O Estado de São Paulo (2020-06-21)

(Antfer) #1

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B2 Economia DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Os empresários da in-
dústria continuam a
projetar, para os próxi-
mos seis meses, queda
de demanda, de expor-
tações, de compras de
matérias-primas e do
número de empregados. O cenário
desenhado pela Sondagem Industrial


da Confederação Nacional da Indús-
tria (CNI), relativo a maio, continua
sombrio, como tem estado em conse-
quência dos impactos da crise decor-
rente da pandemia de covid-19 sobre
esse segmento da economia. Mas já
esteve muito pior.
Os resultados melhoraram em
maio. A utilização da capacidade ins-
talada, por exemplo, subiu de 49%
para 55%. Embora o dado do mês pas-
sado seja o segundo pior da série (o
pior foi o do mês anterior), é mais um
indicador de que o fundo do poço da
atividade industrial – e talvez de ou-

tros setores – talvez tenha sido atingi-
do em abril.
O humor do empresariado, em ra-
zão de dados positivos aferidos por
pesquisas recentes, começa a melho-
rar. Com base em dados mais recen-
tes, a CNI avalia que “o pessimismo
se reduziu de forma significativa em
junho; é menos intenso e dissemina-
do do que nos últimos meses”. Os
principais índices de expectativa, co-
mo os de demanda, de volume expor-
tado e de número de empregos, cres-
ceram em maio. Mas, como ressalva a
CNI, “todos os índices de expectativa

permanecem abaixo da linha divisó-
ria” (a linha é de 50 pontos; números
abaixo dela indicam queda).
A despeito da melhora das expecta-
tivas, o desempenho da indústria ain-
da apresenta resultados muito negati-
vos na comparação com períodos an-
teriores. A produção e o emprego re-
gistraram novas quedas em maio, na
comparação com abril, que já tinha
sido um mês de maus resultados.
Há alguns pormenores que suge-
rem melhora. As quedas foram menos
disseminadas no mês passado, pois
atingiram um número menor de em-

presas. O índice de evolução da produ-
ção estava em 43,1 pontos, 6,9 abaixo
da linha divisória, mas vem melhoran-
do, pois em abril a distância era de 24
pontos. Em geral, porém, os índices
continuam abaixo da linha divisória.
O índice de intenção de investir
continua num nível muito baixo, o
que traduz a persistência de um nível
elevado de pessimismo no empresa-
riado industrial nesse quesito. A baixa
utilização da capacidade instalada po-
de permitir a retomada rápida da pro-
dução sem necessidade de investi-
mentos imediatos.

Alto Escalão


Editorial Econômico


A indústria em


crise, mas menos


pessimista


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C


ontroladores e diretores do Magazine Luiza venderam, em maio,
mais de R$ 120 milhões em ações da companhia. O motivo foi no-
bre: parte do dinheiro bancará as doações feitas pela família Traja-
no para o combate à covid-19. A maior parte das vendas foi feita pela dire-
toria, sendo que seis integrantes têm parte da remuneração atrelada a
ações. Dois membros são da família, Frederico, o presidente
(foto) , e Fabrí-
cio Bittar Garcia, vice-presidente comercial e de operações. O timing para
a venda foi perfeito: o Magalu passou ao largo da crise e, em 2020, as ações
subiram mais de 46%. Na oferta de ações do fim do ano passado, quando o
mundo vivia outro contexto e as perspectivas para o Brasil eram de cresci-
mento, a ação foi precificada em R$ 43. Hoje, está em mais de R$ 67.


A


semana que passou trouxe duas
novidades a respeito da necessi-
dade de criação de um imposto
global sobre grandes empresas. (Não
confundir com imposto sobre grandes
fortunas).
Ainda que falte muito para um acor-
do entre países para uma convergência
sobre o assunto, a tendência para que
algo aconteça é forte, especialmente
agora que os Tesouros nacionais estão
quebrados pelo impacto da pandemia
e, por toda a parte, as autoridades da
área fiscal estejam batalhando compul-
sivamente por mais receitas.
A primeira novidade é a proposta de
economistas de renome, como Joseph
Stiglitz, Thomas Piketty, Jayati Ghosh
e José Antonio Ocampo, que defen-
dem um acordo global para cobrar im-
postos de multinacionais que transfe-
rem seu faturamento para paraísos fis-
cais ou para países de baixa tributação.
A outra novidade é que o governo
dos Estados Unidos quer paralisar as
negociações no âmbito da Organiza-
ção para Cooperação e Desenvolvi-
mento Econômico (OCDE) que têm
por objetivo cobrar um imposto inter-
nacional sobre as gigantes da tecnolo-
gia digital, como Google, Apple, Face-
book e Amazon. O argumento para es-
sa cobrança é o de que essas empresas
não pagam mais do que 9% de impos-
tos, enquanto as empresas comuns
não escapam de menos de 23%.
Essas duas propostas enfrentam
uma anomalia, digamos assim. Até ago-
ra, na história dos Fiscos, todos os im-
postos são cobrados dentro de frontei-
ras geográficas que delimitam a sobera-
nia tributária (princípio de territoriali-
dade). A ideia de passar a cobrar de
empresas que não se localizem no país
seria uma importante inovação.
A maior diferença entre as duas pro-
postas é que a dos economistas tem co-
mo alvo todas as grandes empresas, en-
quanto a discutida entre as potências
mundiais se limita a cobrar as megaem-
presas de tecnologia digital.
O projeto da OCDE vem sendo discu-
tido há alguns anos e esbarra sempre
na falta de vontade política dos Esta-
dos Unidos de ver suas empresas sub-
metidas a impostos cobrados por ou-
tras potências. Afora isso, todos são
contra os paraísos fiscais dos outros,
mas fazem questão de proteger os pró-
prios. Num momento em que todas as
iniciativas multilaterais vêm sendo
questionadas pelo governo Trump, es-
pecialmente a Organização Mundial
do Comércio (OMC) e a Organização
Mundial da Saúde (OMS), parece mes-
mo difícil um acordo global imediato.
Na falta dele, países como França e Rei-

