O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

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B2 Economia DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Embora alguns indica-
dores apresentem va-
riação positiva, mas
modesta, o quadro afe-
rido por recentes pes-
quisas sobre as expec-
tativas de empresários

industriais e de consumidores é pre-


dominantemente marcado por pessi-


mismo e incertezas. A despeito de já
haver anúncio de decisões que ali-
viam as medidas de isolamento so-
cial, é muito baixa a confiança da
maioria dos agentes econômicos.
O Índice de Confiança da Indústria
medido pela Fundação Getúlio Var-
gas, por exemplo, subiu 3,2 pontos em
maio em relação a abril (passou de
58,2 para 61,4 pontos), mas ainda é o
segundo pior da história. A alta é mo-
desta, pois representa 7,4% da perda
de 43,2 pontos observada entre feve-
reiro e abril deste ano. Por isso, diz a
economista da FGV Renata de Mello

Franco, “ainda é cedo para concluir-
mos se o pior momento da crise ficou
para trás”. Não é improvável que indi-
cadores posteriores mostrem a persis-
tência de um quadro crítico.
A Sondagem Industrial da Confede-
ração Nacional da Indústria (CNI),
de sua parte, constatou que, apesar de
ter havido queda sem precedentes da
atividade industrial em março, a situa-
ção piorou em abril. “Mais da metade
da capacidade instalada da indústria
ficou ociosa em abril e os efeitos da
queda da atividade sobre o emprego,
que em março se faziam presentes, se

intensificaram”, segundo o relatório.
Houve pequena melhora nas expecta-
tivas, mas as pesquisas continuam a
mostrar “significativo pessimismo”
do empresariado para os próximos
seis meses.
As incertezas que marcam a vida
das famílias com relação a emprego e
renda, e afetam sua intenção de con-
sumo, continuam intensas e justifi-
cam a cautela, quando não o temor,
do setor industrial quanto à atividade
no futuro próximo. O Índice de Con-
fiança das Famílias, medido pela Con-
federação Nacional do Comércio de

Bens, Serviços e Turismo (CNC) e
que o setor considera uma antecipa-
ção do potencial de consumo, regis-
trou em maio redução de 13,1%, a se-
gunda queda mensal consecutiva e a
maior de toda a série iniciada em ja-
neiro de 2010. A perspectiva profissio-
nal das famílias piorou ainda mais,
com redução de 15,6% em relação a
abril.
São resultados que, como diz a
CNC, “transparecem a incerteza das
famílias em relação ao futuro profis-
sional e representam a insegurança
dos brasileiros”.

Alto Escalão


Editorial Econômico


Incertezas e


insegurança


disseminadas


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O


fundo de investimento imobiliário Vinci Instrumentos Financei-
ros (VIFI11) conseguiu a proeza de fechar, no meio da crise, a capta-
ção de recursos em sua oferta primária de cotas, coordenada pela

XP. A transação marca a reabertura das captações pelos fundos imobiliá-


rios, fechadas desde que a pandemia do coronavírus explodiu. A oferta do


VIFI11 deve movimentar em torno de R$ 130 milhões. Embora não seja um


valor tão vistoso, ficou bem acima do piso da oferta, de R$ 20 milhões.


Também superou o valor base, de R$ 120 milhões, chegando ao lote com-


plementar, com uma clara demonstração do apetite dos investidores. Os


valores precisos serão informados em fato relevante a ser publicado por


XP e Vinci nos próximos dias. Procuradas, as empresas não comentam.


A


qui vão algumas observações so-
bre o resultado do PIB do pri-
meiro trimestre divulgado nes-
ta sexta-feira: um recuo de 1,5% sobre o
PIB do trimestre anterior.
É só o começo. Essa forte marcha à
ré no crescimento da renda já era espe-
rada, mas isso não alivia. Pega só uma
pontinha da forte queda do consumo e
da produção que veio depois, porque o
isolamento social só foi adotado no
Brasil na última semana de março. A
destruição do tsunami que veio em se-
guida vai ser registrada nos trimestres
seguintes, especialmente no segundo
e no terceiro. E vai ser um desastre avas-
salador que, no entanto, já está sendo
previsto ou já está no preço, como se
diz no mercado financeiro, embora
não se saiba ainda em que proporções.
Iniciou lá fora. Os números negati-
vos do primeiro trimestre refletem tan-
to as incertezas que já vinham se avolu-
mando quanto os graves problemas
nos principais países que já estavam
atolados na pandemia, especialmente
China e Europa. E contou, também, a
prostração que atingiu a Argentina. O
consumo interno já vinha baqueando
bem antes do início da quarentena, na
medida em que o desemprego come-
çou a crescer em janeiro, porque as em-
presas anteviram o que já estava a cami-
nho e se anteciparam nas dispensas de
pessoal e, pior, no adiamento de novas
contratações. As estatísticas do Caged
e da Pnad, divulgadas na semana que
passou, já mostravam esse estrago.
O baque nos serviços. Assim como
o uso do cachimbo deixa a boca torta,
há certo desvio na percepção do brasi-
leiro de que PIB por aqui é principal-
mente comportamento da indústria.
Por isso, tende a ver tudo o que de ruim
acontece no PIB como reflexo do mal
das pernas que atinge em cheio o setor
industrial. É preciso não perder de vis-
ta as proporções. Pelos dados das Con-
tas Nacionais de 2019, o setor de servi-
ços tem um peso de 74% no tamanho
do PIB do Brasil: são transportes, co-
mércio, turismo, ensino, serviços de

