Banco Central do Brasil
Revista Veja/Nacional - Economia
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Mansueto Almeida
truncado com o Congresso tiveram impacto no
Ministério da Economia. Entre junho e julho,
deixaram a pasta nomes importantes como
Marcos Troyjo, secretário de Comércio Exterior,
e Mansueto Almeida, secretário do Tesouro. A
carta-renúncia de Rubem Novaes, presidente
do Banco do Brasil, divulgada na semana
passada, piorou a situação, pois no documento
ele deu a entender que havia perdido a
paciência com os questionamentos e diretrizes
impostas pelo Palácio do Planalto. Na equipe
que permanece, nomes como o do secretário
de Privatizações, Salim Mattar, volta e meia
são incluídos na lista das próximas baixas,
dada a resistência à venda de estatais como
Correios e Eletrobras, entre outras. Tarimbado,
Mattar costuma responder a essas
especulações com o argumento de que as
diretrizes seguem firmes e que a linha mestra
liberal voltará assim que a pandemia passar.
Pode até ser que isso aconteça, mas o jogo
não é mais o mesmo de dois anos atrás.
A verdade é que o presidente Bolsonaro já não
está mais tão interessado no encolhimento do
Estado como no começo de seu governo. Em
sua gaveta descansa, há sete meses, a
proposta de reforma administrativa, que se
propõe a reorganizar as carreiras do serviço
público e reduzir os gastos com funcionalismo
e estatais (veja Página Aberta na pág. 52). À
época em que o projeto foi apresentado, optou-
se pelo adiamento por receio de que o texto
poderia causar uma convulsão social
semelhante à que tomou o Chile em outubro de
- Na ocasião, um aumento nas passagens
de metrô de Santiago provocou violentos
protestos e levou o Exército às ruas e à
decretação do estado de emergência. Sem a
reforma administrativa no horizonte, optou-se
por um pacote de medidas infralegais, medidas
provisórias e outros instrumentos que
chamassem menos atenção como forma de
conter os gastos públicos. Entretanto, tais
paliativos não são suficientes, principalmente
com a eclosão da Covid-19.
Com os sinais vindos do Palácio do Planalto de
que o enxugamento do Estado não é
prioridade, o esforço imediato se voltou para
buscar formas de financiar o rombo fiscal
causado pela pandemia. E aí o liberalismo
tomou um duro golpe. A apresentação da
primeira parte da reforma tributária mostra que
isso virá por meio do aumento da carga de
impostos. Ou seja: em vez de cortar as
despesas, o governo preferiu aumentar sua
receita, penalizando setores da iniciativa
privada (especialmente o de serviços). “A
chance de uma reforma administrativa
abrangente ser aprovada hoje é remota. Os
políticos têm um limite a quantos problemas
podem responder de uma só vez, e a reforma
tributária e a pandemia já são mais do que o
Congresso pode aguentar”, diz Sérgio Praça,
doutor em ciência política pela USP.
Agora Guedes precisa conseguir resolver uma
equação que combine retomada econômica,
renda do brasileiro e o projeto de reeleição do
governo, sem quebrar o país e as empresas
que geram emprego. E a principal variável
desse cálculo é o Auxílio Emergencial, que
acaba em um mês. Segundo um levantamento
feito por Daniel Duque, pesquisador da FGV, o
Auxílio Emergencial significa hoje 97% da
renda da população mais pobre. O programa
mirava sustentar trabalhadores informais, mas
acertou em uma população que o próprio
Guedes define como “invisível”. Sem o
benefício assistencial e uma política potente de
emprego, a tendência desse grupo é voltar à
indigência. A manutenção do benefício,
entretanto, é impagável. Seriam mais de 600
bilhões de reais ao ano, caso se tornasse uma
política permanente.
Em meio à crise, cresce a pressão pela