no Unido já avisaram que tomarão de-
cisões unilaterais no curto prazo. E,
sempre que ocorrem decisões unilate-
rais, três coisas podem acontecer: múl-
tiplas taxações (cada país com a sua,
que se sobrepõe às de outros), o que
pode provocar excesso de taxação; ex-
clusão de empresas, como seria o caso
da chinesa Alibaba e de outras que vies-
sem a aparecer; ou o uso dessa decisão
como pretexto para retaliações comer-
ciais, como sugerem as ameaças do go-
verno Trump contra disposição da
França nesse sentido.
O projeto do ministro da Economia,
Paulo Guedes, para o Brasil é a criação
de um imposto sobre operações digi-
tais, nos moldes da antiga CPMF, não
sobre grandes empresas, mas sobre
um universo digital mais amplo, que
ainda não está claro. Não tem a ver
nem com a proposta dos economistas
liderados por Stiglitz nem com o proje-
to que se discute na OCDE, embora
este seja objeto de estudos no Grupo
dos 20 (G-20), do qual o Brasil tam-
bém faz parte. Mas essa proposta do
ministro Guedes já parece estar sob a
mira do governo Trump, na medida
em que atinge também produtos das
Big Techs dos Estados Unidos.
Duas são as principais considera-
ções a fazer. A primeira delas é que são
tantos os obstáculos políticos a enfren-
tar, que um acordo para criação de um
imposto global dessa natureza parece
muito distante. Nem a União Euro-
peia, o bloco de países mais integrado
do mundo, conseguiu uma união fiscal
mínima entre seus membros. Ou seja,
se algo sobre isso acontecer, será mais
provavelmente por iniciativa unilate-
ral. A França parece mais perto disso.
Segunda consideração: por mais que
se repita que o processo da globaliza-
ção esteja sendo truncado e possa en-
trar em colapso, as relações econômi-
cas internacionais já são tão intrinca-
das e passaram a impor uma situação
de interdependência tão forte entre
países, que fica difícil evitar grandes
acordos globais. Mais cedo ou mais tar-
de, iniciativas unilaterais nesse senti-
do produziriam tantas distorções que
apenas um acordo multilateral pode-
ria prevalecer.

»Do bem. No início da pandemia, a
família Trajano doou R$ 10 milhões
à compra de respiradores artificiais
para leitos de UTI, equipamentos
cardíacos, colchões e travesseiros
para abrigos para moradores de rua,
e ajuda financeira a hospitais públi-
cos e ONGs. Em cerca de dez dias,
outra doação da família deverá ser
anunciada. Procurado, o Magalu
não comentou.


»Sustentável. O principal centro
de logística da Nike no País está ge-
rando 80% da própria demanda por
energia. Em operação desde o pri-
meiro trimestre, a usina solar do
centro de distribuição em Louveira
(SP) gera, em média, 100 mil kWh
por mês. É o maior potencial em
um empreendimento logístico no
País. O CD também conta com com-
posteira para resíduos orgânicos e
usa gases emitidos na operação pa-


ra geração de energia elétrica. A me-
ta é zerar emissões ainda este ano.

»Quem fez. A DHL Supply Chain,
empresa da armazenagem e distri-
buição, e a GLP, especializada em
gestão de investimentos em logísti-
ca, trabalharam juntas no projeto.
Segundo João Prada, diretor de ope-
rações da DHL, houve consultas de
outras empresas por sistemas seme-
lhantes, inclusive fora do País.

»Outra praia. Com o retorno dos
gestores de patrimônio, fundos de
pensão e pessoas físicas diminuin-
do, tem crescido o interesse nos cha-
mados investimentos alternativos.
São aqueles com estratégias de pra-
zo mais longo e retorno maior que
os tradicionais, como renda fixa ou
ações. A plataforma Bloxs Investi-
mentos identificou que 42%, de um
universo de 932 investidores, preten-
dem direcionar até R$ 100 mil à ca-
tegoria nos próximos 12 meses.

