O Estado de São Paulo (2020-06-24)

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A8 QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Internacional


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


WASHINGTON


A decisão do presidente dos
Estados Unidos, Donald
Trump, de suspender a emis-
são de novos vistos de traba-
lho temporários para estran-
geiros afetará brasileiros que
planejavam se mudar para o
país ainda neste ano. A esti-
mativa do governo america-
no é que 525 mil pessoas de di-
versas nacionalidades sejam
impedidas de entrar no país
com a nova regra, que vai vigo-
rar até 31 de dezembro.
O governo alega se tratar de
um esforço para reduzir a entra-
da de imigrantes à medida que o
desemprego avança. A regra blo-
queia a emissão de vistos tempo-
rários para diversas categorias de
profissionais, como funcioná-
rios de empresas de tecnologia,
pessoas com diploma universitá-
rio e pesquisadores, por exem-
plo. Restringe também a transfe-
rência de executivos estrangei-
ros e outros funcionários de em-
presas com operações nos EUA.
No ano fiscal de 2019, foram
emitidos cerca de 30 mil vistos
temporários para brasileiros nas
categorias atingidas pela lei, se-
gundo o Departamento de Esta-
do dos EUA. A emissão foi sus-
pensa para as categorias H-1B, H-
2B, H-4, que tratam de profissio-
nais qualificados e seus acompa-
nhantes, J-1 e J-2, sobre a transfe-
rência de profissionais de multi-
nacionais ou empresas com ope-
rações nos EUA e seus compa-
nheiros, e o L-1 e L-2, de pessoas
que vão estudar e se qualificar
nos EUA.
O processamento de vistos


nos consulados dos EUA no exte-
rior já caiu drasticamente em


  1. No mês passado, o país
    concedeu pouco mais de 40 mil
    vistos de turistas e outros visitan-
    tes de curto prazo – abaixo dos
    670 mil em janeiro. Em 22 de
    abril, Trump já havia determina-
    do o congelamento por 60 dias
    em várias categorias de vistos.
    Uma das pessoas afetadas é o
    pesquisador Paulo Laurence,
    que faz doutorado em distúr-
    bios do desenvolvimento na
    Universidade Mackenzie. Ele
    planeja desde 2016 uma viagem
    ao exterior para aprimorar seus
    estudos. Seu plano era ir para
    Luxemburgo, mas mudou de
    ideia após conseguir uma orien-
    tadora nos EUA.
    “A ideia era ter ido no começo
    de março, antes de nos preocu-
    parmos tanto com a pandemia
    aqui no Brasil. Mas a minha do-
    cumentação atrasou e tive de
    mudar para agosto”, conta o es-
    tudante, graduado em ciências
    biológicas. Agora, com o consu-
    lado americano fechado e as me-
    didas de Trump para barrar a
    imigração, a pesquisa de Lauren-
    ce pode ficar comprometida.
    “Como bolsista da Fapesp,
    posso viajar até seis meses an-


tes do término da minha bolsa,
então minha data-limite para ir
é 17 de dezembro. Se os EUA ba-
nirem a entrada de brasileiros
até o ano que vem, eu perderia a
bolsa”, lamenta o pesquisador.
Laurence não teria tempo hábil
de buscar outro país para abri-
gar sua pesquisa, e espera que a
Fapesp possa flexibilizar as re-
gras de intercâmbio nesse caso.
“Pelo menos minha orientado-
ra americana está interessada, a
gente tem discutido projetos. O
que estamos tentando ver é fa-
zer coisas remotamente.”
O professor de relações inter-
nacionais da FAAP Carlos Pog-
gio diz que a medida é inédita e
tem a ver com a linha adotada
pelo presidente desde que foi
eleito em 2016. “Trump não é só
contra a imigração ilegal, agora
mostrou que é contra a imigra-
ção como um todo.”
O próprio professor poderia
ter sido afetado pela nova regra.
Em 2018, fez um pós-doutorado
na Universidade de George-
town, em Washington, o que
não seria possível com a norma
em vigor. O professor Poggio
qualifica a medida, além de con-
servadora e nacionalista, como
“trumpista”. “Os EUA foram
um país construído a partir da
imigração”, diz. O pesquisador
lembra que discurso nacionalis-
ta ganha mais aderência em
meio a uma pandemia global.
Uma pesquisa do Washington
Post com a Universidade de Mary-
land publicada em maio mostrou
que 65% dos americanos apoiam
uma suspensão temporária da
imigração durante a pandemia. /
PAULO BERALDO e ANDRÉ CÁCERES

