O Estado de São Paulo (2020-06-21)

(Antfer) #1

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B4 Economia DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


ALBERT


FISHLOW


E


screvo esse texto no dia 19 de
junho. O dia é conhecido co-
mo Juneteenth, quando es-
cravos em Galveston, Texas, foram
finalmente libertados pelo Exército
da União em 1865, muito depois da
terceira emenda de Lincoln, em


  1. A ocasião se tornou um feriado
    para os negros no Texas e em Okla-
    homa, espalhando-se para o oeste
    durante a Grande Depressão confor-
    me muitos americanos negros mi-
    graram para a Califórnia.
    Há outros componentes dessa his-
    tória: em 1921, em Tulsa, Oklahoma,
    muitos lares e negócios pertencen-
    tes a negros de um subúrbio próspe-
    ro foram totalmente destruídos e
    centenas de pessoas foram mortas
    depois que um negro foi acusado de
    tentar estuprar uma branca em um
    elevador (não foi a suposta vítima
    que fez a acusação). Em meio aos
    protestos públicos ocorrendo con-
    tra o assassinato de George Floyd,
    há um mês, essa data foi escolhida
    por Trump para começar formal-
    mente sua campanha pela reelei-
    ção. Ele, então, alterou a data do


evento para o sábado, 20 – potencial-
mente dando novo fôlego à ameaça
contínua do coronavírus entre seus se-
guidores.
No Brasil também foi grande a agita-
ção no mês mais recente, enquanto Bol-
sonaro seguia tentando proteger a famí-
lia (e a si mesmo) de acusações ligadas
à campanha eleitoral e outras ilegalida-
des subsequentes. Ele buscou o apoio
de políticos “independentes” – com a
oferta de favores políticos – no Con-
gresso. Chegou até a demitir outro mi-
nistro da Educação, Abraham Wein-
traub, que difamou o Superior Tribu-
nal Federal, mas enviando-o a Washing-
ton como representante do Brasil no
Banco Mundial.
Agora, ele parece sinalizar novamen-
te com a paz em suas relações com o
Tribunal e o Congresso, mesmo supe-
rando Trump na incompetência diante
da pandemia do coronavírus que segue
aumentando descontroladamente. Há
mais: como Trump quer indicar o próxi-
mo diretor do Banco Interamericano,
ele desistiu de apresentar o candidato
que já tinha anunciado. É provável que
o Brasil compre também toda a cloro-

quina que Trump produziu a um alto
custo, totalmente desperdiçado, para
combater o vírus, que, infelizmente,
não é o da malária.
Mas, mesmo com ambos os países
sofrendo economicamente e com a
mortalidade desnecessária este ano,
três tendências positivas também fo-
ram observadas, merecendo mais des-
taque. São elas: a capacidade do federa-
lismo de compensar, em parte, erros
cometidos no mais alto escalão; o pa-
pel positivo do Judiciário garantindo
que a Justiça siga prevalecendo, apesar
de uma variedade de esforços para evi-
tar a aplicação de critérios razoáveis; o
reconhecimento mais amplo do prejuí-

zo de se buscar apressadamente ga-
nhos econômicos de curto prazo em
detrimento de uma estratégia mais
abrangente, de longo prazo, para lidar
com as relações raciais. As vidas ne-
gras importam, tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos, assim como as de
muitas outras minorias em muitos paí-
ses do mundo.
Os governos municipais e esta-
duais em ambos os países atuaram pa-
ra compensar em parte a desatenção
(ou pior) no nível nacional. Em al-
guns casos, ocorreram desvios. Mas,
no geral, ocorreram avanços na tenta-
tiva de garantir o fornecimento de

equipamentos essenciais e na capaci-
dade de identificar surtos de infecção
pela análise dos resultados de testes
amplos e baratos. Talvez sejam adota-
das mudanças constitucionais para
permitir que tal liberdade persista no
futuro. Em vez de regras eleitorais
que remetem a decisão ao colégio elei-
toral, o voto popular parece fazer
mais sentido hoje. E, no Brasil, áreas
com população maior podem garan-
tir que o número de partidos políticos
diminua, aumentando também seu
peso no Congresso.
O Judiciário desempenhou um pa-
pel impressionante nos EUA, frean-
do a paixão narcisista de Trump que
tenta controlar tudo. Juízes dos tribu-
nais distritais e de apelações impedi-
ram temporariamente ou até perma-
nentemente que as ações executivas
preferidas do presidente ocorres-
sem. Até a Suprema Corte surpreen-
deu na semana passada com duas de-
cisões inesperadas. Uma delas ratifi-
cou a legitimidade da comunidade
LGBTQI+, e a outra garantiu a perma-
nência das mais de 600 mil pessoas
enquadradas no DACA (menores tra-
zidos aos EUA pelos responsáveis).
Ambas tinham sido canceladas por
Trump. Agora, nas palavras do pró-
prio presidente, é necessário reele-
gê-lo para a formação de uma Corte
ainda mais conservadora.
No Brasil, o Supremo Tribunal en-
frentou a contínua interferência pes-
soal de Bolsonaro, e mais radicalmen-
te por parte do Grupo dos 300, cujas

