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H2 Especial QUARTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
SONIA RACY
DIRETO DA FONTE
Mariane Morisawa
ESPECIAL PARA O ESTADO
LOS ANGELES
O velho e batido ditado nunca
fez tanto sentido: “Quem canta
seus males espanta”. Música,
filmes, livros e séries de TV ofe-
recem conforto, distração e ex-
travasamento nesses tempos
difíceis. E a animação musical
Central Park”, que estreia seus
dois primeiros episódios na sex-
ta, 29, na Apple TV+, com os de-
mais oito episódios semanal-
mente no serviço de streaming,
é o equivalente a canja de gali-
nha, poltrona
aconchegante
e cobertor fofi-
nho. “Há algo
no nosso mun-
do de agora
que nos faz
procurar o es-
capismo, e a
ideia de sair
cantando pa-
ra expressar
nossas emo-
ções é muito
inspiradora,
parece ade-
quada ao mo-
mento”, disse ao Estado o ator
Josh Gad, que faz a voz de um
dos personagens principais e é
um dos criadores, ao lado de No-
ra Smith e Loren Bouchard, de
Bob’s Burgers. E olha que a entre-
vista foi antes de a pandemia
ganhar os contornos de hoje.
A série tem personagens es-
quisitos, mas em geral bem-in-
tencionados, engraçados e se
passa num Central Park amea-
çado por uma magnata do ramo
imobiliário, Bitsy Brandenham
(voz de Stanley Tucci). No cen-
tro da trama está a família Til-
lerman, que mora num antigo
castelo no meio do parque. O
pai, Owen (Leslie Odom Jr.), é
o administrador da enorme
área verde no centro de Ma-
nhattan. Sua mulher é Paige
(Kathryn Hahn), repórter de
jornal de bairro. Os filhos são
os adolescentes Molly (Kristen
Bell), que escreve histórias em
quadrinhos, e Cole (Tituss Bur-
gess), que também não é dos
mais populares na escola. Ele
desencadeia a trama ao acolher
e esconder o cachorrinho perdi-
do de Bitsy, enquanto a gover-
nanta da bilionária, Helen (Da-
veed Diggs), espera se livrar do
bichinho e herdar a fortuna de
sua patroa, que não tem herdei-
ros. Josh Gad faz a voz de Bir-
die, o narrador nada confiável
dessa história.
Central Park é cheia de pedi-
gree. Bob’s Burgers, do mesmo
Loren Bou-
chard, é uma
das séries
mais espertas
e reconfortan-
tes no ar – e
também é
uma anima-
ção, para adul-
tos, mas que o
resto da famí-
lia também po-
de assistir.
“Para ele, não
pode ser só en-
graçado, nem
só bobo, ou
apatetado”, disse Gad. “Preci-
sa de emoção. Assim, o público
não apenas ri, ele se apaixona.”
O elenco todo tem experiência
de sobra de musicais. Josh Gad
e Kristen Bell, lógico, fizeram
Frozen: Uma Aventura Conge-
lante (2013), que marcou o re-
nascimento das animações mu-
sicais da Disney. Daveed Diggs
e Leslie Odom Jr. saíram do fe-
nômeno Hamilton. Tituss Bur-
gess fez A Pequena Sereia na
Broadway. “Era fundamental
ter pessoas que realmente can-
tam”, explicou Gad. “Quando
eu assisto a algo e sei que estão
fingindo, percebo e fico irrita-
do. Então fiz uma lista do meu
elenco dos sonhos, e ele se tor-
nou realidade.”
Os detratores do gênero po-
dem até torcer o nariz, mas a
verdade é que os musicais ga-
nharam um sopro de renova-
ção nos últimos anos, com Book
of Mormon (2011), Hamilton
(2015) e Dear Evan Hansen
(2015) na Broadway e filmes co-
mo O Rei do Show (2017) e La La
Land – Cantando Estações. Cen-
tral Park vai na mesma linha
mais moderna. “É bacana gos-
tar de musicais novamente,
eles conquistaram as novas ge-
rações”, contou Gad.