»Longo prazo. Esses investidores
entendem a característica desse in-
vestimento. Para a maioria (32,5%),
o prazo de 24 a 36 meses parece o
mais adequado, enquanto 40,8% sa-
bem que seu patrimônio não está
100% protegido. As principais bus-
cas por investimentos são nos seto-

res de energia (25,6%), agronegócio
(23,3%) e imobiliário (22,9%).

»A conta. Com a quarentena, que
obrigou as empresas a acelerarem
estratégias digitais e o e-commerce,
o envio e o custo de mensagens SMS
aumentaram. O valor do tráfego de
SMS A2P (Application to Peer), de
uso exclusivamente corporativo, su-
biu entre 15% e 35%.

»Surpresa! Os comunicados sobre
o reajuste chegaram este mês e infor-
maram que outros aumentos estão
previstos. A Vivo informou “que se-
gue as condições comerciais defini-
das em contratos individuais firma-
dos com clientes revendedores de
SMS. Os contratos preveem o reajus-
te anual no mês de abril”. Diz, ain-
da, que por conta da pandemia pos-
tergou o reajuste, que passou a vigo-
rar em junho. A TIM disse que “pra-
tica sua política de preços do servi-
ço de SMS A2P conforme previsto
em acordo entre as partes”. A Oi
não comentou.

»Tem mais. Depois de cinco tentati-
vas frustradas de aprovar Termos de
Ajustamento de Conduta (TAC), a
Agência Nacional de Telecomunica-
ções (Anatel) conseguiu seu primei-
ro acordo, com a TIM. A agência pre-
vê duas novas propostas. Uma com
a Algar Telecom, de R$ 76 milhões e
outra com a Telefônica/Vivo, com
valores ainda em negociação. No
TAC, as empresas pedem a substitui-
ção de multas por investimentos.

»Finalmente. A proposta da TIM já
havia sido aprovada pela agência e
pelo Tribunal de Contas da União
(TCU). Atualizado, o valor chegou a
R$ 638 milhões. Em troca de investi-
mentos, os processos sancionadores
da agência serão arquivados.

FERNANDA GUIMARÃES, CYNTHIA
DECLOEDT, ANNE WARTH E
TALITA NASCIMENTO

CELSO


MING


MARCOS MULLER/ESTADÃO

15% a 35%
foi a alta no preço das mensagens SMS
cobrado das empresas que os usam
para se comunicar com seus clientes

Berenguer vai para a XP


l Números

Para expandir o banco
de atacado, a XP trouxe
José Berenguer do JPMorgan
Brasil. Ele será CEO do
Banco XP S.A.


»JPMorgan. Para suceder
José Berenguer virá Daniel
Darahem, antes em Hong
Kong, que assumirá como Se-
nior Country Officer no Brasil.


»CCR. Após renúncia do dire-
tor presidente Leonardo Vian-
na, assume Marco Cauduro.

»Smiles. Hugo Reis de As-
sumpção assumiu o cargo de
diretor financeiro e de rela-
ções com investidores, antes
acumulado pelo diretor presi-
dente André Fehlauer.

»IRB Brasil. A ex-ministra
do STF Ellen Gracie foi eleita

para o cargo de conselheira
independente.

»Embraer. Para presidente
e CEO da Aviação Comercial
foi escolhido Arjan Meijer,
sucedendo John Slattery.
Ele era CCO (chief commer-
cial officer) da divisão.

»Banco Fibra. Promoção de
Rodrigo Bueno a diretor exe-
cutivo Comercial.

»Abrasca. CEO da Cosan,
Luis Henrique Guimarães as-
sumiu a presidência do Conse-
lho Diretor da Associação Bra-
sileira das Companhias Aber-
tas, sucedendo Alfried Plöger,
que faleceu em abril.

»Siemens Gamesa. A fabri-
cante de turbinas de energia
eólica anuncia duas contrata-
ções: o CFO Rafael Capella
(ex-Bauchemie) e Elisabete

Gonçalves (ex-Walmart) para
diretora fiscal.

»Keune. Marcelo Raskin tor-
na-se CEO no Brasil.

»EY. A nova liderança no Rio
fica com Roberto Martorelli,
no lugar do sócio Mauro Mo-
reira, que se aposenta.

»Pravaler. O novo CFO é Ha-
roldo Carvalho (ex-Rodobens).

Pressões pela taxação de


operações digitais


| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


Comando do Luiza vende


R$ 120 milhões em ações


E-MAIL: [email protected]

ALLISON VALENTIM - 27/11/2019

PAULO WHITAKER / REUTERS

IARA MORSELLI/ESTADÃO-11/12/2017

JONNE RORIZ/ESTADÃO - 28/10/2010
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