O Estado de São Paulo (2020-05-27)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-13:20200527:
O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2020 Economia B13


PME


Levy Teles
ESPECIAL PARA O ESTADO


Na Copa de 2010, o então pre-
sidente da Fifa, Joseph Blat-
ter, discursou contra a tecno-
logia no futebol. Em 2018, o
sistema de revisão de impedi-
mento e o árbitro de vídeo
(VAR) já faziam parte da com-
petição. O futebol ainda é re-
lutante sobre o uso da tecno-
logia, mas ela veio para mu-
dar o esporte. Com ela, cres-
ce um filão, o das sporttechs.
Startups do mundo esporti-
vo, elas são empresas que
propõem soluções que podem
ir de ciência de dados e inteli-
gência artificial até plataformas
de gestão de treinos e exercí-
cios. De acordo com estudo da
aceleradora Liga Ventures em
parceria com a Brazil Sports Te-
ch, há no Brasil mais de 130 star-
tups no setor, em 10 Estados.
“Hoje, o futebol é a principal
área de interesse delas, até pelo
País em que vivemos”, diz Rap-
hael Augusto, da Liga Ventures.
“Há uma necessidade do merca-
do de inovação para resolver
gestão de clubes, receitas de fe-
derações e trazer tecnologia re-
lacionada aos atletas.”
Foi pensando nisso que, em
2018, Bruno Pessoa criou a Tero
ao lado de Felipe Araújo. A pro-
posta é ligar jogadores a clubes
de todo o Brasil, como um ge-
renciador de carreiras. No apli-
cativo, treinadores podem ava-
liar vídeos de performance de
atletas de 13 a 23 anos. “A gente
se deparou com um volume de


jogadores muito grande. Do ou-
tro lado do ecossistema, a gente
viu que os clubes faziam um pro-
cesso manual. Eles continuam
fazendo a mesma coisa que fa-
ziam em 1970”, afirma Pessoa.
Com um investimento inicial
de R$ 150 mil, o aplicativo ini-
ciou atividades até que, em ro-
dada semente, levantou R$ 1 mi-
lhão em recursos. Tem hoje 47
mil atletas cadastrados, 1.200
treinadores e já realizou parce-
ria com a La Liga (campeonato
da primeira divisão do futebol

espanhol) para eventos no País.
Já o modo de atuação da Tacti-
calPad é diferente. Para facilitar
o trabalho do treinador, a plata-
forma funciona como uma pran-
cheta virtual, um aplicativo que
pode ser usado no tablet. A
ideia do app, segundo o funda-
dor Fernando Closs, foi pensar
numa solução que viesse do dia
a dia do treinador. Hoje, a em-
presa, que nasceu em 2008, tem
parceria com 90% dos clubes da
primeira e segunda divisões do
futebol brasileiro, além de ser

usada na Seleção. Mas o cami-
nho não foi simples e os frutos
demoraram a vir, dada a pouca
abertura do esporte à tecnolo-
gia. “É um ponto ainda sério: as
portas não são tão abertas”, diz
Closs, segundo quem a empre-
sa tem porte pequeno (fatura-
mento anual até R$ 5 milhões).
Hoje, são 50 mil usuários ati-
vos e de 2 a 3 milhões de down-
loads do aplicativo, que funcio-
na por assinatura. Na quarente-
na, pode ser usado de forma gra-
tuita até o final de junho e o ser-
viço oferece webinars para ensi-
nar como usar a ferramenta.
“Os treinadores não podem tra-
balhar, mas pode ser o momen-
to para replanejarem treinos.”

Inovação. Fundada em 2017, a
iSPORTiSTiCS, que estima fatu-
rar neste ano em torno de R$ 4
milhões, vai um pouco além no
uso da tecnologia. Com base
em machine learning e deep
learning, a inteligência artificial
desenvolvida pela empresa con-
segue coletar estatísticas, gerar
melhores momentos e selecio-
nar dados de partidas.
A ideia, segundo o CEO Vini-
cius Gholmie, era criar um servi-
ço que pudesse ser usado desde
ligas menos profissionais até
grandes clubes. Com a tecnolo-
gia Hat-Trick, a iSPORTiSTiCS
criou uma geração automática
de melhores momentos para
ser usado na Copa São Paulo de
Futebol Júnior. Em poucos mi-
nutos, o sistema gerava os me-
lhores momentos. “Como é um
torneio de curta duração, você

tem 252 jogos em 20 dias. Se vo-
cê tem 46 jogos acontecendo ao
mesmo tempo, ou você contra-
ta um exército de videomakers
ou não consegue fazer”, diz
Gholmie. Como efeito das pu-
blicações, a FPF ganhou 80 mil
novos seguidores nas redes.
Esse é um dos efeitos: diversi-
ficação de renda. Estudo da
agência de marketing esportivo
SportsValue sobre os princi-
pais clubes do futebol brasilei-
ro aponta que ainda há falta de
outras fontes de receita. Os di-
reitos de transmissão da TV ain-
da são a principal, podendo che-
gar a até 57% da receita total.
E os dados analíticos podem
ser um caminho. Um estudo di-
vulgado pela PR Newswire fala
que a área de sports analytics
pode chegar a um valor de mer-
cado médio de US$ 4,6 bilhões
nos próximos cinco anos.
Em tempos de quarentena,
quando reprises voltam à mo-
da, a iSPORTisTiCS fez parce-
ria com a TV Gazeta para dispo-
nibilizar informações gráficas
em análises táticas de jogos his-
tóricos. Já a Tero registrou um
aumento de 35% de usuários –
tudo de forma remota, com ava-
liação física pelo Google Fit, tes-
te tático com aplicativo e rotina
de treinamentos pelo Zoom.
Segundo os empreendedo-
res, o momento pode significar
uma mudança na gestão dos clu-
bes. “O principal interesse de-
les ainda está no jogo de domin-
go. Agora, enfrentam dificulda-
des por não terem pensado a
longo prazo”, diz Bruno Pessoa.

ESTADÃO

lAnálise de dados

De gerenciador de carreiras a prancheta virtual, plataformas de sporttechs facilitam rotina de clubes e ajudam a diversificar sua renda


JUAN FLOR/ATHLETIC BILBAO

Tecnologia nos esportes ganha espaço


63%
foi quanto cresceu o
número de visualizações
de páginas no site da NBA,
liga de basquete americano,
após a inserção de dados
analíticos combinados
com vídeos, mostrando o
potencial da tecnologia e
das sporttechs em clubes de
variados esportes pelo mundo

Tablet. Uso da plataforma da TacticalPad, que funciona como uma prancheta virtual
Free download pdf