WILHELM
SIMONSOHN
Piloto alemão
ORIENTANDO OS TANQUES
e a artilharia em direcção aos
alvos, a partir da cabina de um
avião de reconhecimento, Wilhelm
Simonsohn assistiu à invasão alemã
da Polónia, em 1939, de um ponto
muito acima dos combates.
Os primeiros dias da guerra
pareceram-lhe uma aventura.
Tudo isso mudou quando Wilhelm
entrou em Varsóvia. A capital
estava em ruínas. Milhares de
pessoas foram abatidas durante o
ataque. Agora com 100 anos,
Wilhelm diz que ainda se lembra
do fedor dos cadáveres em decom-
posição, presos debaixo dos escom-
bros. “Causou-me tal impressão
que disse para mim mesmo:
‘Nunca mais largarei uma bomba
em cima de um ser humano’.”
Recebeu formação como piloto
de caças e participou em dezenas
de missões nocturnas, esforçando-
-se por interceptar os bombardei-
ros britânicos. “Movia-me pela
ideia de impedir os ingleses de
pegarem fogo às nossas cidades”,
diz. “Tinha 22 anos e era ingénuo.”
Na Primavera de 1944, depois de
ver as cidades alemães em chamas,
Wilhelm percebeu que a guerra
estava perdida. “Compreendi que
precisava apenas de sobreviver.”
As notícias da rendição foram
recebidas com alívio. “O dia 8 de
Maio de 1945 representou o fim
de todas as matanças, de todo o
medo”, recorda. “As cidades
incendiadas transformaram-me
num pacifista. E, à medida que os
anos passam, sou-o cada vez
mais.” — Andrew Curry
SHIZUYO
TAKEUCHI
Sobrevivente japonesa
NÃO É POSSÍVEL FUGIR
às recordações de 25 de Fevereiro
de 1945, o dia em que os B-29
lançaram bombas incendiárias
sobre Tóquio. Nesse dia, Xizuyo
Takeuchi, então com 13 anos,
encontrou apenas cinzas no lugar
onde ficara a sua casa. Apenas
uma panela de arroz sobrevivera.
O seu dicionário de língua
inglesa, proibido, que lhe
fora oferecido pelos pais,
transformara-se em cinza.
Ela pegou numa só página, que
o vento rapidamente fez voar,
arrancando-lha das mãos.
Um segundo bombardeamento
incendiário, a 10 de Março,
forçou-a a fugir do torvelinho de
destroços, fumo e cadáveres
carbonizados. Lembra-se de
avistar uma mãe que tentava
proteger o seu bebé sob o seu
corpo. “Senti-me assustada
porque perdi as emoções durante
algum tempo”, recorda Xizuyo.
Hoje com 89 anos, casada, com
um filho e uma filha, trabalha
como contadora de histórias
num centro destinado a conservar
a memória dos horrores
da guerra. — Ted Gup
BORIS
SMIRNOV
Médico soviético
“SENTÍAMO-NOS cheios de
patriotismo soviético”, afirma Boris
Smirnov, de 93 anos, que viu
muitos dos seus camaradas de
armas morrerem durante o
conflito a que os soviéticos
chamaram a Grande Guerra
Patriótica. Em certa ocasião, o
pelotão de Smirnov estava a
construir uma ponte sobre o rio
Neman quando o comandante foi
atingido por uma bala,
possivelmente disparada por um
atirador furtivo inimigo.
“Havia outro soldado a meu
lado enquanto eu tentava
ajudá-lo”, recorda Boris. “Ele
disse-me: ‘Doutor, ajude-o, eu
dou-lhe cobertura’.” Enquanto o
médico enfaixava com ligaduras o
oficial atingido, ouviu-se um tiro
disparado da outra margem que
matou instantaneamente o
soldado que lhe dava protecção.
“Ele tombou em silêncio”, conta
Boris, ainda hoje entristecido pela
morte do seu protector.
Mais traumático foi um dia de
Outubro de 1944 em que o
pelotão de Boris se viu cercado.
“Vi os soldados alemães rirem-se
à gargalhada, sentados a cerca
de 50 ou 60 metros de nós”,
conta. “Nós corríamos na direcção
deles, gritando, e eles riam-se
e acenavam com os capacetes.
Os meus amigos iam caindo
à minha volta.”
Há um documento dos arquivos
russos que emociona
particularmente Boris Smirnov:
é uma lista dos seus camaradas
abatidos. — Eve Conant