National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

(Antfer) #1
OFICINA DE MUMIFICAÇÃO 65

RAMADAN HUSSEIN COMEÇOU a trabalhar em Sakara
em 2016, procurando túmulos escondidos no sub-
solo, numa camada correspondente a 600 antes de
Cristo. Os poços fundos foram maioritariamente
ignorados pelos primeiros egiptólogos, que frequen-
temente se concentravam em sepulturas dos perío-
dos mais antigos da história egípcia. O trabalho
desta equipa figurou numa recente série de quatro
episódios do canal National Geographic, intitulada
“O Reino das Múmias”. Ao inspeccionar uma área
que não era examinada desde o fim do século XIX,
Ramadan e a sua equipa descobriram um poço
escavado no leito rochoso repleto de areia e detritos.
Depois de retirarem 38 toneladas de areia, os
arqueólogos chegaram ao fundo do poço com
12 metros de comprimento e encontraram uma
espaçosa e ampla câmara. Também esta se apre-
sentava cheia de areia e rochas que tiveram de
ser removidas. Entre o entulho, havia milhares


de fragmentos de cerâmica: foram todos cuida-
dosamente documentados e preservados. A me-
ticulosa escavação demorou meses.
Por fim, quando a câmara ficou vazia, a equi-
pa descobriu que não se tratava de um túmulo.
A divisão tinha uma área elevada, semelhante
a uma mesa, e canais ocos cortados no leito ro-
choso junto da base de uma das paredes. Num
dos cantos, havia uma bacia do tamanho de um
barril. Estava repleta de carvão, cinzas e areia es-
cura. Um túnel mais antigo – parte de uma rede
de passagens semelhante a alvéolos existente na
rocha sob Sakara – permitia a circulação de ar
fresco no espaço.
Os vestígios encontrados sugeriram aos arqueó-
logos que a câmara fora uma oficina de mumifica-
ção, com um queimador de incenso de potência
industrial, um sistema de ventilação e canais de
drenagem para retirar os fluidos corporais.

ILUSTRAÇÃO: SHADOW INDUSTRIES

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