LONDRES


O primeiro-ministro do Reino
Unido, Boris Johnson, disse on-
tem que pubs, restaurantes e
hotéis poderão reabrir na Ingla-
terra no início de julho, quando
a regra de distanciamento so-
cial for reduzida a 1 metro, con-
tanto que “mitigações” este-


jam em vigor.
A economia britânica foi aba-
lada pelo isolamento adotado
para deter a disseminação da
covid-19 e, embora varejistas
não essenciais tenham recebi-
do permissão para reabrir na
semana passada, muitos negó-
cios, particularmente dos seto-
res de turismo e lazer, perma-

necem fechados.
Ao relaxar a regra de distan-
ciamento social de 2 metros pa-
ra um – contanto que existam
restrições, como o uso de más-
caras e de telas de proteção –,
Johnson disse que muitos ne-
gócios podem reabrir a partir
do dia 4.
“Dada a queda significativa

da prevalência do vírus, pode-
mos mudar a regra de distancia-
mento social de 2 metros a par-
tir de 4 de julho”, disse o premiê
ao Parlamento.
As mudanças permitirão que
duas famílias se reúnam em
qualquer situação e cabeleirei-
ros voltem a funcionar, assim
como a maioria dos locais de en-

tretenimento e atrações turísti-
cas, como parques temáticos,
mas clubes noturnos, acade-
mias em locais cobertos e pisci-
nas continuarão interditados.
Johnson disse que nem todas
as restrições podem ser suspen-
sas de uma vez, e as pessoas te-
rão de continuar sendo vigilan-
tes e recorrendo ao bom senso.

O Reino Unido tem uma das
maiores taxas de mortalidade
da covid-19 do mundo, mas o
número de casos vem diminu-
indo de forma constante nas
últimas semanas. Na segun-
da-feira, autoridades de saúde
relataram 15 novas mortes, o
menor aumento desde mea-
dos de março.
O número diário de óbitos
atingiu o pico em abril, quando
passou de mil durante nove
dias. / REUTERS

BRUXELAS


Ao reabrir suas fronteiras e eco-
nomias após dois meses de res-
trições pelo coronavírus, países
da União Europeia podem impe-
dir a entrada de americanos por-
que o país não conseguiu con-
trolar a doença em seu territó-
rio, segundo o New York Times.
O jornal informou ter tido
acesso a rascunhos de lista de


viajantes aceitáveis no bloco.
A medida colocaria, além dos
americanos, visitantes russos e
brasileiros como indesejáveis e
seria um duro golpe ao prestí-
gio dos EUA, que tem mais de
2,3 milhões de casos de covid-
e mais de 120 mil mortos.
Segundo o jornal americano,
atualmente, os países europeus
estão discutindo duas listas po-
tenciais de visitantes aceitá-
veis, com base em como as na-
ções estão se saindo com a pan-
demia de novo coronavírus. Am-
bas incluem a China, assim co-
mo Uganda, Cuba e Vietnã.
Visitantes dos Estados Uni-
dos e do restante do mundo fo-
ram proibidos de entrar na

União Europeia – com poucas
exceções, principalmente para
repatriações – desde meados de
março. Agora, uma decisão fi-
nal sobre a reabertura das fron-
teiras é esperada no início da
próxima semana, antes de sua
efetivação, em 1.º de julho.
A proibição aos americanos
por Bruxelas reflete parcialmen-
te a mudança de padrão da pan-
demia. Em março, quando a Eu-
ropa foi o epicentro, Trump en-
fureceu os líderes europeus
quando proibiu cidadãos da
maioria dos países da União Eu-
ropeia de viajar para os EUA.
Trump justificou a medida co-
mo sendo necessária para prote-
ger o país, que na época tinha
cerca de 1,1 mil casos de corona-
vírus e 38 mortes.
Hoje, a Europa restringiu a
pandemia em grande parte, en-
quanto os EUA, mais afetados,
viram surgir mais e mais surtos
de infecção. A proibição de en-
trada de americanos na União
Europeia teria implicações eco-
nômicas, culturais e geopolíti-

