Planeta - Edição 547 (2019-04 & 2019-05)

(Antfer) #1
FOTOS: ISTOck

No Brasil, as cabeças
de gado (217 milhões)
superam o número de
habitantes (208 milhões),
de acordo com dados do
IBGE de 2018. Só não
superam o rebanho da
Índia, onde o animal é
sagrado e, portanto, não é
utilizado na alimentação. O
Brasil é o maior exportador
de carne bovina do planeta,
e seu consumo interno
está entre os maiores do
mundo, ao lado da Rússia
e Estados Unidos, pelo
levantamento da FAO.
A atividade agropecuária
é a principal responsável
pelas emissões brasileiras
de gases de efeito
estufa. Somando-se as
emissões indiretas, por
desmatamento, e as
diretas, principalmente
pelo metano do rebanho
bovino, o agronegócio
responde por 71% das
emissões totais do país, de
acordo com o Sistema de
Estimativas de Emissões
de Gases de Efeito
Estufa (SEEG), de 2018,
preparado anualmente pelo
Observatório do Clima.
A pecuária em si
representa 24% de tudo
o que o Brasil emite – e
o país é o oitavo maior
emissor do planeta. Não
à toa, uma das metas
voluntárias a que o Brasil
se comprometeu no Acordo
de Paris, tratado aprovado
em 2015 por 195 países,
é de reduzir em 18% a
emissão de CO² equivalente
na agropecuária e diminuir
em 80% o desmatamento
na Amazônia e em 40% no
Cerrado, em relação ao
registrado no período de
1996 a 2005.

Rei do gado


a verdadeira chacina de ativistas
ambientais que ocorre em áreas
mais isoladas do país”, resume.

Receita caseiRa
Diante desse contexto e dos ter-
mômetros elevando a tensão, a
humanidade precisa virar a me-
sa. A adoção de uma economia
mundial de baixo carbono pas-
sa necessariamente pelo corte
no consumo de carne e laticí-
nios combinado a outras medi-
das na agricultura, como práti-
cas mais sustentáveis, redução
de perdas de alimentos e di-
minuição de resíduos, além do
uso da tecnologia.
“A alimentação será uma
questão definidora do sécu-
lo 21”, crava a análise feita pela
Comissão EAT-Lancet, forma-
da por 37 renomados cientistas,
de 16 países. O grupo preparou a
primeira dieta baseada em estu-
dos científicos que se preocupa
com a saúde humana e o meio
ambiente ao mesmo tempo.
A “dieta da saúde planetária”,
como foi definida, considerou o
papel principal da agropecuária
nas mudanças climáticas, na des-
truição da vida selvagem e na po-
luição dos rios e oceanos. E pre-
vê evitar cerca de 11 milhões de
mortes humanas por ano, o que
representa entre 19% e 24% do
total de mortes entre adultos.
Na avaliação da Comissão, “é
urgentemente necessária uma
transformação radical do sis-
tema alimentar global”. Se não
houver ação imediata – que en-
volve trabalho duro, vontade
política e recursos financeiros –,
grande parte da população so-
frerá cada vez mais desnutrição
e doenças evitáveis e as crian-
ças de hoje herdarão um planeta
gravemente degradado.

desconforto falar em abstenção ou moderação do con-
sumo de carne. Mas Orsini lembra que a resistência é
mundial. “Há um grande lobby dessa indústria em um
nível internacional em cima da mídia, na política e até
entre as ONGs – vide o documentário ‘Cowspiracy – O
Segredo da Sustentabilidade’, da Net flix, de 2014. Fora

Planeta abril/maio 2019 33

A pecuária
ocupa 75%
das terras
usadas para a
produção de
alimentos e
consome 1/3
da água doce
do planeta

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