O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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A20 QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Esportes


Ciro Campos


Quem é fã de futebol deve ter
uma virada de ano bem diferen-
te, com jogos entre o Natal e o
Ano Novo e também no início
de janeiro. O Campeonato Bra-
sileiro terá um calendário mo-
dificado por causa da longa pa-
ralisação, provocada pela pan-
demia do novo coronavírus.
Quem revelou esses planos foi
o próprio secretário-geral da
Confederação Brasileira de Fu-
tebol (CBF), Walter Feldman,
em entrevista ao Estadão.
A entidade ainda não sabe
quando poderá voltar com as
competições, mas tem claro
que só vai retomar o calendá-
rio após receber autorização
do Ministério da Saúde. Segun-
do Feldman, por enquanto, o
trabalho é o de atualizar um
protocolo de cuidados médi-
cos, dialogar com clubes e fede-
rações e garantir que nenhuma
pressão política apresse o re-
torno do futebol brasileiro, a
exemplo do que ocorreu na re-
tomada da Europa.


lAlguns times já voltaram aos
treinos. Isso não pode represen-
tar uma vantagem competitiva
em campo lá na frente?
A volta das competições tem
de ser baseada nas condições
de saúde, com as curvas sobre
o novo coronavírus (números
de novos infectados) controla-
das e com os protocolos em
prática. Fizemos algo muito
sensato no começo de maio,
ao permitir que cada federação
e clube avaliassem dentro da
realidade de seus Estados o
que era possível. Pela nossa
previsão, o calendário deve ser
retomado em cima dos Esta-
duais, para que, quando inicia-
rem os torneios nacionais, os
clubes já tenham preparo e
condicionamento adequados.


lComo a Conmebol (Confedera-
ção Sul-Americana de Futebol)
segue o processo no Brasil?
Semana passada tivemos uma
videoconferência com a Con-
mebol. Deixamos claro que va-
mos trabalhar neste momento


com preferência para o nosso
calendário, esperando que a
Conmebol definisse sobre Li-
bertadores, Sul-Americana e
Eliminatórias mais tarde, após
a nossa definição. Nossa se-
quência é: estaduais e depois
as nacionais. Até agora, é plena-
mente possível cumprir o ca-
lendário brasileiro. Podemos
usar datas que não são aprovei-
tadas e, se necessário, algumas
datas do início de 2021.

lEntão é possível o Brasileirão
terminar só em janeiro?
Sim. É. Eu diria que quando a
gente iniciou a parada, nós co-
meçamos a pensar nos meca-
nismos de flexão que teriam
de ser acrescentados ao calen-
dário para podermos ter condi-
ções de terminar as competi-
ções de forma ideal. Por isso
que trabalhamos com a exten-
são das férias dos atletas para
ter a liberação do período en-
tre Natal e Ano Novo. Seria
possível fazer um calendário
até 2021. Também iniciamos
diálogo com a Federação dos
Atletas para termos a redução
do tempo entre as partidas.

lComo ficariam os contratos de
jogadores? Muitos atletas têm
vínculos só até 31 de dezembro.

É um problema que vem sen-
do pensado no plano da legisla-
ção. Tem um projeto de lei pa-
ra resolver algumas questões e
uma delas é a possibilidade de
se assinar um contrato por 30
dias (nota de redação: o contra-
to mínimo permitido atual-
mente é de 90 dias de dura-
ção). Talvez seria em situação
emergencial, uma solução, por
ter contratos mais curtos.

lComo tem sido preparado o
protocolo médico da CBF para a
volta dos times aos treinos?
Fazemos atualizações quase
que diárias, porque as mudan-
ças sobre a pandemia são cons-
tantes, com o conhecimento
de novos testes. Temos condu-
zido esse trabalho junto com o
Ministério da Saúde, sem ne-
nhum tipo de pressão ou aço-
damento. Nós estamos acom-
panhando a evolução da epide-
mia. O protocolo está muito
bem elaborado, participaram
mais de 150 médicos do fute-
bol, tem seis pareceres de in-
fectologistas e epidemiologis-
tas. Procuramos o máximo de
construção técnica sobre a
perspectiva do retorno.