cas significativas. Milhões de tu-
ristas americanos visitam a Eu-
ropa todo verão. As viagens de
negócios são comuns, graças
aos enormes laços econômicos
entre os EUA e a UE.
A criação de uma lista co-
mum de estrangeiros que pos-
sam entrar no bloco faz parte de
um esforço da UE para reabrir
totalmente as fronteiras inter-
nas entre seus 27 Estados-mem-
bros. Viagens e comércio livres

entre os membros são um prin-
cípio central do bloco – que foi
bastante prejudicado durante a
pandemia.
O presidente Trump e seus
colegas russo e brasileiro, Vladi-
mir Putin e Jair Bolsonaro, se-
guiram o que os críticos cha-
mam de um caminho similar
em sua resposta à pandemia
que deixou os três países em
uma situação igualmente ruim:
foram desdenhosos no início

da crise, demoraram a respon-
der às indicações científicas e
viram um boom de casos em
seus países, enquanto outras
partes do mundo, principal-
mente na Europa e na Ásia, esta-
vam lentamente conseguindo
controlar seus surtos.
Países das listas preliminares
da UE foram selecionados com
base em uma combinação de cri-
térios epidemiológicos. A refe-
rência é o número médio na UE
de novas infecções – nos últi-
mos 14 dias – por 100 mil pes-
soas, que é atualmente de 16 no
bloco. O número comparável
para os EUA é 107, enquanto o
Brasil é de 190 e a Rússia, de 80,
segundo o levantamento do
New York Times.
Os Estados-membros da UE
não serão forçados a adotar a lis-
ta de países excluídos – que será
revisada periodicamente – , mas
as autoridades europeias aler-
tam que o não cumprimento por
um dos membros pode levar à
reintrodução do controle de
fronteiras dentro do bloco. / NYT

EUA suspendem


visto temporário e


afetam meio milhão


lBrasileiros

Pubs, hotéis e restaurantes reabrirão na Inglaterra


Academia da


Califórnia cria


baias individuais


Medida imposta por Trump atinge diversas categorias de profissionais qualificados e foi tomada, segundo o governo, para tentar conter


onda de demissões; para especialista, discurso nacionalista anti-imigração ganha adesão maior no país em meio à pandemia global


30 mil
vistos de trabalho temporários
para brasileiros foram
emitidos no ano fiscal de
2019 nas categorias atingidas
pela lei anunciada pelo
governo Trump

JAIME REINA / AFP

Cidadãos de países


cujos governos


perderam o controle


da pandemia não


entrarão no bloco


UE pode barrar


visitantes americanos,


russos e brasileiros


Reabertura. Turistas desembarcam em Palma de Mallorca

ETIENNE LAURENT/EFE

LOS ANGELES

Vários Estados dos EUA permi-
tiram a reabertura de lojas, res-
taurantes e academias em meio
à preocupação de garantir a se-
gurança de seus clientes. E o do-
no da academia Inspire South
Bay Fitness, em Redondo na Ca-
lifórnia, Peet Sapsin, sabia que
tinha de ser criativo para atrair
os frequentadores novamente.

Sapsin e a mulher dele cria-
ram cabines de plástico transpa-
rentes individuais, para que as
pessoas possam manter distan-
ciamento social e não espalhar
gotículas de suor pelo ambiente
da academia.
Ele disse que inicialmente
iam exigir que os clientes usas-
sem máscara o tempo todo,
mas perceberam que as pessoas
não conseguiam respirar direi-
to enquanto faziam exercícios.
Segundo Sapsin, várias ideias
foram colocadas no papel e de-
pois eles construíram seu pri-
meiro protótipo. “As cabines
são feitas com canos de PVC e
cortinas de plástico, uma alter-

nativa mais barata ao acrílico.”
O proprietário da academia dis-
se que a construção de todas as
cabines saiu por cerca de US$
400 (R$ 2 mil).
A academia é higienizada dia-
riamente, as janelas ficam aber-
tas e os ventiladores ligados pa-
ra que o ar circule. Cada cabine
tem todos os equipamentos ne-
cessários para a sequência de
exercícios, então a pessoa não
precisa ficar indo de um lado a
outro da academia para se exer-
citar. Dentro dos espaços tam-
bém há produtos desinfetan-
tes, para que as pessoas possam
se higienizar depois do treino,
disse Sapsin.

Criatividade. Jovem se exercita em cabine instalada em academia de Redondo Beach
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