National Geographic - Portugal - Edição 218 (2019-05)

(Antfer) #1
LEONARDO

O cientista
Leonardo não se
limitou a observar
e a documentar
o mundo natural
nos seus cadernos
de apontamentos.
Também realizou
experiências para
compreender
a mecânica do
funcionamento.
Interessou-se
particularmente pelas
propriedades da água.
Nesta folha, desenhou o
movimento da água
quando perturbada por
uma barreira (no topo)
e ao cair de uma eclusa
para um lago (em
baixo), formando
redemoinhos.
ROYAL COLLECTION TRUST/© SUA
MAJESTADE, A RAINHA ISABEL II, 2018


ACTUALIDADE
Leonardo não dispunha de
ferramentas para demonstrar
a sua hipótese de o ar e a água
partilharem propriedades.
Nesta imagem, Gary Settles,
da Universidade Estadual
da Pensilvânia, usa a técnica
de imagem schlieren para
visualizar o indiscernível: a
turbulência na atmosfera.

Em Vinci, este panorama é conhecido como orizzonti geniali, ou “hori-
zontes de génio”, afirma Stefania Marvogli, do Museu Leonardiano. É uma
duradoura alusão a Leonardo. Manta de retalhos de tipos diversos de solo
reúnem-se para formar um todo coerente. A paisagem reflecte as ligações
que Leonardo procurava na natureza: padrões de unificação do universo.
Algures durante a adolescência, é provável que o pai reconhecesse os
seus dotes artísticos e mostrasse os seus desenhos a um cliente, o artista
Andrea del Verrocchio, que aceitou receber Leonardo como aprendiz na
sua oficina de Florença.
Leonardo suplantou os seus pares desde o início e não tardou a suplantar
o próprio mestre. A mais antiga das obras conhecidas de Leonardo, uma
paisagem desenhada a pena do vale do Arno, data de 1473 e foi produzida
quando o pintor tinha 21 anos. Passados alguns anos, já recebia as primei-
ras encomendas: um retábulo para uma capela no Palazzo della Signoria e a
pintura A Adoração dos Magos para um grupo de monges agostinhos.
Leonardo deixou-nos poucas memórias da sua vida, mas conseguimos
vislumbrar o homem. Era quase certamente homossexual: os seus compa-
nheiros de toda a vida eram do sexo masculino e foi duas vezes acusado de
sodomia. Amigo dos animais, comprava aves engaioladas no mercado para
depois as libertar. Canhoto e bonito, era admirado pela sua generosidade de
espírito e requinte social. Seria certamente divertido tê-lo como convidado
num jantar, conjectura Gary Radke, professor emérito de história da arte.
“Não era um desses génios imperscrutáveis, meditabundos e resmungões.”
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