das cidades
para o campo.
“Depois da Revolução Cultural, o primeiro pas-
so consistiu em garantir que todos tivessem uma
casa e alimento suficiente”, afirmou He Dong-
quan, investigador residente em Pequim
Quando o ímpeto urbanizador começou, ini-
ciou-se a corrida à construção de apartamentos.
A forma mais rápida de fazê-lo era criar rapida-
mente superquarteirões com torres iguais. Os in-
centivos financeiros eram enormes e não apenas
para os construtores: as administrações munici-
pais chinesas podem obter metade das receitas
(ou mais) através da venda de direitos sobre a
terra. Os aspectos agradáveis do design urbano
foram ignorados – embora, seguindo as directri-
zes do feng shui, as torres estivessem por norma
ordeiramente alinhadas e viradas a sul.
À semelhança dos subúrbios norte-americanos
que ajudaram a concretizar os sonhos de milhões,
os resultados foram fantásticos... até certo ponto.
A família chinesa média tem agora cerca de 33
metros quadrados de espaço por pessoa, o quá-
druplo da média existente há duas décadas. No
entanto, o espaço existente entre os edifícios não
é convidativo e, por isso, as pessoas não desfru-
tam deles – resumiu o meu interlocutor.
“Toda a gente se sente só e nervosa”, disse He
Dongquan. Temendo a criminalidade, os mo-
radores exigem vedações, transformando os
quarteirões em condomínios fechados. A cidade
tornou-se ainda menos amigável e apetecível de
percorrer a pé.

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