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seu delta florestado com mangues encontrava-se
moribundo. Os lagos apresentavam-se poluídos
por efluentes e esgotos.
Fiquei impressionada com a forma como o
Indo, aclamado desde a Antiguidade em hinos
sânscritos sagrados, estava a ser tratado como re-
curso e deixara de ser objecto de reverência. To-
das as pessoas com quem travei conhecimento,
dos camponeses aos políticos, consideravam que
o rio era mal gerido. Falaram-me em projectos de
engenharia corruptos ou ineficientes, na partilha
desigual da água e nos ecossistemas destruídos
em nome do lucro.
Nessa época, poucas pessoas mencionavam
os efeitos do aquecimento global sobre o Indo.
Foi só em 2010 que a escala do problema se tor-
nou evidente devido às cheias dramáticas e não
Num artigo recentemente publicado na revista
“Nature”, um grupo internacional de cientistas
(com apoio da National Geographic Society) ana-
lisou os castelos de água dos glaciares de todo o
mundo. Segundo eles, o Indo é o mais crítico:
dado o “elevado stress hídrico de base e a limitada
eficácia do Estado” na região, “é improvável que o
Indo... consiga resistir a esta pressão.” O Paquistão
será o país mais afectado.
Entre 2003 e 2006, percorri os 3.200 quilóme-
tros do curso deste rio, desde o mar da Arábia à
nascente, no Tibete, enquanto fazia pesquisa para
o meu livro “Empires of the Indus”. Já nessa altura
era evidente que o rio se encontrava sob pressão.
O Indo definhara devido às exigências do regadio,
da indústria e da vida quotidiana. Em virtude das
represas e barragens, já não chegava ao mar e o