A ambição de Central Park
não é menor. “Queremos que
as pessoas fiquem cantando
sem parar as músicas depois de
assistir a cada um dos episó-
dios”, disse Gad. “Queremos re-
produzir o sucesso de Dear
Evan Hansen, Hamilton e ouso
dizer Frozen numa série de
TV.” Para isso, ele contratou co-
mo compositoras fixas Kate An-
derson e Elyssa Samsel, do cur-
ta Olaf em uma Nova Aventura
Congelante de Frozen. Mas não
só: cada episódio vai ter can-
ções assinadas por composito-
res convidados, como Sara Ba-
reilles, Alan Menken, Meghan
Trainor e Cyndi Lauper. “Isso
nos dá uma diversidade de
som”, disse Josh Gad. “Cyndi
Lauper escreveu uma música
que poderia ter sido um dos
seus hits dos anos 1980, e Meg-
han Trainor, um dueto românti-
co. Mas não é para tocar no rá-
dio, e sim para personagens
que não têm escolha a não ser
sair cantando essas músicas a
plenos pulmões.”
Para Loren Bouchard, a
combinação de animação e
música é perfeita para derru-
bar as defesas que as pessoas
constroem. “Você consegue
ir fundo nas emoções.” Kris-
ten Bell acha que é uma ques-
tão provada cientificamente.
“Seu cérebro se conecta mais
facilmente quando está ouvin-
do música. Você fica mais
aberto emocionalmente e em-
barca na viagem.”
‘NINGUÉM ESTÁ PEDINDO SUBSÍDIO’
LATAM
Caderno 2
Grave desde o começo, a crise
mundial provocada pela covid-
19 está levando mais uma em-
presa de aviação internacional
a pedir socorro explícito. A La-
tam acionou a justiça america-
na por meio do mecanismo
Chapter 11 e acoplou três das
subsidiárias ao pedido: a brasi-
leira ficou de fora. “O Chapter
11 não é igual à recuperação
judicial”, explicou ontem à co-
luna, Jerome Cadier. “A RJ é
um processo mais burocrático,
mais amarrado, mais comple-
xo, tem mais apelações. Nos
EUA, as empresas quando en-
tram, elas buscam sair e o juiz
facilita a saída. Na renegocia-
ção dos leasings, por exemplo,
você só consegue fazer isso
com o Chapter 11”, diz o execu-
tivo, lembrando que algo co-
mo 90% dos pedidos de recu-
peração judicial no País têm
como resultado a falência.
Aliás, o primeiro pedido de RJ
após a promulgação oficial da
lei brasileira foi feito pela Va-
rig. “Não sabia”, responde o
executivo que assumiu a presi-
dência da empresa aérea no
Brasil em 2017. Ela quebrou.
Segundo Cadier, os acionis-
tas Quatar Airlines, família
Cueto e família Amaro es-
tão aportando US$ 900
milhões. Do BNDES, go-
verno chileno e investi-
dores espera-se outros
US$ 2 bilhões. A Latam
chegava a transportar
100 mil pessoas por
dia, hoje transporta 3,
4% disso. Aqui vão tre-
chos da conversa:
lNenhum governo no mun-
do tem se arriscado a fazer
projeções. A Latam faz?
Precisa e esse é o nos-
so desafio. As bases
são muito incertas e os núme-
ros muito provavelmente es-
tão errados. Mas montamos
duas fases: a primeira, que a
gente chama de hibernação –
que é o que a gente está fazen-
do agora. Reduzimos a opera-
ção pro mínimo pra queimar
menos de caixa diariamente,
esperando que a demanda por
voos volte. Esperamos chegar
até o fim do ano com 50% a
60% da nossa operação feita
ano passado. Recuperação
completa? Dois a três anos.
lComo é a ajuda do Chapter 11?
Diferente dos modelos de recupe-
ração na Europa, Ásia ou Bra-
sil?
O governo brasileiro se mos-
trou bastante proativo, princi-
palmente no Ministério da In-
fraestrutura. Muitas coisas
avançaram e algumas discus-
sões no Congresso podem aju-
dar a dar mais fluidez ao setor.
A grande pendência, entretan-
to, é a questão da ajuda do ca-
pital de giro. O baque resultou
em vendas 90% menores. E
muitos custos continuam. Dife-
rente de alguns setores que
podem vender estoque depois
da crise, não existe estoque
em companhia aérea.
lQuanto os EUA estão investin-
do nessa recuperação?
