O Estado de São Paulo (2020-06-21)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2020 Economia B5


AFFONSO CELSO


PASTORE


S


uponhamos que fosse possí-
vel contornar a regra do teto
de gastos e usar um valor em
torno de 5% do PIB das reservas in-
ternacionais para financiar investi-
mentos em infraestrutura. Defenso-
res da ideia diriam que estaríamos
apenas trocando um ativo com um
baixo retorno social, as reservas, por
outro ativo com um elevado retorno
social, uma melhor infraestrutura.
Como as reservas seriam “excessi-
vas”, pois devido à recessão esta-
mos caminhando para um superávit
nas contas correntes, não teríamos
de nos preocupar em reduzi-las.
Nunca, em toda a minha carreira de
economista, com mais de 45 anos

como professor, vi tantos erros em um
único argumento.
Erro #1: Do ponto de vista contábil, o
déficit nas contas correntes é o exces-
so das importações de bens e serviços
(mercadorias, fretes, seguros, viagens
internacionais) sobre as exportações,
mas, do ponto de vista econômico, ela
é o excesso da absorção doméstica
(consumo das famílias, mais investi-
mentos em capital fixo, mais o consu-
mo do governo) sobre o PIB. Se desti-
narmos 5% do PIB para os investimen-
tos em capital fixo (é isto que são os
investimentos em infraestrutura), ele-
varemos a absorção em 5 pontos de
porcentagem do PIB, o que significa
que, se as contas correntes estivessem

em equilíbrio, chegaríamos a um défi-
cit de 5% do PIB. Como nesta recessão
caminhamos para um pequeno supe-
rávit nas contas correntes, com esta
medida chegaríamos a um déficit um
pouco menor do que 5% do PIB.
Erro #2: O que interessa não é apenas
o saldo em contas correntes, e sim o do
balanço de pagamentos como um todo,
que inclui a conta financeira e de capi-
tais. Toda a acumulação de reservas rea-
lizada pelo Brasil foi exclusivamente de-
vida aos superávits nas contas financei-
ra e de capitais, com contribuições im-
portantes dos investimentos estrangei-
ros diretos e dos investimentos em car-
teira. O maior supridor de investimen-
tos estrangeiros diretos no Brasil é a
Europa Ocidental, cuja recessão é mais
profunda e será mais longa do que a dos
EUA, limitando o apetite (e a capacida-
de) de suas empresas investirem nas
subsidiárias brasileiras.
Estas, por seu turno, diante da reces-
são, veem seus lucros no Brasil desaba-
rem, o que as impede de contribuir
através do reinvestimento de lucros e
dividendos no País, que historicamen-
te respondem por 20% dos investimen-
tos diretos. Para dar uma ideia de qual
pode ser a queda total basta comparar

a média dos últimos cinco anos, de
US$ 60 bilhões por ano, com o ingres-
so de apenas US$ 25 bilhões durante a
crise menos profunda de 2008/09.
Erro #3: O argumento ignora os inves-
timentos em carteira, que contribuem
com mais de um terço dos ingressos na
conta financeira e de capitais. Contraria-
mente aos investimentos diretos, estes
são voláteis e sensíveis à percepção de
risco por parte de investidores não resi-
dentes. Sempre tivemos ingressos líqui-
dos, que em alguns anos atingiram US$
60 bilhões e em outros perto de US$ 80
bilhões, mas a partir da perda do grau de
investimento passamos a enfrentar saí-
das, que nos últimos 12 meses chega-
ram a US$ 60 bilhões, com grande acele-
ração após o início da pandemia e a pio-
ra da situação fiscal. A soma de investi-
mentos diretos e em carteira já tornou a
conta financeira e de capitais deficitá-
ria, e esse déficit deve aumentar.
Erro #4: O argumento ignora o efeito
combinado nas contas correntes e de
capitais. Com o retorno do déficit nas
contas correntes e com o aumento da
percepção do risco fiscal que eleva as
saídas dos investimentos em carteira,
há um aumento do déficit na balança
de pagamentos que acentua a queda de

reservas e deprecia o real. Em vez de
limitar os gastos de reservas a 5% do
PIB – o plano original de investimen-
tos –, teremos uma perda adicional
de reservas vinda do aumento do
déficit no balanço de pagamentos.
Erro #5: Superávits no balanço de
pagamentos levam à valorização
cambial, enquanto déficits levam à
depreciação. Ou seja, quanto mais
ambicioso for o “programa de inves-
timentos baseado em reservas”,
maior será o déficit no balanço de
pagamentos e mais intensa a depre-
ciação cambial. Para estancar este
movimento, o Banco Central seria
condenado a elevar a taxa de juros
em meio a uma recessão profunda.
Erro #6: Vender reservas para gas-
tar em infraestrutura é igual a emitir
moeda para o mesmo propósito, o
que somente não seria um erro para
os adeptos da MMT.
Em conclusão, é melhor abando-
nar essa ideia estapafúrdia, que não
faz o menor sentido.

