Planeta - Edição 547 (2019-04 & 2019-05)

(Antfer) #1
foto: AfP

ociedade


Exposição


indesejada


a trágica semana de março em
que 10 pessoas em Suzano
(SP) e 50 em Christchurch (No-
va Zelândia) perderam a vida
por ataques de atiradores, as
coberturas de muitos noticiá-
rios de TV abriram um grande
espaço para os responsáveis
pelos crimes. No caso neozelandês, porém, houve
uma inovação importante: por ordem de um juiz
local, o rosto do assassino, um supremacista bran-
co australiano, não pôde ser exibido, de forma a
impedi-lo de se mostrar para potenciais imitado-
res de seus crimes. Segundo um estudo recente,
a estratégia deveria se tornar uma norma para a
imprensa que cobre esses casos.
Publicado em outubro de 2018 pela IZA, da
Alemanha, o trabalho “The Effect of Media Co-
verage on Mass Shootings” (O Efeito da Cober-
tura da Mídia de Tiroteios em Massa, em tradu-
ção livre), do professor de economia americano

Um estudo recente
recomenda: a mídia deve
rever a maneira como
cobre casos como os
massacres de Suzano
e de Christchurch, sob
risco de estimular novas
ocorrências do gênero

Equipe Planeta

N

Jay Walker e do pesquisador
australiano Michael Jetter, bus-
ca investigar as razões por trás
desses massacres. Os autores
analisaram a relação entre o ní-
vel de cobertura de notícias e a
ocorrência de tiroteios em mas-
sa acompanhando a cobertura
diária do “World News Tonight”,
popular jornal televisivo do ho-
rário nobre da rede ABC, entre
1º de janeiro de 2013 e 23 de ju-
nho de 2016.
Os resultados fortaleceram a
ideia de que os atiradores desses
casos buscam a fama como uma
possível motivação. Walker e
Jetter encontraram uma relação
positiva e estatisticamente signi-
ficativa entre a duração da cober-
tura dedicada aos massacres e o

número de tiroteios ocorridos na
semana seguinte. “Em média”,
concluíram os pesquisadores,
“sugere-se que a cobertura de
notícias da ABC causou cerca
de três massacres na semana se-
guinte, o equivalente a 58% dos
tiroteios em massa nos EUA.”
O trabalho da Walker e Jetter
introduziu uma novidade no
que se refere à relação entre os
tiroteios em massa e a cobertura
da mídia. Para isolar a causalida-
de entre esses dois lados, eles
também compararam a cobertu-
ra dos massacres com a ocorrên-
cia de desastres naturais. Desco-
briram que a cobertura dedicada
aos tiroteios diminuiu durante
desastres naturais, o que foi asso-
ciado a menos tiroteios na sema-

42 abril/maio 2019 Planeta

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