Adega - Edição 177 (2020-07)

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12 ADEGA >> Edição^177


Você começou estudando agricultura em Firenze, foi
estudar na UC Davis e, quando voltou, entrou para os
Carabinieri. Como foi isso?
Na Itália, até 1996, era obrigatório o serviço
militar. Só não fazia se você tinha um trabalho
fora, ou algo que não lhe permitisse fazer. Fiz
meus estudos, depois retornei para a Itália e ti-
nha vários amigos que fizeram o curso de ofi-
ciais de Carabinieri. É um corpo de segurança
muito estimado. Tive a possibilidade de entrar,
fiz um ano em meio na Arma dei Carabinieri
e me tornei oficial. Depois, prestei meu serviço
no aeroporto em Roma. Era um técnico, mas
algumas vezes peguei a minha pistola, pois é
“melhor um processo ruim que um bom fune-
ral”. Ao menos era isso o que diziam quando se
estava em serviço. Eu era jovem, tinha 24 anos,
tinha terminado de estudar. Foi uma belíssima
experiência, que carrego por toda a minha vida.
Foi útil, pois creio que se cresce com ordem.
Mesmo hoje, como presidente da Frescobaldi,
não posso fazer tudo o que quiser. É preciso
ordem na vida e, às vezes, deve-se fazer coisas
que não lhe agradam, porque foi estabelecido.
Creio que aprender logo isso e assumir sua res-
ponsabilidade é importante.

Como era o vinho de Frescobaldi
até os anos 1970 quando você era jovem?
Nos anos 1970, eu era ainda muito jovem, não
me lembro muito, mas me agradava muito a

parte do vinhedo, conhecer a vinha, e depois
tudo o que interagia com o mundo da ciência,
para tentar melhorar o que fazíamos.

E como era a Itália na época,
foi um período conturbado, não?
A Itália era um país muito pobre nos anos


  1. Era muito populoso e não havia traba-
    lho para todos. Era um país de poucas pos-
    sibilidades. Muitos tiveram força e coragem
    para emigrar. Os italianos querem ter uma
    vida boa, mas são grandes trabalhadores. E
    quando foram embora, foram pobres. Eles
    apreciavam os produtos italianos mais sim-
    ples, o vinho que custava pouco, o queijo
    que custava pouco, muitas vezes a cozinha
    italiana é simples (depois as coisas mudaram,
    mas a nossa tradição é simples). Nos anos 70,
    a Itália foi indicada como um país onde se
    poderia plantar vinha. A comunidade euro-
    peia disse: a Alemanha faz leite, a Espanha
    faz laranja, a França, grãos... A Itália o que
    faz? Óleo, vinho e algumas coisas pequenas.
    Mas nos anos 70 era ainda um país difícil.
    Estávamos em pleno período de terrorismo,
    havia os Brigate Rosse (Brigadas Vermelhas



  • organização de guerrilha comunista), com
    tantos problemas nesse sentido, depois a
    grande crise, com tanto vinho que precisava
    se transformar em álcool, e que foi incluído
    na gasolina. Depois, começaram a dar me-


“Já
provou
La Tour
alguma
vez?” “Não”.
“Lafite?”
“Não”. “Vinho
da Argentina?”
“Não”. “É uma
besta?” “Sou
jovem”. Então,
toda quarta-
feira, com seu
staff, degustava
os vinhos mais
importantes.
É aí que se
compreende
que há tantas
coisas boas e
se pode fazer
melhor

Família Frescobaldi, várias
gerações reunidas

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