lComo tem sido a participação
de infectologistas, que são os

grandes especialistas no tema?
A nossa referência maior é o in-
fectologista Sérgio Wey, que in-
clusive foi meu colega de facul-
dade. Ele deu um parecer em
que relata sobre como acompa-
nhou esse trabalho. Nós envia-
mos também à Sociedade Bra-
sileira de Infectologia (SBI) e
temos um parecer do diretor
técnico da SBI, que faz todas
as considerações. Só não divul-
gamos ainda porque está no
plano do Ministério da Saúde.
As participações dos infectolo-
gistas e epidemiologistas têm
sido fundamental. Eles que
dão a característica comple-
mentar à experiência acumula-
da pelos médicos de futebol.

lQuem vai dar o aval final para
liberar o futebol?
Desde o início, falamos que
não daríamos um passo sequer
sem as recomendações do Mi-
nistério da Saúde, tendo em
vista que a CBF é uma institui-
ção nacional. Mas não deixa de
ser fundamental a avaliação
das secretarias municipais e es-
taduais de saúde.

lAs trocas de ministros no Mi-
nistério da Saúde interferem?
Não. Em nenhum momento
demos dimensão política ao fa-

to. A gente sempre conversou
na área técnica. É fundamental
que nossa decisão tenha cará-
ter científico. Não há compo-
nente político.

lQuando voltar, só teremos jo-
gos com portões fechados?
Eu não diria que temos isso cla-
ro. Mas em nenhuma hipótese
pensamos na retomada com
os portões abertos. Claro que
sempre estará no horizonte jo-
gos com torcidas, distancia-
mento e cuidados, mas diria
que agora é uma questão dis-
tante de ser tratada. Estamos
pensando no retorno dos trei-
namentos, distanciamento so-
cial preservado, acompanha-

mento diário, testes...

lA CBF pretende bancar os tes-
tes de alguns times?
Nas primeiras conversas que ti-
vemos com o Ministério da
Saúde, como o futebol se tor-
nou um exemplo importante
para fazer as pessoas se distraí-
rem, até se levantou a possibili-
dade de o Ministério fornecer
testes. Mas isso não era possí-
vel nem adequado. Estamos
avaliando preços, origem e a
qualidade deles. A cada mo-
mento aparece um teste novo.
Como a Série A e a Série B têm
vários clubes voltando, estão
fazendo por iniciativa própria.
Estamos em um momento de
avaliação, de custo, de merca-
do, de fazer uma análise de tu-
do isso, que também é novo pa-
ra a CBF. Neste momento, não
tem sinalização de se discutir
valores. Os preços são altos e a
quantidade é grande.

lFlamengo e Vasco chegaram a
se reunir com o presidente Jair
Bolsonaro. Algumas federações
estaduais também já se manifes-
taram a favor do retorno. Como a
CBF lida com essa pressão?
Eu diria que o presidente (da
CBF) Rogério Caboclo tem
muita clareza sobre isso. O re-
torno só se dará em cima da se-
gurança em saúde. Em ne-
nhum momento vamos ultra-
passar a linha da responsabili-
dade. A gente acha que isso
tem de ser local. Algumas fede-
rações avançaram muito nisso,
como Santa Catarina, Paraná e
Rio e Janeiro. As vontades lo-
cais não interferem no plano
nacional. Nossa tarefa é dar o
apoio possível. Vamos aguar-
dar o Ministério da Saúde para
que se possa fazer o retorno.
Não há pressão política fora
do sistema de saúde que altere
o posicionamento da CBF.

lÉ possível fazer alguma previ-
são de quando o futebol voltará?
Nós estamos exatamente no pi-
co da pandemia. E não sabe-
mos o tamanho do platô desse
pico. Temos muitos elementos
positivos, como a articulação
com as federações e o diálogo
com os clubes. Mas a recomen-
dação expressa que tenho do
presidente Caboclo é para não
dar nenhuma data ainda. Ou
seja, estamos fazendo tudo cor-
reto, de forma sensata, mas
ainda não falamos em prazo.

