O Estado de São Paulo (2020-06-07)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2020 Especial H9


com uma
companhia para
ver filmes em aplicati-
vos remotos.
A psicóloga Verônica Lemos
acrescenta ainda que é preciso
prestar atenção se os sentimen-
tos negativos se prolongarem.
“Permanecer chateado por mui-
to tempo pode levar à depres-
são e à ansiedade”, diz. “É im-
portante que esses jovens pos-
sam falar de suas frustrações.” /
COLABOROU GIOVANNA WOLF


  1. É melhor adiar a formatu-
    ra para ter mais chance no
    mercado em 2021?
    A questão divide a opinião de
    especialistas. Palestrante e
    CEO da Minucci Resultados
    na Prática, André Minucci
    não recomenda o adiamen-
    to. “Quanto mais rápido
    você avança, o mercado
    entende que você está
    mais preparado”, diz. Já
    Bruno Ferrari, orientador
    profissional e gestor esco-
    lar, afirma que a decisão
    depende da área de atua-
    ção. “Nem todos os
    mercados estão
    paralisados.
    Segmen-
    tos co-
    mo


saúde e educação, por exem-
plo, estão sendo de certa for-
ma impulsionados por essa
conjuntura.”


  1. Faz sentido trancar a ma-
    trícula da faculdade particu-
    lar no fim do curso ou atra-
    sar o TCC para manter o vín-
    culo de estudante?
    Essa não é uma boa ideia. “Não
    faz nenhum sentido”, diz Lísia
    Prado, sócia da consultoria
    House of Feelings. “Faça o seu
    TCC da melhor forma possível
    e saia com o sentimento de
    missão cumprida.” A executiva
    de RH Cidinha Fonseca acres-
    centa que para o mercado de
    trabalho o vínculo como estu-
    dante não faz muita diferença.
    “Adiar só é uma opção se a pes-
    soa tiver alguma barreira finan-
    ceira ou de saúde.”

  2. Sou estagiário e a empre-
    sa em que trabalho diz
    que só conseguiria
    me contratar em
    2021. É melhor
    não me formar


e esperar essa chance?
Essa opção tem prós e contras.
E é por isso que a maior parte
dos especialistas ouvidos pelo
Estadão diz que o melhor é
manter o plano e se formar.
“Por mais que a empresa fale
da possibilidade de uma vaga,
essa promessa pode não se efe-
tivar”, explica Vicente William
da Silva Darde, doutor em Co-
municação e coordenador de
Cursos do Centro Universitá-
rio das Américas/FAM.


  1. Não estou vislumbrando
    oportunidades no mercado
    de trabalho. Vale partir para
    uma pós ou mestrado?
    “Poucas pessoas de fato vão
    além do conhecimento básico
    que sua área necessita”, conta
    André Minucci, palestrante e
    CEO da Minucci Resultados na
    Prática. “Então, adquirir novos
    conhecimentos vai fazer toda a
    diferença para ser contratado
    ou até promovido depois.” Lí-
    sia Prado, sócia da House of
    Feelings, completa: “Se puder
    pagar, procure


cursos que vão garantir que
você se diferencie e que sejam
relevantes para a sua área.”


  1. No ano que vem, outra tur-
    ma se forma. Vou ter perdi-
    do para sempre a minha
    chance?
    De maneira nenhuma, diz o
    orientador profissional Bruno
    Ferrari. “A janela de oportuni-
    dade de ingresso no mercado
    de trabalho não se resume ao
    primeiro ano da formação. Cla-
    ro, há oportunidades para mo-
    mentos específicos, como os
    estágios e os programas de trai-
    nee, mas essas não são as úni-
    cas chances”, afirma. Vicente
    Darde, do Centro Universitá-
    rio das Américas/FAM, comple-
    ta: “Construa sua vida profis-
    sional sem pensar na concor-
    rência. Foque em você.”

  2. Depois de quanto tempo
    de formada a pessoa passa
    a ser vista como alguém
    que não conseguiu espaço
    no mercado de trabalho?
    Isso existe ou é uma visão
    antiga?
    “Não existe um
    número de anos.
    O que existe é a
    história que
    você


tem para
contar e o que aconte-
ceu na sua vida nesse inter-
valo”, explica a executiva de
RH Cidinha Fonseca. “Se a pes-
soa conseguiu um, dois ou três
anos para enriquecer o seu pe-
ríodo estudando, fazendo tra-
balho voluntário ou tendo algu-
ma experiência acadêmica, ela
tem uma história para contar.”


