O Estado de São Paulo (2020-06-10)

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B8 Economia QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


‘Deputados dos EUA


têm visão deturpada’


Beatriz Bulla
CORRESPONDENTE / WASHINGTON


O encarregado de negócios
da embaixada brasileira em
Washington, Nestor Forster,
rebateu a Comissão de Orça-
mento e Assuntos Tributá-
rios da Câmara dos Estados
Unidos, que na semana passa-
da disse se opor a um acordo
comercial com o Brasil.
Em uma carta ao representan-


te comercial dos EUA, Robert
Lighthizer, 24 deputados – in-
cluindo o presidente do colegia-
do, Richard Neal – afirmaram
que o presidente Jair Bolsonaro
é “um líder que desconsidera o
estado de direito e tem desman-
telado árduo progresso nos di-
reitos civis, humanos, ambien-
tais e trabalhistas” no País.
Na resposta enviada aos depu-
tados, Forster escreveu que a
afirmação sobre Bolsonaro é

“errônea, que parece se basear
em deturpações e desinforma-
ção”. O embaixador afirmou
que o documento elaborado pe-
los parlamentares contém in-
formações “bastante impreci-
sas e incorretas”.
A aproximação do atual gover-
no brasileiro com os EUA tem
encontrado no Capitólio um fo-
co de resistência que ganhou
musculatura desde a repercus-
são internacional dos incên-

dios na Amazônia. Com a elei-
ção de Bolsonaro, parlamenta-
res democratas da ala progres-
sista passaram a demonstrar
preocupação com a situação da
democracia, direitos humanos
e proteção ambiental no Brasil.
A articulação ganhou força no
segundo semestre do ano passa-
do, com a alta nas queimadas na
Floresta Amazônica.
Na ocasião, as movimenta-
ções passaram a ter caráter for-
mal, em tom de resolução inter-
na, e a contar com o respaldo de
parlamentares considerados
moderados dentro do partido.
Desde novembro de 2018, a Câ-
mara dos Deputados é de maio-
ria democrata, de oposição a Do-
nald Trump, de quem o gover-
no Bolsonaro se declara aliado.

Facilitação. O Brasil tem ambi-
ção de concluir, até o fim do
ano, um pacote de facilitação
de comércio com os Estados

Unidos – que não envolverá
acordo sobre tarifas. Os deputa-
dos da Comissão de Orçamen-
to, no entanto, mostraram for-
te objeção à continuidade das
negociações entre os dois go-
vernos.
Os deputados argumentam
que o governo Bolsonaro “não
pode ser considerado prepara-
do para assumir novos padrões
de direitos trabalhista e am-
biental previstos no acordo
EUA-México-Canadá”. O for-
mato e as condições do acordo
dos EUA com os vizinhos do He-
misfério Norte, na remodela-
ção do Nafta, é usado de arca-

bouço para as negociações com
o Brasil.
Forster afirmou a Neal que
“muito ao contrário do que sua
carta afirma, o Brasil manteve,
sob o governo Bolsonaro, um
sólido histórico de respeito aos
direitos humanos e trabalhis-
tas, além de proteção da digni-
dade dos trabalhadores”. “As
leis trabalhistas abrangentes e
protetoras do Brasil, em mui-
tos aspectos, oferecem direitos
ainda mais amplos ao trabalha-
dor médio do que em outros paí-
ses, incluindo os EUA. Muitos
desses direitos estão consagra-
dos em dispositivos constitu-
cionais, que permanecem intac-
tos”, escreveu o embaixador.
Amigo de longa data do escri-
tor Olavo de Carvalho, Forster
foi o responsável por levar o ho-
je chanceler, Ernesto Araújo,
para conhecer o escritor e es-
pécie de guru do governo Bolso-
naro, que vive em Virgínia.

l]
FRED TRAJANO

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PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lAmazônia
Nestor Forster afirmou na carta
que o agronegócio não é respon-
sável pelo desmatamento e que
fazendeiros devem preservar,
por lei, 80% da vegetação nativa

