Sabor Club - Edição 29 (2019-05)

(Antfer) #1
Sabor. club [ ed. 29 ] | 29

ELA ERA UMA MENINA MUITO INTERESSADA PELA COZINHA, SEM SABER
que era. Volta e meia, depois da escola, estava entre as panelas, para ver como a
Ia e a Carmelita, as cozinheiras da casa da mãe dela, preparavam os cardápios que
a matriarca, uma anfitriã dedicada, pedia para fazer, com ingredientes que ela
rotulava com “da feira ao baile”.
Mais tarde, adolescente, pediu para Maria da Graça, que ia à casa dela só para fazer
doces, para ensiná-la criar uns bolos. A Maria lembra das tais tardes como se fosse
hoje. A jovem à sua frente manipulava a cozinha com tamanha propriedade,
que impressionava. Desenhava formas, cores e sabores com a intimidade de quem
cuida de um velho amigo. Não tinha como as receitas da Robertinha, diz, darem
errado: ela cozinha com amor.
“Era bonito vê-la trabalhar. Sabia o que fazer com cada ingrediente e colocava a
mão na massa. Se precisasse lavar a louça, lavava. Eu estava lá para ajudar, mas ela
sempre fez questão de cuidar de tudo de muito perto”, lembra Maria da Graça.
Hoje, olhando para trás, a dona do Da Feira ao Baile, café batizado com a
expressão tão usada pela mãe dela, diz que, apesar das evidências, nunca imaginou


que, aos 33 anos, faria sucesso recriando as tortas e bolos que comia quando menina.
Na verdade, nem sabia que gostava tanto assim de cozinhar, a ponto de torná-la uma
profissional da área.
Roberta Julião, formada em Administração de Empresas, trabalhava no mercado
financeiro, quando recebeu um telefonema da amiga Stephanie Nusbaum, pedindo
“um daqueles bolos” que ela costumava servir nas festas. Pronto, os amigos dos
amigos começaram a fazer encomendas e ela, sabe-se-lá-por-que fazia gosto em
atendê-los. Resultado: a cozinha dela começou a ficar pequena. Mas só no tamanho.
As referências que depositava em cada receita eram tão carregadas de memórias, tão
imensas de valor afetivo, que se tornavam impossíveis de serem medidas.
O mesmos amigos dos amigos compravam bolos e, de quebra, pediam indicações
de restaurantes em São Paulo. Foi quando surgiu a ideia de criar um blog para
concentrar as sugestões. Lá, a Roberta também compartilhava algumas das receitas
que fazia em casa. Isso há dez anos, o que a torna uma das primeiras a se movimentar
no agora concorrido mundo da cozinha na internet. Enquanto isso... os bolos não


Roberta trabalhava no mercado financeiro, quando uma amiga
pediu “um daqueles bolos” que ela costumava servir nas festas

Além do forno
Roberta Julião
vai fazer menu
degustação
Mesmo não podendo
prever o futuro,
Roberta já tem ideia
de onde quer estar.
Recentemente,
esteve em
Copenhague, na
Dinamarca, onde
estudou cozinha
sazonal e teve a
oportunidade de
colher aquilo que
cozinharia, e começa
a desenhar a ideia
de abrir seu próprio
restaurante para servir
menu degustação.
“Não há saída:
teremos de cozinhar
com um melhor
aproveitamento
dos ingredientes,
fazer comida com
aquilo que se tem.
Já não dá mais
para trabalharmos
com desperdício,
em tempos que a
sustentabilidade não
é mais discurso, mas
necessidade.”
O projeto está
tomando cara e o
restaurante deve
sair em breve, com
uma certeza: será
uma casa com menu
confiança e o mesmo
clima do seu café que
faz tanto sucesso.
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