]
EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E
SÓCIO DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS.
ESCREVE QUINZENALMENTE

Cleide Silva


Mesmo com a pandemia do
coronavírus, que resultou em
queda de quase 40% nas ven-
das até maio em relação ao
mesmo período de 2019, os
preços dos carros novos em
geral subiram, até agora, 6% a
7%, em média. Os reajustes
são decorrentes da desvalori-
zação do real e levou a Gene-
ral Motors a suspender a pro-
dução de algumas versões de
modelos para os quais não
consegue repassar custos,
em especial os mais baratos.

“Estou no Brasil há sete, oito
anos e nunca tinha visto aumen-
tos como estes num período de
seis meses”, afirma o presiden-
te da General Motors na Améri-
ca do Sul, Carlos Zarlenga. Só
neste ano, a moeda americana
teve valorização de 32,5%. Já no
período de 12 meses, a cotação
passou de R$ 3,70 em julho de
2019 para R$ 5,31 na sexta-feira.
“Isso significa um impacto vio-
lento e tem atrapalhado os negó-
cios quase tanto quanto a que-
da de volume de vendas”.
O executivo informa que a
GM, assim como outras fabri-
cantes, tem repassado parte
dessa alta aos preços. Os veícu-
los têm vários componentes im-
portados, principalmente os
eletrônicos e sistemas de eleva-
da tecnologia. “Mas há muitos
produtos que não são rentáveis,
mesmo com reajuste, e é me-
lhor não produzir e não vender


pois, quanto mais se produz e
vende, mais dinheiro se perde.”
Zarlenga não quis revelar
quais produtos a GM deixou de
produzir neste momento, mas
afirma que as versões de entra-
da (as mais baratas de cada mo-
delo) são as que têm mais pro-
blemas de repasse de custos.

Retorno. Desde a semana pas-
sada, as cinco fábricas da GM no
Brasil voltaram a operar, mas
com metade do pessoal e produ-
ção adequada à previsão de de-
manda para este ano que, na opi-
nião de Zarlenga, deve ficar em
1,9 milhão de veículos. No início
do ano a previsão do setor era
de vendas de 3 milhões de veícu-
los, 9% a mais que em 2019.
Todas as fábricas voltaram a
operar com apenas um turno.
Dos cerca de 15 mil funcioná-
rios, metade está em casa, com
contratos suspensos (lay-off).
O governo deve prorrogar a MP
936, que trata do lay-off e da re-
dução de jornada de trabalho,
mas Zarlenga vai avaliar se o gru-
po vai renovar sua adesão.
“Tudo vai depender de como
será a retomada do mercado.
Com os níveis de volume previs-
tos, em algum momento vamos
ter de decidir se vamos esten-
der o lay-off ou se haverá redu-
ção do emprego, que é uma op-
ção para nós e toda a indústria”,
diz o executivo. “Evidentemen-
te, o impacto da demanda vai se
refletir no emprego na indús-
tria, mas quanto e em que mo-
mento veremos mais para a
frente. Até agora, estamos ten-
tando segurar os empregos o
máximo possível.”

Investimentos. O executivo
afirma que o setor como um to-
do duplicou o patamar de dívi-
das para cobrir a queda no fluxo
de caixa, e algumas empresas de
autopeças que não consegui-
ram empréstimos “não vão con-
seguir sair da crise”.
Os investimentos planejados
para os próximos anos vão ser
bem menores pois, segundo ele,
o impacto da covid-19 não será
só de curto prazo, mas de médio
e longo prazos. O plano da GM
de aplicar R$ 10 bilhões até 2014
continua congelado, “e agora va-
mos avaliar quais projetos va-
mos retornar”, diz Zarlenga.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Cotação


GENERAL MOTORS - 18/5/2020

Com dólar


alto, GM


tira modelos


da produção


Mesmo com reajuste médio de 7% no ano,


produzir algumas versões não é rentável


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32,5%
é a valorização do dólar em com-
paração ao real só neste ano,
considerando a cotação da últi-
ma sexta-feira. Moeda brasileira
tem sofrido maiores perdas entre
as moedas de outras economias
consideradas emergentes.


Volta gradual. Dos cerca de 15 mil empregados da General Motors no País, metade está em casa, com contratos suspensos

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