Até agora, são US$ 50 bilhões –
metade dada sem contrapartida
e outra metade, como emprésti-
mos. Os juros são abaixo dos
de mercado por um período de
dez anos. Há possibilidade de
alguma conversão dessa dívida
com o governo americano em
ações das companhias aéreas.
lBrasil?
Os montantes são, obviamen-
te, diferentes. São R$ 10 bi-
lhões para todos. Mas,
independente de ser
pouco ou não, ele é ne-
cessário. Ninguém está
pedindo subsídio. O
que a gente precisa é
ter acesso a capital e
ele hoje inexiste. O
prazo oferecido pelo
BNDES é razoável,
cinco anos. Cada país
tem que encontrar a
sua maneira de aju-
dar, mas é importante
que essas discussões
não demorem.
lO que o passageiro
pode esperar?
Estamos operando basica-
mente para a maior parte
das capitais do Brasil e in-
ternacionalmente, pouco.
Agora, com a decisão toma-
da pelo governo dos EUA, de
barrar pessoas que passaram
pelo Brasil... O passageiro
tem que verificar seu voo na
véspera. Muitos países deci-
dem de um dia pro outro
restringir a movimentação,
estão mudando regras rela-
cionadas à quarentena.
lE para quem precisa viajar
mas têm medo?
Não só a Latam, mas todas
as companhias aéreas estão
tomando precauções. Des-
de o embarque, check-in,
dentro do avião e a saída. A
limpeza das aeronaves tem
sido feita de forma muito
frequente e profunda, a gen-
te também espaçou mais as
filas de check-in e embar-
que. Estamos atendendo
em balcões intercalados pra
garantir a não proximidade.
Estamos embarcando com
mais espaço nas filas.
lA bordo?
Reduzimos a quantidade de
interações entre a tripula-
ção e o passageiro. Estamos
atentos à comida, todos pas-
sageiros são obrigados a uti-
lizarem máscara, há gel. Eu
diria que parece, pro leigo,
ser arriscado voar mas na
verdade é muito menos ar-
riscado do que qualquer
transporte público.
lPassageiros que compra-
ram passagens, como proce-
der?
Primeiro, estamos tentando
acomodá-los, sem custo,
em voos que a gente ainda
está operando. A data limite
é esse ano. Para 2021 não,
mas, talvez, dependendo da
duração da crise, a gente
estenda isso.
Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]
lEstudante de medicina da
UFPR e profissionais voluntá-
rios lançam uma plataforma
de geolocalização para áreas
de risco de covid- 19. A Juntos
Contra a Covid é iniciativa
sem fins lucrativos.
lA médica Mariana Cor-
rêa criou o projeto Cosmia-
tria Solidária, uma platafor-
ma de aulas com temas diver-
sos. O valor arrecado com as
aulas será doado para insti-
tuições que prestam auxílio
a famílias carentes.
lSergio Sá Leitão está – em
parceria com a FGV e o Sebrae
- realizando pesquisa de Con-
juntura do Setor de Economia
Criativa – Efeitos da crise da
Covid-19. E o secretário esta-
dual avisa: a pesquisa é de âm-
bito nacional.
‘SEU CÉREBRO SE
CONECTA MAIS
FACILMENTE QUANDO
ESTÁ OUVINDO MÚSICA’
‘A IDEIA É SAIR
CANTANDO PARA
EXPRESSAR NOSSAS
EMOÇÕES’
UMA ANIMAÇÃO QUE É
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
MUSICAL
APPLE TV+
POLAROID
A cantora Marina Melo está compondo músicas
que reflitam sobre “a transformação tão abrupta
pela qual estamos passando” ante a pandemia.
Ela segue a quarentena à risca, só saindo para ir
ao mercado e para dar apoio a projetos como o
Casa Flores, que arrecada itens de alimentação e
higiene para mulheres egressas do sistema
prisional. Em breve, ela lançará o resultado da
produção musical do seu isolamento.
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Trama. O Central Park é
ameaçado por magnata
Série ‘Central Park’ estreia com vozes de Kristen Bell e Josh
Gad, e canções inéditas de Cyndi Lauper e Sara Bareilles
DENISE ANDRADE/ESTADÃO
NILTON FUKUDA/ESTADÃO