  1. Como me manter positivo
    na busca por emprego?
    “Não desanime. Saia de cada
    entrevista e se avalie, pense
    como foi seu desempenho, o
    que deveria ter dito e não dis-
    se, como estava sua postura,
    quais palavras usou, se ficou
    nervoso ou se não teve respos-
    ta para alguma pergunta”, diz
    Lísia Prado, da House of Fee-
    lings. Sandra Martins, professo-
    ra de Projeto de Vida e de Lín-
    gua Portuguesa, afirma que a
    busca do emprego envolve mui-
    to aprendizado. “Cada momen-
    to está preparando você para
    se tornar mais focado, menos
    inseguro e, com certeza, mais
    contratável.”

  2. Como lidar com o “não”
    em um processo seletivo?
    “Aceite o ‘não’ exatamente co-
    mo o que é: uma possibilida-
    de”, diz o orientador profissio-
    nal Bruno Ferrari. Executivo
    de Marketing da Companhia
    de Estágios, Fabrício Treviso
    completa: “O ‘não’ é um feed-
    back comum na vida de um jo-
    vem talento. Grandes profissio-
    nais passaram por isso”.

  3. Como estudar melhor pa-
    ra o Enem?
    “A preparação para os vestibu-
    lares envolve três eixos: você


precisa aprender os conteúdos
centrais, dominar a linguagem
e o estilo das questões para
acertar em tempo competitivo
e ganhar experiência de pro-
va”, explica Bruno Ferrari,
orientador profissional e de
carreiras. A professora Sandra
Martins também dá dicas práti-
cas. “É preciso desenvolver
uma agenda de estudos. Nin-
guém passa na prova do Enem
ou em qualquer outra sem dedi-
cação”, afirma.


  1. Tenho dúvida se a minha
    preparação é suficiente pa-
    ra passar no Enem. Devo de-
    sistir de fazer as provas nes-
    te ano?
    A recomendação da professo-
    ra Sandra Martins é que a pes-
    soa não desista. “O Enem é
    uma prova com hábitos, com
    estilo próprio de questões.
    Mesmo que você não passe,
    poderá aproveitar esses e ou-
    tros aprendizados práticos pa-
    ra a sua vida. Faça a prova!”,
    afirma ela.

  2. É normal me sentir ainda
    mais angustiado sobre o fu-
    turo neste momento?
    Sim, segundo o orientador pro-
    fissional Bruno Ferrari. “É ab-
    solutamente natural e você
    não está só”, explica o especia-
    lista. “O momento do ingresso
    na universidade e no mercado
    de trabalho envolve a tensão
    do término de uma fase da vida
    e do início de outra totalmente
    desconhecida.” Vicente Darde,
    coordenador de cursos do Cen-
    tro Universitário das Améri-
    cas/FAM, concorda que a an-
    gústia está maior e completa:
    “Estamos vivendo um período
    muito angustiante por conta
    do combate ao novo coronaví-
    rus. Busque, na medida do pos-
    sível, manter atividades que
    tragam bem-estar, como exer-
    cícios físicos, além de uma ali-
    mentação saudável. Mantenha
    também seus relacionamentos
    sociais e afetivos, mesmo que a
    distância”.

  3. O conteúdo online da fa-
    culdade que acabei de come-
    çar está muito difícil. É um
    indício de que não vou con-
    seguir acompanhar também
    quando a aula presencial
    voltar?
    É muito cedo para pensar as-
    sim, na opinião do orientador
    profissional e de carreiras Bru-
    no Ferrari. “O fato de você sen-
    tir que o conteúdo online está
    muito difícil se deve tanto a
    um ajuste de compasso, natu-
    ral, quanto exatamente ao fato
    de que tudo isso está aconte-
    cendo online”, justifica Ferra-
    ri. “Em primeiro lugar, nin-
    guém estava completamente
    preparado para a migração de
    toda a educação para o am-
    biente virtual. Há uma grande
    diferença entre educação a dis-
    tância e o ensino remoto emer-
    gencial, que é o que estamos
    vivenciando neste momento.
    Fora que muitos estudantes
    precisam mais do contato vi-
    sual e da presença física para
    aprender. Isso depende so-
    mente das características de
    cada indivíduo.”