saúde, setor financeiro, comunica-
ções, informática, correios, serviços
pessoais, etc. A indústria de transfor-
mação entra com 11% e a agropecuária,
com apenas 5,2%. Por isso, para o bem
ou para o mal, o impacto maior no PIB
vem do setor de serviços. No primeiro
trimestre, essa fatia caiu mais do que a
indústria, 1,6% ante 1,4%. Desta vez, o
comportamento pior refletiu a retra-
ção do consumidor que apenas se acen-
tuou com as perdas de salário e renda.
Sem repeteco. As estatísticas de in-
vestimento e poupança do primeiro tri-
mestre (ver gráfico abaixo) foram a
maior surpresa do PIB. A poupança
avançou de 12,2% do PIB para 14,1% do
PIB. E o investimento subiu de 15,0%
para 15,8%. Em boa parte tem a ver com
efeitos estatísticos e, também, com au-
mento de importações de equipamen-
tos de petróleo. Mas esse avanço não se
repetirá tão cedo.
Tentativa e erro. O que há são apos-
tas e não propriamente previsões.
Quem disser que tem certeza sobre o
tamanho da queda do PIB deste ano ou
está desinformado ou desregulado.
Uma das chaves é a retomada da ativi-
dade econômica, variável incerta. As
autoridades estavam no escuro quan-
do determinaram o início do distancia-
mento social e continuam no escuro
neste início de flexibilização, quando o
País vai batendo recordes de contami-
nação e de mortes pelo novo coronaví-
rus e, ainda assim, os números chegam
com indícios de subnotificação.
Mas há outra variável que pode pio-
rar tudo: a política. Os desencontros
entre os poderes institucionais são gra-
ves e recorrentes, de desfecho também
imprevisível, neste ano de eleições mu-
nicipais. A última estimativa feita por
73 analistas de economia, tal como rela-
tada pelo Boletim Focus, do Banco Cen-
tral, é de queda do PIB de 5,1% em


  1. É projeção sujeita a constantes
    revisões porque não passa de exercício
    de tentativa e erro.


»Das cinzas. Desde que a crise en-


grossou, a oferta do VIFI11 é a pri-


meira enquadrada na regra que per-


mite a participação de todos os ti-


pos de investidores. No meio da


pandemia, algumas poucas capta-


ções se concretizaram, mas apenas


para os investidores profissionais –


aqueles com mais de R$ 10 milhões


em aplicações, geralmente ricaços,


family offices e instituições.


»Porta aberta. O Vinci Instrumen-


tos Financeiros era um fundo consti-


tuído, porém só para esse grupo res-


trito. Esta oferta abre o investimen-


to à participação geral. Os recursos


serão usados na comprar cotas de


outros fundos imobiliários e certifi-


cados de recebíveis imobiliários. Os


gestores planejam aportar 80% dos


recursos nos primeiros 30 dias, para


aproveitar as cotas desvalorizadas


na crise. Neste ano, Índice de Fun-


dos Imobiliários (Ifix) caiu 17%, tor-


nando alguns ativos “baratos”.


»Amanhã. O sucesso da captação


dá ânimo às ofertas programadas


para as próximas semanas, que pre-


tendem levantar em torno de R$ 1


bilhão. Pela frente, há ofertas dos


fundos XP Logística, RBR Alpha e


Capitânia Securities. Pouco antes


da crise, 11 fundos planejavam cap-


tar R$ 3,5 bilhões, mas, desde mea-
dos de março, as ofertas acabaram
canceladas, suspensas ou adiadas.

»Fatia. O Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e Social
(BNDES) pode ter de assumir 30%
da operação de socorro ao setor elé-
trico, cujo valor deve ficar em torno
de R$ 16 bilhões. Os demais bancos
participantes do resgate aceitam en-
trar com valores entre R$ 1 bilhão e
R$ 1,5 bilhão, o que aumenta a neces-
sidade de aporte do BNDES.

»Me ajuda. Os bancos alegam que
vários setores econômicos estão de-
mandando dinheiro, em meio à pan-
demia. Alguns, inclusive, já conse-
guiram ter demandas atendidas, o
que reduz o volume disponível ao
setor elétrico. Por isso, a participa-
ção do BNDES, que coordena a ope-
ração, teria de ser maior.