Felipe Rosa Mendes


O desembargador Murilo Kie-
ling, da 23.ª Câmara Cível do
Rio de Janeiro, manteve ontem
a suspensão da audiência públi-
ca que iria discutir o Estudo de
Impacto Ambiental e o Relató-
rio de Impacto Ambiental
(EIA/Rima) do projeto de cons-
trução do novo autódromo do
Rio. O novo circuito é cotado


para receber o GP do Brasil de
Fórmula 1 a partir de 2021.
Kieling rejeitou recurso do Es-
tado do Rio que pretendia anu-
lar decisão anterior, da juíza
Neusa Regina Larsen, da 14.ª Va-
ra da Fazenda Pública. Na quar-
ta passada, ela havia suspendi-
do a realização da audiência vir-
tual, marcada para hoje, ao aten-
der ação civil demandada pelo
Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro (MPRJ).
Mesmo sem caráter decisó-
rio, a audiência pública é um
dos passos para que o EIA/Rima
do projeto de construção do au-
tódromo receba autorização
ambiental para ser erguido. No
encontro, agora suspenso, as en-

tidades e pessoas interessadas
no caso poderiam debater e dis-
cutir os possíveis efeitos am-
bientais das obras do circuito,
no bairro de Deodoro.
A decisão do desembargador
afeta diretamente o cronogra-
ma da construção do autódro-
mo definido pela Rio Motor-
park, liderada pelo empresário
JR Pereira. Isso porque a audiên-
cia é essencial para os seguintes
passos na tramitação do relató-
rio ambiental no Instituto Esta-
dual do Ambiente (Inea).
É a partir da audiência que
são contados 10 dias para que
interessados apresentem ques-
tionamentos quanto ao proje-
to, que podem ser incorpora-

dos ao processo de licenciamen-
to. “Em seguida, a equipe técni-
ca do Inea avaliará todas as ma-
nifestações apresentadas para,
então, emitir parecer técnico fi-
nal com vistas à Procuradoria
do Inea”, explicou o Instituto,

em nota recente ao Estadão. So-
mente após o parecer técnico
final, em caso de aprovação, é
que a Rio Motorpark poderá ini-
ciar as obras.
O Rio de Janeiro disputa com
São Paulo pelo direito de sediar

o GP do Brasil de Fórmula 1 a
partir de 2021. O atual contrato
da capital paulista com a F-1 se
encerra neste ano. Em razão da
pandemia e das mudanças no ca-
lendário do campeonato deste
ano, São Paulo corre até o risco
de não receber a prova desta
temporada.
Ao mesmo tempo, o Rio vem
tendo dificuldades em obter a
aprovação da licença ambiental
para iniciar a construção do no-
vo autódromo. Apesar destes
obstáculos, ambas as cidades di-
zem estar em situação avança-
da em suas negociações com a
cúpula da F-1. Inicialmente, a ca-
tegoria havia colocado o mês de
agosto deste ano como prazo pa-
ra tomar sua decisão quanto ao
futuro do Grande Prêmio brasi-
leiro. Mas o adiamento do iní-
cio do campeonato em 2020,
em razão da covid-19, deve
adiar ainda mais a definição so-
bre a corrida no Brasil em 2021.

Justiça rejeita recurso e impede


audiência do autódromo do Rio


MESSI DIZ QUE NÃO VÊ A
HORA DE JOGAR NOVAMENTE

ENTREVISTA


] A pandemia do novo coronavírus
obrigou a paralisação do futebol pelo
mundo. Agora, as atividades coleti-
vas já recomeçaram na Espanha, que

deve ter o seu torneio retomado em
junho. O craque Lionel Messi, do Bar-
celona, falou sobre o assunto. “Te-
mos de pensar no futuro. Em como
voltar ao dia a dia de treinos, ver os
colegas, jogar. Será estranho no co-
meço, mas quero voltar a competir.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


CUIDADOS

Fórmula 1. Novo circuito


é cotado para receber o
GP do Brasil e precisa da


autorização ambiental


para ser construído


Walter Feldman
SECRETÁRIO-GERAL DA CBF

‘Estamos acompa-


nhando a evolução
da epidemia. O
protocolo (médico

da CBF) está muito
bem elaborado’

WILTON JUNIOR / ESTADAO-22/2/

Sem pressão. Feldman diz que CBF só vai retomar o calendário nacional quando receber autorização do Ministério da Saúde

Walter Feldman, secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol


Dirigente da CBF nega interferência


política e prevê Brasileirão até 2021


Cartola não dá prazo para


a volta do futebol no País


e diz que o Campeonato


Brasileiro pode acabar


só na próxima temporada


CONSORCIO RIO MOTORSPORT

Plano. Projeto do novo autódromo do Rio, em Deodoro

MIGUEL RUIZ SÓLÓ/EFE-25/5/
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