Especial. Veja dicas para enfrentar
período de confinamento.
http://www.estadao.com.br/e/quarentena

NA WEB

PERGUNTAS & RESPOSTAS

N


a época em que Ana Pau-
la Martins Nunes se for-
mou em Enfermagem
na Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar) não havia
dificuldade para encontrar em-
prego na área – assim como ho-
je, em razão da pandemia pro-
vocada pelo novo coronavírus.
Mas logo após concluir o curso
ela resolveu se mudar de São
Carlos, no interior, para a capi-
tal paulista, e encontrou um no-
vo mundo.
“Arranjar emprego foi fácil, o
difícil foi assimilar tudo no co-

meço da carreira. No interior
não tínhamos tantos recursos
e tecnologias como nos hospi-
tais em São Paulo. Não conhe-
cia muitos materiais e tive de
correr atrás para me adaptar”,
conta.
Para Ana Paula, é importante
que a nova geração crie seus pró-
prios caminhos, diferentes da-
queles abertos pelas gerações
anteriores. “Eu, por exemplo, fi-
quei 26 anos no mesmo hospi-
tal. Acredito hoje que os jovens
podem fazer diferente e se
transformar mais. Espero que
as experiências da minha gera-
ção possam ser aperfeiçoadas
por eles”, afirma. / G.W.

‘OS JOVENS PODEM


SE TRANSFORMAR’


ACERVO PESSOAL

R


afael Andrade se formou
em Direito em 2007 e já
estava empregado. Mas
calhou de o início de sua carrei-
ra coincidir com a crise econô-
mica de 2008, que afetou o mer-
cado de trabalho em todo o
mundo.
“Havia muita incerteza em re-
lação aos efeitos duradouros
dessa crise. Desde o começo da
faculdade me preparei para se-
guir no mercado de capitais, so-
nhava com isso, e me vi obriga-

do a migrar, porque era uma
área que não fazia mais sentido
naquele contexto de recessão”,
diz ele, que fez o curso na FGV,
com bolsa.
Andrade resolveu então mu-
dar para a área de fusões e aqui-
sições, dentro do Direito, onde
segue até hoje. “Às vezes é me-
lhor começar no mercado com
um trabalho um pouco diferen-
te do que ficar três anos espe-
rando o emprego ideal. Em si-
tuações de crise é importante
ter paciência, ficar atento às mu-
danças do mercado e ser flexí-
vel”, aconselha. / G.W.

‘SITUAÇÕES DE CRISE


PEDEM PACIÊNCIA


E FLEXIBILIDADE’


ansiedade e até depressão.” O
profissional orienta que o estu-
dantes que vão prestar o Enem
organizem o tempo e as ativida-
des neste período, incluindo es-
paço para atividades físicas e pa-
ra falar com amigos.
Andreatta é responsável pela
coordenação da transição de
profissionais e de estudantes
das aulas presenciais para o am-
biente online do Colégio Maris-
ta Arquidiocesano, em São Pau-
lo. Ele conta que as aulas grava-
das deram um suporte emergen-
cial, mas não se mostraram sufi-
cientes. “O aprendizado requer
socialização, é um processo vivi-
do em conjunto.”

Drive-thru. Antes mesmo da
notícia de adiamento do Enem,
a preocupação do cursinho co-
munitário que funciona na Esco-
la Estadual Dom Pedro Villas
Boas de Souza, em Embu-Gua-
çu, já era buscar alternativas se-

guras para garantir que a roti-
na de estudos não fosse tão
prejudicada.
Antes da quarentena, o cur-
so atendia mais de cem estu-
dantes. “O acesso à internet
sempre foi uma dificuldade
para os alunos”, conta a pro-
fessora voluntária Sabrina
Gonçalves.
O cursinho decidiu, então,
continuar agora a doação de
material didático, que já era
feita pelos professores. A ini-
ciativa passou a funcionar
no esquema de drive-thru.
Ao lado dos também profes-
sores voluntários Filipe Mar-
ques e Polly Santana, a equi-
pe montou 60 kits, que já fo-
ram distribuídos. “Agenda-
mos dia e horário para que os
alunos viessem buscar, res-
peitando as condições de se-
gurança, com o uso de másca-
ra e álcool em gel”, conta
Marques. / L.N. e R.P.

Adaptação. Ana aprendeu a usar novas tecnologias

ACERVO PESSOAL

Reforço. Cursinho distribui kits para ajudar estudantes

Rafael Andrade, 33 anos
Advogado

ILUSTRAÇÃO: MARCOS MÜLLER

Ana Paula Nunes, 55 anos
Enfermeira
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