N


ão há escolha impossível a ser
feita numa sociedade digital:
pessoas e PIB são preservados
A pandemia de covid-19 deixou o
mundo de joelhos. Milhões de conta-
minados. Quase 400 mil mortos. E
uma economia que cambaleia enquan-
to a solução definitiva – a vacina – não
aparece. No Brasil, já há estimativas
de queda do PIB de 8% em 2020. Mi-
lhares de empresas e empregos desa-
parecerão. Das cinzas, surgirá um país
ainda mais empobrecido e desigual.
Mas não precisa ser assim. E não
estou falando em escolher entre a saú-
de das pessoas e a da economia. Esse é
um dilema inexistente quando a me-

lhor solução disponível é adotada: tecno-
logia, a “fórmula mágica” para resolver
uma equação que, para muitos, é insolú-
vel. O Brasil precisa se transformar – rapi-
damente – num país digital. É isso que
vai salvar a economia do colapso e, ao
mesmo tempo, preservar vidas.
Temos os pilares para criar uma socie-
dade que conecte governo, cidadãos, em-
presas e consumidores. Há cerca de 230
milhões de smartphones em uso no Bra-
sil e cerca de 80% das casas têm internet.
O brasileiro é um dos recordistas mun-
diais em navegação nas redes sociais. Mi-
lhões com internet nas mãos: essa é a
base da digitalização. E ela está pronta.
O desafio é fazer com que o brasileiro
transacione digitalmente – vendendo e
comprando, oferecendo e consumindo.
É um caminho trilhado por vários países.
A Estônia é hoje a referência, com sua

excepcional plataforma de e-gov. Ape-
nas três serviços públicos exigem a pre-
sença física: casamento, divórcio e trans-
ferência de imóveis. Sim. A Estônia é um
país pequeno. Tem 1,3 milhão de habitan-
tes, o que facilita as coisas. Mas o que
dizer da China, com seus mais de 1,4 bi-
lhão de habitantes? Graças ao investi-
mento brutal em digitalização, a gigan-
tesca economia chinesa já começa a mos-
trar sinais de recuperação.
No Brasil, precisaremos de senso de
urgência para garantir uma recuperação
econômica em V e evitar uma dolorosa
volta em U. O Brasil S.A. é analógico –
por desconhecimento ou medo de mu-
dar. A transformação, porém, é vital.
Restaurantes não precisam desapare-
cer porque suas mesas estão vazias. Pedi-
dos digitais e serviços de entrega estão sal-
vando vários deles. Quem disse que todas

as aulas precisam ser presenciais? Temos,
agora, 50 milhões de crianças e adolescen-
tes aprendendo em suas casas. Com a tele-
medicina, médicos continuam a atender
muitos de seus pacientes.
Existem 5 milhões de empresas varejis-
tas no Brasil – a maioria delas, muito pe-
quenas. Dessas, 50 mil usam a internet
para fazer negócios. É quase nada. Mas a
pandemia está empurrando os analógi-
cos para a transformação digital. A boa
notícia é que empreendedores, sem re-
cursos ou conhecimento para investir
em tecnologia, não estão sozinhos. O
País já possui ecossistemas de negócios,
nos quais eles são muito bem-vindos.
Estou à frente de uma companhia cujo
propósito é contribuir para digitalizar o
Brasil por meio da inclusão de empreen-
dedores no nosso ecossistema digital.
Ao fechar as portas e sufocar milhares de

pequenas empresas, a pandemia tor-
nou essa bandeira ainda mais impor-
tante. Em março, quando a crise mos-
trou sua dimensão real, lançamos um
programa que permite que microem-
preendedores coloquem seus esto-
ques nos nossos canais digitais e ven-
dam para nossos milhões de clientes.
Em apenas 60 dias, 20 mil deles volta-
ram a respirar.
A tecnologia que transforma e forta-
lece empresas, pode fazer o mesmo
com o País. Não estamos fadados a
escolher entre duas catástrofes: a sani-
tária e a econômica. Ao colocar o Bra-
sil no século 21 com a digitalização es-
taremos livres de fazer uma opção des-
necessária.

]
PRESIDENTE DO MAGALU

Petrobrás planeja retomada gradual a partir de julho. Pág. B10}


Embaixada rebate Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários


da Câmara, que disse se opor a um acordo comercial com o Brasil


Só a digitalização pode salvar a economia da covid-


Opinião

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