Crusoé - Edição 112 (2020-06-19)

(Antfer) #1
19/06 / 20 ENTREVISTA

Ian Bremmer


A geopolítica na pandemia


Ian Bremmer, presidente da
badalada consultoria global Eurasia,
afirma que a maioria das democracias
tem instituições capazes de resistir à
crise e calcula o risco de mais um
impeachment no Brasil


Duda Teixeira

O cientista político americano Ian
Bremmer cunhou a expressão G-
Zero em seu livro Cada nação por si



  • perdedores e ganhadores em um
    mundo sem lideranças, publicado em



  1. A expressão era um jogo com
    as badaladas e improdutivas reuniões
    de cúpula, como o G20 e o G7. O G-
    Zero, definiu ele, seria uma ordem
    mundial em que “nenhum país ou
    aliança durável de países é capaz de
    preencher os desafios de uma
    liderança global”.


Para Bremmer, fundador e
presidente da consultoria Eurasia, a
pandemia do coronavírus acelerou
alguns movimentos que já estavam
ocorrendo e aprofundou conceitos
que ele já tinha traçado em seu livro,
como a carência de uma liderança
poderosa e de alcance global. Apesar
de ter ficado mais belicosa, a China,
diz o analista, só conseguirá ganhar
influência junto aos países mais
pobres. Em várias nações, protestos
testarão a estabilidade de governos.
“Quando estudamos a maioria das
democracias do mundo, vemos que


elas estão mais enraizadas e
estabilizadas do que se imagina. Isso
é uma boa notícia e uma má notícia.
É boa porque não haverá muitas
revoluções. É má porque, com isso,
os líderes políticos não serão
incentivados a fazer reformas”,
afirma.

Com escritórios em diversos
países, dois deles no Brasil, a Eurasia
colhe constantemente informações
para produzir relatórios sobre riscos
políticos. Bremmer não vê a
possibilidade de um golpe militar no
Brasil, ao contrário de prognósticos
publicados recentemente pelos jornais
Financial Times e New York Times.
Quanto a um possível impeachment
de Jair Bolsonaro, uma indagação que
certamente lhe é feita por muitos de

seus clientes ao redor do planeta, ele
tem a resposta na ponta da língua:
acredita que a possibilidade está
diretamente relacionada à aprovação
popular do presidente. “Para que o
impeachment de um presidente
brasileiro se torne muito provável, é
preciso que sua aprovação esteja
abaixo de 15%. É como nos Estados
Unidos”, diz Bremmer. Ele conversou
com Crusoé por telefone, de Nova
York.

A pandemia alterou o equilíbrio
de poder no mundo?
Muitas tendências que já estavam
em curso foram aceleradas. Os
Estados Unidos e a China já andavam
se estranhando antes. Com o
coronavírus, essa confrontação
aumentou dramaticamente. Também
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