lideranças de extrema-direita aca-
bam de ser detidas. Fogos de artifí-
cio chegaram a ser disparados perto
do Tribunal. Claramente, muitos
bolsonaristas desejam um Judiciá-
rio menos neutro. Eles defenderam
uma variedade de iniciativas para li-
mitar o envolvimento do Tribunal,
contrariando as esperanças do ex-
ministro da Justiça Sérgio Moro.
Mesmo durante a ditadura militar,
as decisões do Supremo Tribunal
nem sempre favoreciam o regime.
Isso nos traz à conclusão lógica.
Nos EUA, mesmo se a imigração for
limitada, haverá nas próximas déca-
das uma população branca que não
será majoritária. No Brasil, essa mu-
dança já ocorreu. A população de ori-
gem africana de ambos os países
emergiu da escravidão histórica no
fim do século 19.
Desde então, houve uma clara di-
ferença na escolaridade, na qualida-
de do ensino e na renda. Há muito a
ser feito. E tudo começa com um
investimento sério e um compro-
misso com as conquistas da educa-
ção em ambos os países, e não uma
retomada apressada da atividade
econômica antes que cheguem as
próximas eleições. / TRADUÇÃO DE
AUGUSTO CALIL

]
ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO,
PROFESSOR EMÉRITO NAS UNIVERSIDA-
DES DE COLUMBIA E DA CALIFÓRNIA EM
BERKELEY. ESCREVE MENSALMENTE

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Apesar das pressões, o
Judiciário no Brasil e EUA
mantém seu papel positivo

GM paralisa produção de alguns modelos. Pág. B5 }


Amanda Pupo / BRASÍLIA


Em meio à pandemia da Co-
vid-19, o setor portuário no
Brasil acabou registrando
um desempenho positivo. A
cabotagem (transporte ma-
rítimo entre portos dentro
do país) cresceu 11,3% entre ja-
neiro e abril ante igual perío-
do do ano passado, segundo


dados do Ministério da In-
fraestrutura. No total, o setor
transportou 60,8 milhões de
toneladas no período. “Mes-
mo com a crise, tivemos au-
mento. Mostra que é um se-
tor resiliente”, disse o minis-
tro da Infraestrutura, Tarcí-
sio de Freitas.
Segundo o ministério, o de-
sempenho está relacionado

principalmente ao crescimento
no transporte de granéis líqui-
dos e gasosos (10,1%) e a alta de
58,1% no transporte de granéis
sólidos no período.
Na movimentação geral, o se-
tor portuário também regis-
trou crescimento, com alta de
3,7% entre janeiro e abril. Em
toneladas, o volume transporta-
do foi de 340,4 milhões. Do to-

tal, 65,2% das cargas foram ope-
radas pelos portos privados e
34,8% pelos portos públicos. As-
sim como na cabotagem, a movi-
mentação de granéis líquidos e
gasosos contribuiu para o resul-
tado, após alta de 15,1%.
A safra deste ano, que deve
ser recorde, é um dos fatores
que colaboram para esse cená-
rio, junto do real desvalorizado.

“Tinha essa combinação de sa-
fra recorde, câmbio e logística
funcionando”, afirmou Freitas.
Para o ministro, a movimenta-
ção para os próximos meses vai
continuar com resultados posi-
tivos. O ministro pontuou que
demais países passam por um
processo de reabertura da eco-
nomia, o que deve aquecer mais
a demanda.

Sobre o boom da cabotagem,
Freitas lembra que o segmento
já vem apresentando cresci-
mentos consecutivos. Segundo
ele, o governo percebe um au-
mento da frota, com encomen-
das no setor, além do investi-
mento em terminais. “Ano pas-
sado também zeramos o impos-
to de embarcação para cabota-
gem”, lembrou o ministro.
O governo quer apresentar
ainda em junho ao Congresso
projeto de incentivo ao setor,
batizado de “BR do Mar”.

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Transporte entre portos teve alta de 11,3% este ano

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