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sabia que era capaz. E que Lhakpa me perdoaria
esta imprudência.
Segundo o GPS, a fenda de Irvine encontrava-
-se agora a poucos passos. Enquanto Lhakpa e os
outros olhavam em frente, segui por uma saliên-
cia estreita coberta por placas de calcário solto
que cobriam o solo como lajes de pavimento. Um
metro adiante, pisei uma delas, que escorregou
sob o meu pé, e vacilei.
“Tem cuidado”, gritou Ozturk.
Percorridos cerca de 30 metros, olhei para
baixo e vi uma vala pouco profunda numa fai-
xa rochosa íngreme na saliência de gelo abaixo.
Lembrava-me vagamente de ter visto esta carac-
terística geomorfológica nas fotografias do terre-
no captadas pelo drone. Seria por aqui o atalho
de Xu na Faixa Amarela?
OITO DIAS MAIS TARDE, a nossa equipa chegou
ao tecto do mundo e iniciou a descida. Lhakpa,
que seguia em último lugar no grupo, observou-
-me cuidadosamente enquanto eu estudava o
terreno e consultava frequentemente o meu GPS.
Quando me soltei da corda a 8.440 metros, ele
gritou: “Não, não, não!”
Fiquei parado, tentando decidir o que fazer.
Lá no fundo, eu sabia que era errado ir contra a
vontade de Lhakpa e que estava a comportar-me
como mais um ocidental egoísta. Se eu caísse ou
desaparecesse, Lhakpa teria a obrigação de ir
procurar-me. E se eu morresse, ele teria de ex-
plicar às autoridades chinesas o que acontecera.
Mais importante ainda: neste ponto da escala-
da, eu sentia que ele se preocupava genuina-
mente comigo. O sentimento era mútuo. Mas eu