Aero Magazine - Edição 314 (2020-07)

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Uma delas está na característica
química dos novos combustí-
veis. Aspectos moleculares mais
complexos – como densidade,
densidade energética, octanagem
e razão ar-combustível – podem
provocar grande alteração na re-
lação peso-potência dos motores.
Outro fator é a disponibilidade.
Para quem pretende viajar, a am-
plitude da rede de abastecimento
e o preço do combustível são
determinantes.
Diante desse contexto,
alguns fabricantes voltaram suas
atenções à possibilidade de uso
do querosene de aviação (Jet A1)
em motores aeronáuticos a pistão.
Nos últimos 15 anos, grandes
marcas como Austro Engine E4,
SMA/SAFRAN e Thielert Aircraft
Engines GmbH se dedicaram
ao desenvolvimento de modelos
com até 300 cavalos de potência.
Em sua maioria, são produtos de
origem europeia, já que, nos EUA,
disponibilidade e custo desses
dois combustíveis de aviação não
diferem muito entre si.
O mercado brasileiro também
busca alternativas, já que os preços
absurdos da Avgas e a consequen-
te redução dos pontos de abaste-
cimento estão causando enormes
problemas para os usuários de

aeronaves a pistão que precisam
se deslocar em território nacional
ou por países vizinhos da América
do Sul. Empresas de engenharia
ou construção civil, prospecção
mineral, administração de fazen-
das e grandes projetos rurais vêm
enfrentando dificuldades de aces-
so às regiões onde normalmente
estão os seus negócios.

O PROJETO
Visitamos um fabricante de ae-
ronaves do interior de São Paulo,
a Flyer Indústria Aeronáutica,
sediada em Sumaré, que também
está analisando a viabilidade de
implantar um motor movido a
Jet A1 na produção do RV-10:
um ultraleve desenvolvido pela
Vans Aircraft e vendido como
experimental em forma de kit.
O primeiro passo foi procurar
a Continental Airspace Tech-
nologies – hoje uma empresa
sino-americana –, que já possui
uma linha de motores aeronáuti-
cos para Jet A1. Muitos dos atuais
funcionários da Continental vie-
ram de uma fornecedora de longa
data dos brasileiros, a tradicional
fabricante de motores Lycoming,
o que facilitou a aproximação das
companhias. Em pouco tempo,
um acordo comercial entre as

duas empresas permitiu a remes-
sa de uma unidade do modelo
CD-265 para uso em testes em
uma aeronave RV-10. Só faltava
a hélice. Felizmente, a empresa
Hartzell já havia desenvolvido um
novo modelo de três pás, voltado
exclusivamente ao motor CD-
265, o que abreviou os preparati-
vos para o início dos testes.

AS DIFERENÇAS
Os motores aeronáuticos clássicos
movidos a Avgas possuem refri-
geração a ar, cilindros horizontais
opostos e sistemas de ignição por
centelha nas velas. Já a maio-
ria dos motores aeronáuticos
a querosene são refrigerados a
água, funcionam em ciclo diesel
e apresentam cilindros dispostos
em linha, como nos automóveis.
Ligeiramente diferente, o modelo
CD-265 da Continental conta
com quatro cilindros horizontais
opostos e grandes aletas para
liberação do calor. Na parte
superior, onde estão as chama-
das “cabeças de cilindro”, o calor
excessivo é dissipado pelo óleo
lubrificante, que viaja através de
um circuito próprio até um radia-
dor exclusivo.
Nos motores movidos a Avgas
com injeção direta de combustí-
vel (sem carburador), o ciclo de
geração de força começa quando
o pistão inicia seu percurso do
ponto mais baixo. No caminho
em direção ao cabeçote, o volume
inicial de ar vai sendo comprimido
cerca de nove vezes. Isso faz com
que as moléculas de ar se apro-
ximem entre si, concentrando o
oxigênio. Quando o pistão chega
ao ponto mais alto do circuito,
dois eventos ocorrem em frações
de segundo. Um bico injetor lança
gasolina vaporizada na câmera de

Carenagem do
motor redesenhada,
preservando boa
aerodinâmica

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