»Barganha. Os valores por institui-
ção financeira devem ser definidos
nos próximos dias. A taxa de juros
deve ficar em torno de CDI mais
2,5% ao ano, e o prazo de pagamen-
to, por meio de uma taxa na conta
de luz, deve ser de cinco anos.

»E-namorados. A despeito da crise,
o comércio eletrônico deve crescer
na próxima data comemorativa do
varejo nacional – o Dia dos Namora-
dos. A expectativa é de alta de 18%
nas vendas online entre 25 de maio a
12 de junho deste ano, em compara-
ção ao mesmo período do ano passa-
do, de acordo com a Associação Bra-
sileira de Comércio Eletrônico (AB-
Comm). A expectativa é que fatura-
mento fique em R$ 2,96 bilhões para
o setor. A entidade espera um total
de 9,7 milhões de pedidos, com tíque-
te médio de R$ 303 por compra. No
dia das Mães, a alta foi de 16%.

»Cuidados. A Sapore, de refeições
corporativas, teve de rever proces-
sos de preparo de alimentos para
fornecer as refeições dos pacientes
do Hospital Municipal de Campa-
nha de Combate ao Coronavírus, no
Pacaembu. O período de higieniza-
ção da cozinha, por exemplo, foi re-
visado e agora é feito de 30 em 30
minutos. Além disso, os funcioná-
rios da Sapore usam equipamento
de proteção individual (EPIs) simila-
res aos de ambiente hospitalar.

»Fome. Diariamente, são entregues
cerca de 155 quilos de comida. A
quantia é suficiente para cinco refei-
ções diárias direcionadas aos 200
leitos da unidade de saúde, inaugura-
da há quase dois meses para suprir a
carência do sistema em meio à pan-
demia. A equipe da Sapore prepara
os alimentos. Já a entrega fica por
conta do time do hospital.

CIRCE BONATELLI, ANNE WARTH E
ALINE BRONZATI

CELSO


MING


●Índice de investimento e
poupança

FONTE: IBGE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

FBCF POUPANÇA BRUTA

1º TRI
2018

5,0

10,0

15,0

20,0

13,1 14,1


1º TRI
2020

14,7

15,8


EM PORCENTAGEM DO PIB

lNúmeros


R$ 2,96 bi
é a expectativa de receita do comércio
eletrônico no Dia dos Namorados, com
alta de 18% sobre 2019

Troyjo: presidente do banco dos Brics


O secretário especial de Co-


mércio Exterior e Assuntos


Internacionais, Marcos Troyjo,


será presidente do Novo


Banco de Desenvolvimento


(NBD), o banco dos Brics, a


partir de julho. O economista


Roberto Fendt o substituirá.


»Mercedes-Benz. A partir


de agosto, Philipp Schiemer


passa a CEO da Mercedes-
AMG. Ele é atualmente
presidente da montadora
no Brasil & CEO América
Latina, cargo que ficará com
Karl Deppen.

»Agibank. O banco digital
traz Thiago Souza Silva,
ex-Caixa Cartões, para ser
diretor de Relações com
Investidores.

»XP Private. Chegam Rober-
to Schott, Antônio Sá e Samir
Abras para os escritórios de
Miami, Lisboa e Belo Horizon-
te, respectivamente.

»Banco PAN. Fabio Jabur
(ex-Banco Votorantim) ingres-
sa como CDO (Chief Data Of-
ficer), à frente de dados,
Marketing e CRM.

»Tivit. Foi contratado Felipe


Kraus (ex-ThoughtWorks) co-
mo diretor de negócios em
Digital Business.

»VTEX. Renato Goulart (ex-
Facebook e Microsoft) é o no-
vo diretor de parcerias.

»Qualicorp. Frederico Oldani
(ex-Alliar) é o novo diretor
Financeiro e de Relações com
Investidores, posição que esta-
va interinamente com Elton

Carluci, VP comercial, de ino-
vação e novos negócios. Já
Alessandro Courbassier retor-
na como superintendente co-
mercial no RJ e região Sul.

»Condor. A nova diretora
de Marketing é Fernanda
Djanikian, vinda da Henkel.

»Sompo Saúde. O médico
Fernando Leibel ingressa
como diretor executivo.

Nem é pibinho.


É o início do desastre.


| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


● Evolução do Produto Interno Bruto
(PIB) do Brasil

FONTE: IBGE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM PORCENTAGEM, POR TRIMESTRE


2020


2018

4º 1º
2019

2º 3º 4º

0,4


-0,1


0,2


0,5 0,5 0,4


-1,5


MARCHA À RÉ


0

XP e Vinci reabrem mercado


de fundos imobiliários


E-MAIL: [email protected]

DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 23/1/2014

SERGIO CASTRO/ESTADÃO. - 23/1/2014

GABRIELA BILÓ/ESTADÃO

TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO -6/4/2020
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