National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

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Relevo de Horemheb com inimigos aprisionados.
Este general construiu um túmulo em Sakara,
mas foi sepultado como faraó em Tebas (Lucsor).
SERVAAS NEIJENS

Neste contexto, Sakara não conseguiu escapar
a saques frequentes e profundos. Além dos parti-
culares, também os grandes museus faziam fila
para recolher as antiguidades. Entre eles estava o
recém-criado Gabinete Arqueológico de Leiden.
O seu director, Caspar Reuvens, teve acesso a vá-
rios lotes importantes de peças artísticas e con-
seguiu obter três colecções das mãos do comer-
ciante flamengo Jean-Baptiste de Lescluze e dos
coleccionadores Maria Cimba e Giovanni d'Anas-
tasi. Em pouco tempo, o precursor do Museu de
Antiguidades de Leiden (Rijksmuseum van Ou-
dheden, ou RMO) garantiu um fundo egiptológi-
co mundialmente famoso.
Nestas três colecções, os achados provenientes
de Sakara têm papel relevante. Entre os artefac-
tos de destaque incluem-se, entre outras, uma
estátua dupla de Maia, o tesoureiro de Tutankha-
mon, e da sua esposa Merit, além de magníficas
jóias do general Djehuti. Posteriormente, tam-
bém foram adquiridos relevos do túmulo do ge-
neral Horemheb.
O local de descoberta destes objectos é fre-
quentemente identificado apenas de forma ge-
nérica: “Sakara” apenas, ou ainda mais indeter-
minado, “Egipto”. No início do século XIX, só o
objecto era importante e aquilo que este repre-


sentava, bem como a sua função, e o contexto em
que fora encontrado tinha pouca importância.
As múmias também eram vistas principalmen-
te como mercadoria. A dado momento, tinham
sido pessoas de carne e osso, mas agora eram
vistas acima de tudo como um troféu magnífico.

Estudo científico
Entretanto, crescia progressivamente o interesse
pela investigação arqueológica séria. Os caçado-
res de tesouros deram lugar aos egiptólogos. Em
1843, o cientista alemão Karl Richard Lepsius
organizou a elaboração do primeiro mapa minu-
cioso de Sakara. A necrópole pareceu um lugar
desolado para o seu topógrafo Georg Erbkam:
“A superfície é árida e deserta, nada mais do
que pilhas de entulho e sepulturas (...) Crânios
e outros ossos de homens e animais, restos de
múmias, tudo lançado em conjunto ( ...).” No en-
tanto, este autor produziu um mapa da necrópo-
le com pormenores sofisticados. Um ponto cha-
ma a atenção 130 anos depois: a localização do
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